A Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o território palestino ocupado e Israel concluiu que Israel é responsável por atos de genocídio contra a população palestina na Faixa de Gaza.
O documento foi publicado nesta 3ª feira (16.set.2025), em contexto de intensificação das operações militares israelenses em Gaza, onde cerca de 1 milhão de pessoas enfrentam fome confirmada, segundo dados da ONU.
“A Comissão constata que Israel é responsável pela prática de genocídio em Gaza”, afirmou Navi Pillay, presidente do grupo de inquérito, durante entrevista a jornalistas em Genebra.
Segundo ela, há uma clara intenção de destruir os palestinos em Gaza, conforme os critérios estabelecidos na Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, de 1948.
“Condenamos a escalada mortal da ofensiva militar israelense que vimos no fim de semana na Cidade de Gaza, com dezenas de mortos e feridos. Isso está tendo um impacto devastador sobre civis que já enfrentam sofrimento e fome“, disse Stéphane Dujarric, porta-voz de António Guterres, secretário-geral da ONU.
A investigação da Comissão, que começou depois dos ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, indica que as forças israelenses cometeram 4 dos 5 atos genocidas definidos pela convenção internacional:
Segundo o porta-voz da ONU, os ataques mais recentes agravaram ainda mais a situação humanitária em Gaza.
“Nos últimos 4 dias, 10 prédios da UNRWA [Agência da ONU para Refugiados Palestinos no Oriente Médio] foram atingidos na cidade de Gaza, incluindo 7 escolas e duas clínicas usadas como abrigos para milhares de deslocados. Civis exaustos e aterrorizados estão sendo forçados novamente a fugir do norte de Gaza“, afirmou Dujarric.
Os comissários, que não são funcionários da ONU, mas indicados pelo Conselho de Direitos Humanos, responsabilizam as mais altas autoridades civis e militares de Israel pelos crimes. “A única conclusão plausível diante da natureza das operações em Gaza é que existe intenção genocida”, reforçou Chris Sidoti, integrante da comissão.
O embaixador israelense em Genebra, Danny Hanon, rejeitou veementemente o relatório, qualificando-o como “tendencioso” e dizendo que a comissão “promove uma narrativa a serviço do Hamas”. Segundo ele, a perspectiva de genocídio não se sustenta e tem como objetivo “demonizar o Estado de Israel”.
Além dos atos diretamente ligados ao genocídio, o relatório também destaca a destruição sistemática de hospitais, escolas e infraestrutura civil essencial. A comissão indica ainda prática de violência sexual e de gênero contra palestinos, bem como o “alvo direto” contra crianças.
A ONU diz que Israel desrespeita as ordens da Corte Internacional de Justiça, que havia determinado, em março de 2024, a garantia de assistência humanitária em escala a Gaza.
“O silêncio da comunidade internacional diante desta campanha genocida equivale à cumplicidade”, disse Pillay.
Em um desdobramento paralelo, a ONU também reagiu a um ataque israelense recente contra a liderança política do Hamas em Doha, no Catar. A ação, que matou 6 pessoas, foi amplamente condenada por violar a soberania do país e representar uma ameaça à segurança regional, segundo a chefe de Assuntos Políticos da ONU, Rosemary DiCarlo.
O secretário-geral António Guterres classificou o ataque como uma “violação flagrante da integridade territorial do Catar” e alertou para o risco de colapso das negociações em curso para o fim do conflito e a libertação de reféns.