A deu início aos preparativos para exumar os restos mortais de 796 bebês e crianças que morreram em um antigo abrigo para mães solteiras na cidade de Tuam, no oeste do país. Os primeiros trabalhos de delimitação da área começaram nesta segunda-feira (16/6), e as escavações devem ter início em julho.
A mobilização ocorre 11 anos após a confirmação de que os corpos estavam enterrados em uma fossa comum, no terreno onde funcionava o lar Santa Maria do Bom Socorro, administrado por uma ordem de freiras católicas até 1972.
O lar recebia que não eram casadas, em meio à forte repressão moral e social contra mães solteiras na Irlanda católica da época. Muitas eram enviadas pela própria família ou pela Igreja para dar à luz longe dos olhos da sociedade. Após o parto, eram frequentemente forçadas a entregar os filhos para adoção, muitas vezes sem consentimento.

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1 de 4 Santuário dedicado às crianças que perderam suas vidas no lar religioso Santa Maria do Bom Socorro Charles McQuillan/Getty Images
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2 de 4 Lista com o nome e idade de crianças que morreram no local Charles McQuillan/Getty Images
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3 de 4 Irlanda inicia exumação de 796 bebês achados em fossa de lar religioso Charles McQuillan/Getty Images
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4 de 4 Memorial dedicado às crianças que perderam suas vidas no lar religioso Santa Maria do Bom Socorro Charles McQuillan/Getty Images
Ossadas foram descobertas por historiadora
A localização das ossadas foi revelada em 2014, após anos de pesquisa da historiadora Catherine Corless. Ela levantou registros que apontavam para mortes de crianças, entre recém-nascidos e nove anos de idade. A descoberta apontou que os ocorreram em uma antiga fossa séptica da instituição.
Ao longo de sua investigação, Corless enfrentou resistência. “Muitas pessoas em posição de autoridade queriam apenas erguer um monumento e esquecer o que aconteceu ali”, relatou ao The Irish Times. Ela também afirmou que era comum ouvir que estava “dando má fama” à cidade e à Igreja.
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Mesmo assim, a historiadora continuou as buscas, motivada pelo desejo de garantir um reconhecimento digno às crianças. “Saber que aqueles bebês estavam em um sistema de esgoto me deu forças para seguir”, disse.

Catherine Corless
Comissão de investigação
A divulgação do caso levou o governo irlandês a abrir uma comissão de investigação sobre os chamados “lares para mães e bebês”. O relatório final, publicado em 2021, apontou altos índices de mortalidade infantil nessas instituições, com cerca de 9 mil mortes registradas entre as quase 60 mil crianças que passaram pelos 18 abrigos investigados.
Segundo o diretor da operação de exumação, Daniel MacSweeney, os trabalhos devem durar cerca de dois anos. Ele definiu a tarefa como “única e extremamente complexa”, por envolver a identificação dos restos mortais e o devido tratamento às famílias envolvidas.
Os atrasos no início da exumação foram causados pela espera pela conclusão da investigação oficial. As instituições como o lar de Tuam funcionaram em parceria entre o Estado irlandês e a Igreja Católica, que cuidavam de mulheres grávidas fora do casamento. Após o parto, as mães eram, na maioria das vezes, separadas dos filhos, que podiam ser destinados à adoção.
Para familiares das vítimas e defensores de direitos humanos, a abertura da fossa representa um passo importante no reconhecimento do sofrimento vivido por milhares de mulheres e crianças ao longo de décadas.
“É uma tentativa de corrigir um erro que nunca deveria ter ocorrido”, afirmou Anna Corrigan, cujos dois irmãos, John e William Dolan, podem estar enterrados no local.