• Sábado, 21 de junho de 2025

Governo vê convergência com evangélicos, mas tem dificuldades

Planalto reconhece barreira entre militância e religiosos; Lula não foi à Marcha para Jesus, mas enviou carta elogiosa.

Uma ala do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia que há grande convergência entra a pauta de esquerda, com preocupação social, e a dos evangélicos. Apesar disso, o entendimento é que os petistas não conseguem superar uma barreira entre a militância e o grupo religioso.

Essa análise dentro do governo se consolidou depois de o PT, partido de Lula, lançar um curso para sua militância voltado para religiosos pela FPA (Fundação Perseu Abramo). 

O presidente tem dificuldades para se comunicar com esse público desde o início do mandato. Depois da tentativa petista, a avaliação foi de que ainda há um estranhamento na hora de tentar se conectar com os evangélicos.

Também seria preciso fazer uma campanha com a base de apoio do governo para massificar o entendimento, na opinião da administração petista, de que há convergências com esse grupo religioso. A desconfiança de ambos os lados vem da proximidade dos evangélicos com a direita e apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).

O curso do PT, batizado de “Fé e Democracia para Evangélicos e Evangélicas” e coordenado pela deputada Benedita da Silva (PT-RJ), teve a participação de líderes de diversas denominações evangélicas. Ainda assim, foi visto só como um 1º passo pelo governo.

Lula e sua comunicação já tentaram se aproximar desse grupo religioso desde que voltou ao Planalto, mas sem conseguir avançar muitas casas nesse tabuleiro. Ainda em 2024, o governo lançou a campanha “Fé no Brasil”, que não engrenou para muito além dos vídeos publicitários.

A última tentativa do presidente para alcançar os evangélicos foi uma carta elogiosa à Marcha para Jesus, realizada na 5ª feira (19.jun.2025), em São Paulo. O petista disse se emocionar como cristão com a manifestação de fé e justificou sua ausência no evento. Leia aqui a íntegra da carta ou no fim do post (PDF – 27 kB).

“Infelizmente, compromissos de governo me impedem de estar presente fisicamente nesta edição. Mas, pedi ao ministro-chefe da AGU, Jorge Messias, que represente a mim e ao nosso governo”, afirmou. O presidente, entretanto, passou o feriado de Corpus Christi em Brasília sem eventos oficiais na agenda.

Lula, que em 2009 sancionou a lei que colocou a celebração no calendário oficial do Brasil, nunca foi à marcha. Neste ano, disse que “compromissos de governo” o impediram de comparecer. A agenda da Presidência na 5ª feira (19.jun) indica que o petista não tinha “compromissos”.

Em 2023, Messias foi vaiado na marcha ao falar do presidente. Em 2024, acolhido pelo apóstolo Estevam Hernandes, passou ileso. Nesta edição de 2025 também não foi alvo de vaias.

Assista ao discurso de Messias (2min36s):

A rejeição ao governo Lula entre católicos e evangélicos atingiu o maior patamar desde o início do governo. No caso do 1º grupo, a desaprovação superou, numericamente, pela 1ª vez nesse grupo populacional, os que declaram aprovar a gestão petista.

Dados da pesquisa PoderData, realizada de 31 de maio a 2 de junho de 2025, mostram que 48% dos católicos dizem desaprovar a administração de Lula, enquanto 45% desses eleitores afirmam aprovar.

Apesar da vantagem numérica da taxa negativa, os percentuais estão em empate técnico dentro da margem de erro, de 3,6 pontos percentuais para esse estrato do levantamento.

O cenário entre eleitores que se declaram evangélicos sempre foi mais negativo para o atual presidente. As curvas da trajetória desde a posse mostram uma variação também desfavorável a Lula.

Nesse grupo, 70% dos entrevistados dizem “desaprovar” o governo. Eram 56% em janeiro de 2023 –uma alta de 14 pontos percentuais.

A taxa de aprovação nesse grupo oscilou dentro da margem de erro, de 4 pontos percentuais, mas também de maneira desfavorável ao governo. Representava 31% no início do mandato petista e, agora, está em 25%. Recuou 6 pontos percentuais.

Por considerar grupos específicos, a margem de erro entre os fiéis dessas 2 religiões é maior do que a da pesquisa integral. Entre os católicos, a margem de erro é de 3,6 pontos percentuais. Entre os evangélicos, é de 4 pontos percentuais. 

O importante, nesse caso, é olhar a trajetória das curvas –que ao longo do tempo mostram que o governo Lula vem, de fato, perdendo apoio nesses 2 grupos.

A pesquisa foi realizada pelo PoderData, empresa do grupo Poder360 Jornalismo, com recursos próprios. Os dados foram coletados de 31 de maio a 2 de junho de 2025, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram 2.500 entrevistas em 218 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O intervalo de confiança é de 95%.

Para chegar a 2.500 entrevistas que preencham proporcionalmente (conforme aparecem na sociedade) os grupos por sexo, idade, renda, escolaridade e localização geográfica, o PoderData faz dezenas de milhares de telefonemas. 

Muitas vezes, são mais de 100 mil ligações até que sejam encontrados os entrevistados que representem de forma fiel o conjunto da população. Saiba mais sobre a metodologia lendo este texto.

Por: Poder360

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