• Segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Exportação de gado vivo bate recordes e entra na mira do Congresso com proposta de taxação

Com quase 1 milhão de animais embarcados em 2025, Brasil consolida liderança mundial na exportação de gado vivo, mas enfrenta pressão de ONGs, projetos de lei no Congresso e questionamentos sobre o modelo adotado

Com quase 1 milhão de animais embarcados em 2025, Brasil consolida liderança mundial na exportação de gado vivo, mas enfrenta pressão de ONGs, projetos de lei no Congresso e questionamentos sobre o modelo adotado O Brasil caminha para encerrar 2025 com um marco inédito na pecuária nacional: pela primeira vez, o país deve ultrapassar 1 milhão de bovinos vivos exportados em um único ano, consolidando-se como o maior fornecedor global desse tipo de comércio. O avanço é impulsionado pela forte demanda de países do Oriente Médio e do Norte da África, pela estrutura logística montada nos últimos anos — especialmente na Região Norte — e pela capacidade brasileira de atender protocolos sanitários exigentes quanto a exportação de gado vivo. Ao mesmo tempo em que os números impressionam, o crescimento acelerado da exportação de gado vivo intensificou um debate nacional envolvendo bem-estar animal, riscos ambientais, impactos econômicos e o futuro da cadeia da carne no Brasil, tema que ganhou destaque recente em audiência pública na Câmara dos Deputados.
  • Clique aqui para seguir o canal do CompreRural no Whatsapp
  • Onde a terra está mais valorizada no Brasil e quais municípios lideram as buscas
    Ano histórico para o “gado em pé” Dados compilados pela Agrifatto mostram que, entre janeiro e novembro de 2025, o Brasil exportou 964,2 mil bovinos vivos, volume 11,9% superior ao registrado no mesmo período de 2024. Mantido o ritmo dos embarques, o país deve ultrapassar a marca simbólica de 1 milhão de cabeças até o fechamento de dezembro, estabelecendo um recorde absoluto para o setor . window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});O protagonismo fica por conta do Pará, responsável por 54,72% de todo o volume exportado em 2025, posição sustentada pela proximidade com portos adaptados, oferta de animais jovens e padronizados e custos logísticos competitivos. Na sequência aparece o Rio Grande do Sul, com 21,19%, enquanto outros estados ampliam gradualmente sua participação. Do lado da demanda, o mercado permanece concentrado: Turquia, Egito, Marrocos e Iraque absorveram 82,9% dos embarques brasileiros no ano. Em novembro, mês decisivo para o recorde, os embarques somaram 113,03 mil cabeças, um salto de quase 90% em relação a outubro, gerando US$ 115,58 milhões em receita, com preço médio de US$ 82,29 por arroba . Como funciona a exportação de gado vivo Apesar do crescimento, o setor opera sob regras sanitárias e logísticas rigorosas. No Brasil, as empresas precisam cumprir exigências do Ministério da Agricultura e também dos países importadores. Entre os principais pontos estão:
  • Quarentena pré-embarque, em estruturas credenciadas;
  • Identificação individual dos animais, com brincos ou chips eletrônicos;
  • Inspeções sanitárias e documentação específica, conforme o destino;
  • Protocolos de bem-estar durante o transporte, ao menos no papel.
  • Casos recentes, no entanto, mostraram que falhas nesse processo ainda ocorrem. O navio Spiridon II, por exemplo, enfrentou recusas para desembarque por problemas de identificação e questões sanitárias, ficando semanas à deriva antes de conseguir autorização para atracar, o que reacendeu o alerta sobre fiscalização e controle . Denúncias de maus-tratos e riscos ambientais O crescimento do comércio também trouxe críticas contundentes de organizações de proteção animal. Em audiência pública realizada em Brasília, representantes da ONG Mercy For Animals relataram condições precárias no transporte marítimo, incluindo superlotação, escassez de água e alimento, acúmulo de fezes e urina, além de estresse físico e psicológico severo nos animais . Segundo as entidades, o ambiente artificial dos navios, associado a altas temperaturas e longos períodos de viagem, deprime o sistema imunológico dos bovinos e favorece doenças infecciosas. Há ainda preocupação com riscos ambientais, como poluição do ar nos municípios portuários e o uso de embarcações antigas, não projetadas originalmente para transporte de animais vivos. Esses impactos já levaram cidades como Santos (SP) e Belém (PA) a se retirarem do circuito de exportação de gado vivo, segundo relatos apresentados na audiência . Congresso discute taxação e restrições A pressão social chegou ao Legislativo. Dois projetos de lei tramitam no Congresso Nacional com o objetivo de desestimular a exportação de animais vivos por meio da tributação. Um deles propõe retirar isenções de ICMS previstas na Lei Kandir, enquanto outro prevê a incidência de imposto específico sobre a exportação de bovinos vivos . No Executivo, a Diretoria de Proteção Animal do Ministério do Meio Ambiente também tem se posicionado de forma crítica ao modelo, apontando riscos de retrocessos legais em propostas que tentam flexibilizar a legislação ambiental e penal relacionada à proteção dos animais. Tendência global, pressão das ONGs e impacto econômico O debate brasileiro ocorre em um contexto internacional de mudança. Países como Índia, Nova Zelândia, Reino Unido, Alemanha e Luxemburgo já proibiram ou restringiram severamente a exportação marítima de animais vivos. A Austrália, tradicional líder nesse mercado, anunciou o fim da prática para ovinos, enquanto Argentina, Equador e Uruguai discutem ou já adotaram medidas semelhantes . Estudos citados pelas ONGs apontam que a substituição da exportação de animais vivos pela venda de carne processada poderia gerar até R$ 1,9 bilhão em valor agregado, criar mais de 7 mil empregos formais e elevar a arrecadação tributária em até R$ 610 milhões no Brasil. Entre o recorde e o impasse O avanço da exportação de gado vivo em 2025 coloca o Brasil diante de um impasse estratégico. De um lado, o setor celebra recordes históricos, diversificação de mercados e novas oportunidades para produtores, especialmente nas regiões Norte e Sul. De outro, crescem as pressões políticas, sociais e ambientais, que questionam a sustentabilidade do modelo no médio e longo prazo. Com números cada vez maiores e um debate cada vez mais intenso, o futuro do comércio de gado em pé no Brasil deve seguir no centro das discussões do agronegócio em 2026.
    Por: Redação

    Artigos Relacionados: