• Sábado, 15 de março de 2025

Expansão rodoviária desacelera nos últimos 40 anos

Crescimento das rodovias pavimentadas federais foi de 43% no período, ritmo inferior ao das décadas anteriores.

A infraestrutura rodoviária do Brasil teve um avanço tímido em 40 anos de regime democrático. O país chegou a 66.520 km de rodovias federais pavimentadas em 2024 ante os 46.455 km registrados em 1985. A alta no período foi 43,2%. A expansão durante os 21 anos da ditadura militar (1964-1985) teve crescimento muito maior, de 282,1%. 

Os dados de 1964 a 2011 são do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Já as informações até 2024 vieram de um painel da CNT (Confederação Nacional do Transporte).

Eis a evolução da extensão rodoviária nos 40 anos de democracia:

Os números expressivos durante o comando das Forças Armadas (como mostra o infográfico mais abaixo) podem ser explicados por alguns fatores particulares. O governo militar começou com 12.157 km de rodovias pavimentadas –tamanho relativamente pequeno. Assim, qualquer expansão seria naturalmente mais significativa em relação a uma extensão maior.

Os militares também tinham uma concentração maior dos recursos orçamentários em relação aos governos democráticos. Isso se dava pela característica do regime autoritário, que tinha o controle total do poder orçamentário.

No infográfico a seguir, a evolução da rodovias de 1964 a 1985:

Já o período posterior à ditadura foi marcado pelas concessões rodoviárias. O governo transferiu à iniciativa privada a gestão e a manutenção de rodovias mediante cobrança de pedágios. O objetivo era melhorar a infraestrutura e reduzir custos públicos.

No entanto, a democracia ficou marcado pela falta de investimentos no setor de infraestrutura rodoviária, o que dificulta até hoje a expansão do sistema pavimentado. 

Segundo um estudo da entidade privada CNT, o gasto com manutenção de estradas é um dos motivos para a menor construção de rodovias durante a democracia.

O levantamento mostra que 78,6% do investimento público federal em rodovias foram aplicados em reparações em 2023. Já a construção de novas rodovias representou só 7,4% do total.

“O aumento da frota de veículos tem intensificado o uso da infraestrutura rodoviária. No entanto, grande parte dos pavimentos rodoviários foram dimensionados e executados há anos, utilizando-se de métodos empíricos e com a vida útil já defasada”, diz o texto. Leia a íntegra (PDF – 13 MB).

Engenheiro civil, ex-senador e ex-ministro dos Transportes no governo de Dilma Rousseff (PT), César Borges afirma que os recursos do período democrático são mais dispersos na comparação com o regime militar. Atualmente, precisam passar para outros níveis do poder antes de chegarem ao investimento final. 

Borges cita como exemplo as emendas de congressistas, recursos do Orçamento da União que deputados e senadores destinam aos seus Estados. 

“No regime militar, era uma economia mais planejada, mais centralizada no Executivo, que era forte, porque é ditadura”, diz o ex-ministro. 

De acordo com Borges, era mais simples para os militares alocarem o dinheiro necessário para investir mais na infraestrutura e expandir as rodovias. 

Ainda assim, muitas das obras de infraestrutura no período tiveram suspeitas de corrupção durante as construções. Em entrevista ao Poder360 para a série especial Brasil à Frente, lançada ao final de 2022, o professor Pedro Henrique Pedreira Campos, da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), doutor em História pela UFF (Universidade Federal Fluminense), relatou alguns episódios.

Segundo ele, as empresas estavam “fartamente envolvidas” em irregularidades –pagamento de propinas, fraudes em licitações, acertos prévios de concorrência e aditivos durante as obras.

“Não tinham os mecanismos de controle, por parte de um Estado de Direito típico: imprensa livre fiscalizando os processos, Ministério Público atuando, Polícia Federal independente, oposição parlamentar podendo fiscalizar”, declarou.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) fez um mapeamento rodoviário do Brasil em 1960 e em 2021. Compare as imagens na galeria abaixo.

Arraste a linha azul para ver o antes e depois (imagens do IBGE):

Houve redução na extensão da rede ferroviária do Brasil durante os governos militares. Pelo custo mais baixo, priorizou-se a expansão das vias rodoviárias federais. O movimento foi na contramão de outros países.

A malha passou de 34.262 km em 1964 para 29.777 km em 1985, considerando as linhas de trem ainda em tráfego. A queda foi de 13,1%.

Os números são de uma série do IBGE que já está descontinuada. Foram disponibilizados em um acervo do órgão. 

Leia a evolução da malha ferroviária do Brasil:

“O governo federal, na época do regime militar, criou a rede ferroviária federal e não investiu, e foi se deteriorando toda a malha ferroviária que tínhamos”, disse Borges.

Mesmo com a democratização, não foram realizados novos investimentos nos suportes para linhas de trem.  

Não há registros históricos consolidados sobre a extensão das ferrovias do Brasil a cada ano do regime democrático. O dado mais confiável está em um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) publicado em 2024, que reporta uma malha de 30.535 km.

Comparado ao dado do IBGE, a expansão em quase 40 anos foi de 2,5% –próximo da insignificância. Além disso, o Tribunal afirma que 56% dessas linhas têm um fluxo baixo inferior a 2 trens por dia. Eis a íntegra (PDF – 14 MB).

“Seja ele rodoviário, ferroviário, portuário, hidroviário, aeroviário, temos que investir muito nessa área”, afirma Borges. “Aí o país se integra, as economias são complementares de um Estado com o outro e o país todo se desenvolve.”

O Poder360 preparou uma série especial de reportagens sobre os 40 anos de democracia no Brasil. Leia abaixo:

Leia as entrevistas da série especial:

Por: Poder360

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