EUA devem cortar juros pela 1ª vez sob Trump. Como isso afeta o Brasil
Mercado aposta em queda da taxa americana nesta quarta-feira (17/9). Ela tende a ser positiva para o mercado brasileiro, mas existem riscos
Se há uma unanimidade no mercado global, ela reside na previsão de um corte nos dos Estados Unidos nesta quarta-feira (17/10). A dúvida é se a queda será pontual ou marcará o início do afrouxamento da política monetária do país, com novas reduções neste ano. Em qualquer um desses cenários, contudo, analistas afirmam que o movimento da taxa americana terá forte impacto no Brasil. É provável que essa repercussão seja positiva, mas os riscos existem.
E quais serão os possíveis efeitos benéficos do corte de juros nos EUA no Brasil? A lista de consequências, em linhas gerais, inclui os seguintes pontos (veja abaixo explicações sobre cada item do quadro):
Avanço da Bolsa: a tendência é de maior fluxo de capitais para ações, beneficiando setores ligados ao consumo e ao crédito.
Câmbio: valorização do real frente ao dólar diante do maior diferencial de juros, embora riscos internos e externos sigam no radar.
Inflação: com a tendência de queda do dólar, há menor pressão sobre os preços de diversos produtos como os que utilizam insumos importados.
Renda fixa: oportunidade em títulos longos.
Chances elevadas
A decisão sobre os juros nos EUA será anunciada na tarde desta quarta-feira, depois da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (, o banco central americano). A seguir, no início da noite, o Comitê de Política Monetária (), do Banco Central (), também divulgará o valor da taxa básica nacional, a Selic.
Nos Estados Unidos, dados da ferramenta FedWatch, do , dono da maior bolsa de derivativos do planeta, mostram que as possibilidades de corte de 0,25 ponto percentual (p.p.) dos juros, fixados desde dezembro no intervalo entre 4,25% e 4,50%, são de 96%. As chances de uma queda maior, de 0,5 p.p., atingem 4%. Ou seja, a redução é tida como uma barbada, a questão é o tamanho do tombo e se ele vai perdurar ao longo deste ano.
No Brasil, a situação é diferente. Se há unanimidade, ela aponta para a manutenção da Selic no atual patamar de 15% ao ano, o maior nível desde 2006.
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Diferencial de juros
E daí, observam especialistas, vem o primeiro benefício para o mercado brasileiro com a queda dos juros nos EUA. Trata-se do aumento do “diferencial de juros” entre os dois países, tornando mais atrativos, por exemplo, os investimentos tanto em renda variável, caso das ações negociadas na Bolsa, como em renda fixa no Brasil.
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, observa que o mesmo diferencial de juros favorece uma operação conhecida no mercado como “carry trade“. Ela consiste numa estratégia de investimento em que o investidor toma emprestado dinheiro numa moeda com juros baixos e investe noutra moeda com juros mais altos, lucrando com a diferença.
De acordo com um relatório produzido pelo Banco Daycoval, o aumento da disparidade entre as taxas dos EUA e do Brasil também “pode ser determinante para a entrada de capitais estrangeiros” no país, algo que resultaria na valorização do real frente ao dólar.
André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, segue a mesma linha. “A queda dos juros nos EUA e a manutenção da Selic em 15% aumenta a diferença de juros entre Brasil e EUA e acaba atraindo capital para cá, o que impacta positivamente a cotação da moeda brasileira”, observa.
Segundo Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, “o início de corte de juros pelo Fed não tem uma relação mecânica com a decisão de juros no Brasil”. “O que acaba acontecendo é um benefício por aumentar o diferencial de juros que estimula uma apreciação da nossa moeda por esse canal, podendo ajudar no processo inflacionário doméstico. No final do dia, tende a antecipar a discussão sobre o início do corte de juros por aqui”, avalia.
Assim como Lima, André Galhardo também destaca que a redução da taxa de juros nos EUA pode abrir espaço “para que o Copom faça o ajuste em 2025, iniciando o ciclo de corte de juros ainda neste ano”. “Se há uma redução da taxa de juros americana, isso abre espaço para que o Copom também opere um corte nos juros, ainda que com alguma defasagem, em dezembro de 2025 ou em janeiro de 2026.”
Dólar e inflação
Daí, mais um benefício do corte dos juros americanos. A provável queda do dólar tende a ser benéfica para a inflação brasileira, uma vez que, por exemplo, reduz custos de importação de insumos.
“De modo geral, além de dar suporte adicional para que o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] inicie os cortes de juros, abre caminho para um processo de valorização da moeda brasileira. A Selic vai ficar em 15% pelo menos até novembro. Ainda que ocorra um corte em dezembro, a Selic permanecerá em 15% pelos próximos três meses. É tempo suficiente para garantir esse processo de valorização do real”, explica Galhardo.
Renda fixa
Paulo Henrique Oliveira, estrategista de Investimentos do Banco Daycoval, acrescenta que investimentos em renda fixa também podem se beneficiar nesse processo. “Historicamente, ativos de risco costumam performar melhor nessas mudanças de ciclos monetários”, diz. Mas, para ele, pode ser vantajoso alongar o tempo médio que um investidor leva para receber de volta o capital investido (o “duration”, no jargão do mercado).
Existem riscos
A economista Paula Zogbi, no entanto, considera que a decisão sobre o provável corte de juros nos EUA também implica riscos. “Em primeiro lugar, o mercado já antecipa com bastante entusiasmo um ciclo de cortes que não terminaria agora: as apostas são de pelo menos 3 reduções e juros pelo Fomc ainda em 2025”, afirma. “Sinalizações contrárias a isso podem minar o entusiasmo e gerar o efeito de ‘sobe no boato, cai no fato’.”
Há mais. “Domesticamente, temos os riscos de novas sanções dos EUA contra o Brasil”, diz a economista. “O que aumenta o nível de incertezas e pode limitar os fluxos de dólares.”
Por: Metrópoles