Álbum Doce Amargo mostra tragédia em Mariana - Ilustração João Marcos Mendonça/Divulgação
João e sua família são os protagonistas de Doce Amargo. É por meio do que eles viveram que vamos acompanhando as dificuldades que as pessoas passaram. Quando a lama chegou a Valadares, o autor começou a anotar tudo o que estava acontecendo.>> Siga o canal da Agência Brasil no WhatsApp As anotações do quadrinista se transformaram em roteiro e desenho e pelas páginas vamos seguindo o drama de sua família, mas também o das pessoas ao redor. Um dos méritos do álbum é mostrar de perto as dificuldades dos valadarenses. Enquanto TVs, rádios, portais e jornais mostravam o macro da tragédia, a HQ coloca o leitor em contato com os moradores.“Nós estávamos vivendo algo histórico, por isso comecei a fazer um diário”, diz o autor. E continua: “o que me despertou para aquilo foi uma cena do caminhão do Exército distribuindo água. Foi um cenário de guerra”.
Com desenho ágil – com clara influência do mestre Ziraldo – Doce Amargo mira o público jovem-adulto, mas com o cuidado de que possa ser entendido por qualquer criança que venha a ler. Isso é feito por meio da arte, mas também do roteiro. O quadrinista faz questão de ser bem didático e dá informações passo a passo dos desdobramentos do desastre em sua cidade. Uma coisa vai encadeando na outra de maneira simples e direta, para todo mundo entender o tamanho do problema. Doce Amargo revela muito nitidamente o que a degradação do meio ambiente – e da água – pode causar às pessoas. Com o rio todo poluído e a impossibilidade de utilizar aquela fonte de abastecimento, vários problemas sociais passaram a surgir. A HQ mostra para o leitor a morte dos peixes e o mau cheiro que isso causava, a dificuldade para encontrar água, a quase proibição de usar a descarga do banheiro, a dificuldade para tomar banho, entre outros problemas.“Fiz o registro para contar o que eu estava vivendo. Quis mostrar o que não tinha nas TVs e na mídia”, revela João. Para o autor, um desastre desse nível “mostra números, cifras e queria deixar registrada a noção humana da tragédia. Era quase um apocalipse”.
No álbum, o leitor tem a dimensão do que os valadarenses viveram naquele tempo, porque o quadrinista revela tudo como se fosse uma reportagem. Relacionadas“Foi difícil [fazer este álbum]. Difícil reviver tudo aquilo para fazer a HQ. Levei nove anos para finalizar o roteiro. Aconteceram muitas coisas e não daria para colocar tudo, então fiz um recorte do primeiro ano da crise. Quis dar uma ideia de como foi o primeiro ano”, conta João.





