• Segunda-feira, 2 de junho de 2025

Conheça a cabra Angorá, uma raça milenar que transforma pelo em ouro

Com origem bíblica e presença global, a cabra produz o mohair — uma das fibras mais valiosas do mundo — e se destaca pela rusticidade, beleza e rentabilidade até em áreas improdutivas.

Com origem bíblica e presença global, a cabra produz o mohair — uma das fibras mais valiosas do mundo — e se destaca pela rusticidade, beleza e rentabilidade até em áreas improdutivas. Originária do distrito de Angorá, na Ásia Menor — região que hoje corresponde à Turquia —, a cabra Angorá é uma das raças caprinas mais antigas e valorizadas da história da pecuária mundial. Referências ao seu pelo, o mohair, remontam à época de Moisés, situando sua existência entre os anos 1571 e 1451 a.C., conforme apontado pela publicação Angora Goat Mohair Industry, do USDA, em 1929. Mas foi somente no início do século XIX que o valor comercial da raça explodiu, com o mohair se tornando um produto desejado no mercado têxtil internacional. Para suprir essa demanda, os criadores turcos recorreram a cruzamentos com cabras comuns, a fim de aumentar a produtividade da fibra, ainda que à custa da pureza genética original da raça.
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    Ao longo dos séculos, a cabra Angorá foi distribuída para diferentes continentes. Um dos primeiros registros de exportação se deu por volta de 1554, quando Carlos V levou um casal da raça para a Europa. Tentativas posteriores na Espanha e França, nos séculos XVIII e XIX, não prosperaram. Foi na África do Sul, a partir de 1838, que a produção de mohair encontrou ambiente favorável, consolidando o país como um dos três maiores produtores mundiais, ao lado dos Estados Unidos e da própria Turquia. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Mohair: uma fibra nobre e versátil A principal riqueza da cabra Angorá é o mohair, uma fibra comparável à lã, porém mais lisa, com menos escamas e que não feltra com facilidade. Seu brilho, elasticidade e capacidade de absorver corantes fazem dela matéria-prima valiosa para estofados, pelúcias e tecidos duráveis de alto padrão.
    Foto: Divulgação
    Uma cabra média nos EUA produz cerca de 2,4 kg de mohair por tosquia, sendo geralmente tosquiada duas vezes por ano. O comprimento da fibra varia entre 12 e 15 cm. Os pelos mais valorizados são obtidos das cabras jovens, o que impulsiona a importância da seleção por fertilidade no manejo da raça. Apesar de o valor do mohair oscilar no mercado, seus preços costumam ser satisfatórios mesmo em épocas de baixa. Em períodos de crise, os pelos finos – mais caros – continuam tendo demanda, o que garante rentabilidade ao produtor. As cabras são classificadas em dois tipos principais, conforme o padrão do pelo:
  • Tipo C (anelado): mohair em cachos apertados, mais fino e valorizado.
  • Tipo B (mecha lisa): pelo mais ondulado e volumoso.
  • Foto: Divulgação
    Essa variação influencia o destino comercial da fibra, com aplicações específicas para cada tipo. A cabra Angorá é consideravelmente menor do que ovelhas e outras raças caprinas. Os machos adultos pesam entre 82 e 102 kg, enquanto as fêmeas variam de 32 a 50 kg. Seu porte, contudo, não interfere na qualidade do mohair produzido. Fisicamente, o animal apresenta dorso reto, costelas arqueadas e corpo profundo. Os machos possuem chifres espiralados que chegam a 60 cm, enquanto as fêmeas têm chifres menores e com espiral sutil. As orelhas são longas e caídas, conferindo ao animal um aspecto pitoresco. As cabras Angorá se destacam por seu hábito de pastejo vertical — apoiam-se nas patas traseiras para alcançar vegetação mais alta. Essa característica as torna ideais para áreas com vegetação arbustiva, onde ovelhas teriam desempenho limitado. Isso permite que sejam criadas com sucesso em terras consideradas impróprias para lavoura, gerando retorno econômico mesmo em solos pobres.
    Foto: Divulgação
    A raça não é altamente prolífica: partos duplos não são comuns. Em rebanhos de grande extensão, as taxas de parição variam de 60 a 70%, podendo chegar a mais de 100% em sistemas bem manejados. Apesar da rusticidade dos adultos, os filhotes são bastante sensíveis a frio e umidade nos primeiros dias. Após a tosquia, chuvas frias representam risco grave, exigindo cuidados rigorosos. Parasitas internos também afetam o Angorá mais do que outras raças. Durante muito tempo, a carne da cabra Angorá foi comercializada como carne de ovelha de baixa qualidade. No entanto, há um movimento crescente para valorizar sua carne sob o nome de “chevon”. Embora as carcaças sejam menores e o rendimento inferior ao de ovinos bem alimentados, a carne de cabras jovens em bom estado é considerada saborosa, chegando a ser tratada como iguaria em algumas culturas. A cabra Angorá é um exemplo notável de como um animal de pequeno porte pode gerar alto valor agregado, especialmente com o mohair. Apesar de exigente em cuidados sanitários e manejo, a raça oferece oportunidade para sistemas produtivos sustentáveis, adaptando-se bem a áreas de difícil aproveitamento agrícola. No cenário global, continua sendo peça-chave na indústria têxtil de fibras nobres e uma alternativa viável também para a produção de carne diferenciada.
    Por: Redação

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