• Quinta-feira, 31 de julho de 2025

Comitê do Fed tem 2 votos contrários pela 1ª vez em mais de 30 anos

Tanto Michelle Bowman quanto Christopher Waller foram indicados ao comitê do Fed pelo presidente dos EUA, Donald Trump

A decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do (Fed, o Banco Central norte-americano) , não foi unânime. Pela primeira vez em mais de 30 anos, desde 1993, o colegiado teve dois votos contrários à decisão majoritária. O Fomc é composto por 12 integrantes. Essa foi a quinta reunião consecutiva na qual a autoridade monetária norte-americana manteve inalterada a taxa de juros. Antes das cinco últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos. Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária. Quem são os dissidentes do Fed Os dois membros do comitê do Fed que não acompanharam a decisão tomada pela autoridade monetária foram a vice-presidente de Supervisão, Michelle Bowman, e o governador Christopher Waller – um dos nomes especulados como possível sucessor de Jerome Powell, atual presidente do Fed e cujo mandato termina em maio de 2026. Tanto Bowman quanto Waller foram indicados ao comitê pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o maior crítico da política monetária conduzida por Powell à frente do Fed. Por outro lado, votaram pela manutenção dos juros no patamar atual o presidente do Fed, Jerome Powell, e outros oito integrantes: John C. Williams, Michael S. Barr, Susan Collins, Lisa Cook, Austan Goolsbee, Philip Jefferson, Alberto Musalem e Jeffrey R. Schmid. Adriana Kugler, que estava ausente, foi a única abstenção. O Fomc é composto por 12 membros: os sete integrantes do Conselho de Governadores do Sistema do Federal Reserve, o presidente do Federal Reserve de Nova York e quatro dos onze presidentes restantes do Federal Reserve, que cumprem mandatos de um ano em regime de rodízio. Leia também Mandato de Powell termina em maio de 2026 A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos. Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935. Análise Segundo Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, os dois votos contrários à manutenção dos juros chamaram atenção na decisão do Fed. “Dois membros do comitê votaram por iniciar o ciclo de cortes de juros: Michelle Bowman e Christopher Waller, que já haviam se pronunciado a favor do movimento publicamente. É a primeira vez desde 1993 que dois membros do comitê votam contra a decisão acordada, em meio a um ambiente de pressão política por cortes de juros que gera volatilidade à medida que coloca em dúvida a capacidade do comitê de manter decisões técnicas”, avalia. “Por outro lado, a discussão pode ter um efeito positivo no mercado ao indicar a proximidade do ciclo de afrouxamento, que já é esperado para a partir de setembro.” André Valério, economista sênior do Inter sobre o Fed, afirma que, “embora as tarifas ainda não estejam impactando a economia americana de forma significativa, nota-se sinais de aceleração na inflação de bens, que pode se intensificar nos próximos meses, especialmente a partir do dia 1º, quando uma nova rodada de tarifas entrará em vigor”. “Ao mesmo tempo, podemos ver fragilidades no mercado de trabalho e na atividade econômica em geral se acumulando, o que demandaria um apoio da política monetária. Entretanto, a incerteza acerca do ambiente macroeconômico permanece elevada, com riscos para ambos os lados do mandato do banco central, impedindo alguma medida proativa por parte do Fed”, diz o economista. Segundo Valério, “chama atenção na decisão de hoje o dissenso entre os membros do comitê, com dois diretores votando pela redução na taxa de juros”. “Isso pode ser interpretado como um sinal ao governo Trump, dado que um desses diretores é um dos cotados para substituir o atual presidente, Jerome Powell, a partir de maio de 2026”, observa. “De modo geral, o comunicado é bastante vago a respeito dos próximos passos. Mantemos a perspectiva de que o Fed poderá retomar o ciclo de cortes na próxima reunião, em setembro. Até lá, teremos mais dados sobre o mercado de trabalho e a inflação.” Enrico Gazola, economista e sócio-fundador da Nero Consultoria, diz que “o comunicado pós-reunião substitui a avaliação anterior de expansão ‘sólida’ por um crescimento que ‘moderou’, ao mesmo tempo que reafirma a resiliência do mercado de trabalho e reconhece que a incerteza permanece elevada”. “É nessa escolha cuidadosa de palavras que está o centro da mensagem: o Fed reconhece que a economia está em transição, mas ainda não vê fundamentos robustos o suficiente para justificar cortes imediatos”, aponta. “Em suma, o comunicado oficial empurra a decisão para os próximos dados, mas a sinalização é inequívoca: o Fed continua mais preocupado com o risco de reacender expectativas inflacionárias do que em perder o timing do corte. Cabe agora a Powell deixar claro se essa precaução é apenas uma retórica de proteção institucional ou um indicativo de que o primeiro corte está mais longe do que os mercados e o presidente gostariam de acreditar”, conclui.
Por: Metrópoles

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