O presidente dos Estados Unidos, , embarca nesta sexta-feira (24/10) para uma série de compromissos diplomáticos na Ásia, em um momento em que tenta reafirmar a liderança norte-americana no cenário global. A agenda do republicano inclui passagens por Malásia, Japão e Coreia do Sul e pode contar ainda com o primeiro encontro com o presidente brasileiro, , durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Kuala Lumpur.
A viagem é considerada de alto risco político. Além de reuniões bilaterais com líderes regionais, Trump terá o primeiro encontro presencial do segundo mandato com o . O objetivo é conter a crescente influência de Pequim no Sudeste Asiático e reabrir canais de diálogo após meses de atritos comerciais.
O possível encontro com Lula, em meio às recentes tensões entre , torna a viagem do republicano ainda mais delicada.
Segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, o presidente deixará Washington às 23h desta sexta-feira rumo à Malásia, onde participa do jantar de abertura da cúpula da Asean no domingo (26/10).
A agenda de domingo do republicano é marcada por reuniões bilaterais com o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, o primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet, e o primeiro-ministro da Tailândia, Anutin Charnvirakul. O dia será encerrado com um jantar de trabalho com líderes da Asean e representantes dos Estados Unidos.
Há expectativa que Trump encontre com Lula no domingo. No entanto, o compromisso não consta na agenda do republicano, divulgada pela Casa Branca na noite dessa quinta-feira (23/10).
Na segunda-feira, ele segue para o Japão, onde se reunirá com a nova primeira-ministra do país, Sanae Takaichi, e depois para Busan, na Coreia do Sul, para encontros com o presidente Lee Jae-myung e líderes empresariais da Apec.
Possível encontro com Lula
Nos bastidores, assessores dos dois governos consideram reunião entre Trump e Lula à margem da cúpula. O encontro pode servir para reaproximar ambos os países após o tarifaço imposto pelos EUA sobre produtos brasileiros, que gerou atritos diplomáticos.
Lula deve insistir na retirada das tarifas e propor novas parcerias comerciais. A avaliação no Planalto é que uma conversa direta pode destravar pautas econômicas e abrir espaço para cooperação em áreas como energia, tecnologia e meio ambiente.
Além da diplomacia, a cúpula da Asean será uma vitrine para o Brasil se consolidar como interlocutor entre o Sul Global e as grandes potências.
Na agenda de Lula estão previstas reuniões com o primeiro-ministro da Índia, , e empresários asiáticos interessados em investir no país, deixando um espaço disponível para um possível encontro com o republicano.
Ao Metrópoles o historiador Roberto Moll, da Universidade Federal Fluminense (UFF), analisou que existe boa expectativa para o encontro entre os líderes ser realizado, entretanto, a cautela deve se sobressair.
Para Moll, Trump já demonstrou em outras ocasiões a tendência de usar encontros diplomáticos como forma de pressão, recorrendo até a estratégias de desinformação. Apesar disso, o pesquisador avalia que Lula e a diplomacia brasileira estão preparados para lidar com o republicano e que dificilmente o governo aceitará negociar qualquer ponto que comprometa a soberania nacional.
“Acredito que busquem negociar as tarifas em consonância com ampliação de parcerias comerciais, possibilidades de exploração de terras raras e atuação das Big Techs. Mas acredito que o governo brasileiro, mesmo no que se refere a esses temas, não vai abrir mão da soberania”, avaliou.
Novela de Trump e Lula
Recentemente os presidentes realizaram videoconferência de cerca de 30 minutos. Ambos descreveram o contato como “muito bom”, discutindo comércio, tarifas e sanções ao Brasil.
Em agosto, Trump impôs tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, afetando principalmente o setor pecuário. Lula destacou que medidas unilaterais prejudicam a soberania nacional e podem gerar retaliações comerciais.
Lula tem reforçado parcerias com países asiáticos, como Indonésia, e busca diversificar aliados, além de ampliar o comércio e investimentos. A aproximação com Trump é vista como tentativa de recuperar espaço comercial perdido.
Trump quer fortalecer a relação com o Brasil, aproveitando a viagem à Ásia para conter influências externas, especialmente da China, e proteger setores estratégicos, como terras raras e petróleo.

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1 de 6 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Evan Vucci - Pool / Getty Images
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2 de 6 O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa com altos líderes militares na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico Andrew Harnik/Getty Images
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3 de 6 Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Alex Wong/Getty Imagens
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4 de 6 Lula e o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto Ricardo Stuckert / PR
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5 de 6 O presidente Lula KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo
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6 de 6 O presidente Lula KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo
O papel da ASEAN
Criada em 1967, a Associação das Nações do Sudeste Asiático é um dos principais blocos de diálogo e comércio da região, reunindo dez países, entre eles Malásia, Indonésia e Vietnã
Com o avanço chinês, a presença de Trump reforça o interesse de Washington em retomar espaço estratégico. Para o Brasil, a participação na cúpula é parte de uma política de diversificação de mercados e fortalecimento de laços com o Oriente.
Como Trump pode lidar com Brasil e China
Nos últimos vinte anos, Pequim ampliou significativamente os investimentos em infraestrutura, energia e mineração na região, ocupando espaços que antes eram hegemonizados por Washington.
Segundo o o historiador Roberto Moll, a China se consolidou como um polo alternativo do capital transnacional, oferecendo um modelo que confronta o liberalismo econômico tradicional defendido pelos Estados Unidos.
Essa competição explicaria, segundo ele, a tentativa de Trump de restringir a influência chinesa em setores estratégicos, como o de terras raras e o de petróleo, buscando condições mais favoráveis para os interesses norte-americanos.
Nesse cenário, o Brasil se vê em uma posição sensível. De um lado, enfrenta tarifas impostas pelo governo Trump, de outro, é pressionado a equilibrar a relação com Washington e, ao mesmo tempo, preservar a cooperação com Pequim.