A 51ª Cúpula do G7 foi encerrada na 3ª feira (17.jun.2025) sem o principal chefe de Estado do grupo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com a ausência do republicano, que seria o protagonista da reunião, a cimeira ficou esvaziada e as negociações de acordos comerciais foram adiadas.
Trump voltou aos EUA na 2ª feira (16.jun) por causa da escalada do conflito entre Israel e Irã. Segundo Vito Villar, especialista em Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados, o G7 já passa por um processo de enfraquecimento recente e a saída de Trump “cortou pela metade as conversas” neste ano.
“O G7 tem perdido um pouco da força nos últimos anos. […] A gente observou o crescimento do G20, que é um fórum um pouco mais amplo e com participação mais horizontal de outros países. O G7 servia um pouco menos como um fórum econômico e mais como um âmbito de concertação política”, afirmou o consultor.
Para Villar, o fórum foi “cooptado” nos últimos anos pela discussão sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022. O grupo dos 7 tem uma posição unânime de apoio a Kiev desde a cúpula daquele ano, mas o especialista diz que os fóruns “dificilmente trazem consequência práticas” para o conflito.
O internacionalista diz que a presença do presidente da Rússia, Vladimir Putin, na cúpula traria benefícios mínimos para a discussão. O líder russo foi expulso do então G8 em 2014 depois que o país invadiu e anexou a região da Crimeia, então sob controle ucraniano.
Trump disse reiteradas vezes que se a presença de Putin no grupo fosse mantida talvez não houvesse a guerra na Ucrânia, mas Villar discorda. Ele lembra que, apesar da saída de Moscou do grupo dos países mais industrializados do mundo, a Europa e os EUA não deixaram de ter diálogo direto com o Kremlin antes da invasão à Ucrânia em 2022. Na visão do entrevistado, a participação de Putin poderia melhorar o diálogo, mas o presidente russo dificilmente voltaria atrás na incursão.
Além de um fórum político, o G7 é também um fórum econômico. E a ausência de Trump minou a importância da cimeira no Canadá. O presidente dos Estados Unidos, que anunciou em 2 de abril a aplicação de tarifas comerciais sobre todos seus parceiros econômicos, seria o ponto focal das negociações de acordos comerciais bilaterais com Japão, União Europeia e Canadá. O Reino Unido já selou o tratado –detalhado no único dia de Trump na cúpula.
Vito Villar analisa que a participação curta de Trump na reunião deu indícios de que os acordos propostos estavam aquém do esperado pela Casa Branca. “As reuniões com a União Europeia não foram muito frutíferas. Com Japão, muito duras”, afirma.
O especialista disse que a saída antes do previsto do presidente dos EUA também adia as discussões e disse que Trump pode voltar a adiar a aplicação das tarifas se entender que os países estão dispostos a negociar. Vence em 9 de julho a trégua de 90 dias anunciada por Washington para a aplicação das taxas acima de 10%.
Outro debate adiado foi sobre transição energética, um dos temas principais da cimeira em Kananaskis. “A gente tinha a perspectiva de um debate mais acalorado em relação à transição energética e segurança energética, mas foi algo que não foi severamente avançado”, diz Villar.
Por fim, o internacionalista diz concordar com a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que o G7 perdeu relevância frente ao G20 por ter menos “densidade humana e econômica”. Segundo o especialista, “o mundo é outro” em relação à época em que o grupo dos países mais ricos foi criado, na 1ª metade dos anos 1970.
“Quando o G7 foi criado boa parte das nações do mundo ainda estava em processo de independência. Hoje há nações muito desenvolvidas ou com poderio econômico e militar que não fazem parte do G7”, diz Vito Villar.