A queda do voo 2283 da Voepass que matou 62 pessoas em Vinhedo (SP) completa 1 ano neste sábado (9.ago.2025) e ainda não há uma conclusão sobre o que, de fato, causou o acidente. Desde o dia da queda, os trabalhos técnicos de investigação são conduzidos pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão da Força Aérea Brasileira.
Um relatório preliminar divulgado pela entidade em setembro de 2024 indica que a principal hipótese sobre a causa do acidente foi o acúmulo de gelo nas asas do modelo ATR 72-500 operado pela Voepass. À época, o Cenipa afirmou que ainda seriam necessárias mais investigações para dizer o que, de fato, motivou a queda.
Nos minutos que antecederam a descida, o avião atravessou um sistema de turbulência com nuvens supercongeladas de até -40ºC. No ofício da aviação, essas são condições consideradas propícias à formação de gelo nas estruturas das aeronaves.
Segundo o documento, o sistema de degelo foi ligado e desligado diversas vezes durante o voo, o que indicou mau funcionamento. O co-piloto, Humberto de Campos Alencar e Silva, afirmou 2 minutos antes da queda que havia “bastante gelo” no avião. As gravações mostram que ele não deu mais explicações depois disso.
O avião, que decolou de Cascavel (PR) às 11h56 em direção a Guarulhos (SP), atingiu 5.000 metros de altitude às 12h20 e permaneceu assim até às 13h18, quando os pilotos comunicaram à torre já em São Paulo que estavam no ponto ideal de descida.
Às 13h21, a tripulação fez a última comunicação com órgãos externos de controle. Em seguida, iniciou uma curva à direita, ingressou em uma altitude anormal e, na sequência, entrou em “parafuso chato” até se chocar com o solo às 13h22 e 30 segundos.
Ainda de acordo com o relatório do Cenipa, os pilotos que conduziam o avião não declararam emergência em nenhum momento.
Relatos de um ex-funcionário da Voepass publicados no G1 no início deste mês indicam que o avião acidentado tinha um problema no sistema de degelo. Essa falha, porém, havia sido omitida do diário de bordo técnico.
Segundo o ex-funcionário, que trabalhava no setor de manutenção da empresa e presenciou a última revisão do ATR 72-500, o piloto que utilizou o avião na noite anterior ao acidente relatou que havia enfrentado problemas com o sistema de degelo.
A falha deveria impedir o avião de decolar de Cascavel, mas não apareceu no TLB (diário de bordo técnico), documento oficial que registra todas as informações relevantes sobre uma aeronave e suas operações, incluindo observações sobre a manutenção.
Segundo a Voepass, a aeronave do voo 2283 estava com o CVA (Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade) válido e com todos os sistemas requeridos em funcionamento. A informação foi confirmada pelo relatório do Cenipa de setembro de 2024.
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) decretou em 11 de março a suspensão das operações da Voepass depois de ter constatado que uma série de falhas de segurança identificadas nos aviões da empresa durante inspeções não foram corrigidas.
Em 24 de junho, a agência cassou o COA (Certificado de Operador Aéreo) da Passaredo Transportes Aéreos, principal empresa do grupo Voepass. A decisão proibiu a companhia de operar voos comerciais por tempo indeterminado, sem possibilidade de recurso.
Na ocasião, a Anac afirmou que “a estrutura da empresa deixou de oferecer garantias de que eventuais falhas seriam tratadas antes de comprometer a segurança das operações“.
A Comissão Externa da Câmara dos Deputados criada para acompanhar a investigação do acidente votará na 4ª feira (13.ago.2025) o parecer final do relator Padovani (União Brasil-PR).
O relatório do deputado afirma que as condições meteorológicas foram determinantes para o acidente e que os pilotos não seguiram os procedimentos recomendados diante do clima adverso, não tinham treinamento adequado e fizeram uma manobra que colocou a aeronave em risco.
Padovani critica também a atuação da Anac na condução do caso. Segundo o congressista, a atitude da agência foi “no mínimo hesitante” e pouco esclarecedora “em diversas situações”, como nas investigações de denúncias trabalhistas contra a Voepass. De 1999 a 2024, a companhia recebeu 160 denúncias deste tipo. Em agosto de 2024, foi denunciada ao Ministério Público do Trabalho por irregularidades nas jornadas de funcionários.
O texto do relator termina com o PL 5.033 de 2024, que propõe a criação de um comitê de cooperação entre instituições públicas e privadas para atendimento a familiares de vítimas de acidentes aéreos. A iniciativa seria coordenada pela Anac.
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