Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) descobriram que de um sapo natural da Mata Atlântica tem potencial para ser usada em medicamentos destinados à prevenção e o tratamento de doenças vasculares, como hipertensão arterial, disfunções endoteliais e até mesmo .
O Brachycephalus ephippium tem o tamanho e cor alaranjada ou amarela-cromo como características que chamam atenção. Esses sapos medem apenas de 1,25 cm a 1,97 cm e são bastante abundantes na Mata Atlântica da Serra do Mar e da Mantiqueira. Eles carregam uma toxina que pode ser útil para o tratamento de milhares de pessoas.
“Sintetizamos essa molécula e vimos o potencial protetor cardiovascular. Estou muito empolgado porque é uma substância relativamente fácil de produzir”, conta o coordenador do projeto, José Roberto Leite, professor da Faculdade de Medicina/UnB e sócio fundador da startup People&Science.
Os resultados animadores foram publicados no , na última quinta-feira (19/6). O projeto é fruto de uma parceria internacional, que reuniu instituições do Brasil, Dinamarca, Portugal e Venezuela. Um dos destaques é a participação da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.
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Doenças cardiovasculares
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo.
Só no Brasil, estima-se que ao menos 380 mil pessoas percam a vida todos os anos devido a essas enfermidades, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
As principais doenças cardiovasculares são: infarto, insuficiência cardíaca, doença valvar, acidente vascular cerebral (AVC), arritmia cardíaca e doença arterial periférica.
A maioria delas se desenvolve de forma silenciosa e pode passar anos sem ser tratada por desconhecimento.
Os principais sinais de alerta são: sensação de pressão e dor no peito; dor, se presente, nos braços, pescoço, mandíbula, costas, parte inferior do tórax, abdômen superior ou estômago.
Outros sintomas incluem a sensação constante de falta de ar, tontura, fadiga, náusea, vômito, suor frio, especialmente durante a noite, e inchaços.
Veneno de sapo com potencial cardiovascular
A descoberta da substância, batizada de BPP-BrachyNH₂, foi feita em 2015, durante uma expedição na Mata Atlântida. Os primeiros estudos mostraram que o peptídeo tem ação vascular parecida com a de medicamentos para pressão alta já conhecidos.
No novo estudo, os pesquisadores em ratos para explorar ainda mais seus benefícios. Eles descobriram que a substância promove o relaxamento de vasos sanguíneos em artérias mesentéricas — responsáveis por fornecer sangue oxigenado e nutrientes para os órgãos dos animais.
O mecanismo ocorre por meio da interação com a enzima argininosuccinato sintase (AsS), fundamental para a produção de óxido nítrico, molécula com reconhecida função vasodilatadora no organismo humano.
Os pesquisadores explicam que a substância se liga de forma eficaz à enzima AsS, favorecendo o reaproveitamento de L-citrulina e aumentando a disponibilidade de L-arginina, principal substrato para a produção de óxido nítrico. Esse processo é essencial para manter o tônus vascular, regular a pressão arterial e evitar episódios isquêmicos.
“Com os novos estudos em modelos animais, observamos efeitos vasculares adicionais, incluindo ações protetoras sobre o endotélio. Esses achados ampliam significativamente o potencial do composto, que agora desponta como um candidato promissor na prevenção de eventos isquêmicos, como o AVC”, explica Leite.

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1 de 10 O acidente vascular cerebral, também conhecido como AVC ou derrame cerebral, é a interrupção do fluxo de sangue para alguma região do cérebro Agência Brasil
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2 de 10 O acidente pode ocorrer por diversos motivos, como acúmulos de placas de gordura ou formação de um coágulo – que dão origem ao AVC isquêmico –, sangramento por pressão alta e até ruptura de um aneurisma – causando o AVC hemorrágico
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3 de 10 Muitos sintomas são comuns aos acidentes vasculares isquêmicos e hemorrágicos, como: dor de cabeça muito forte, fraqueza ou dormência em alguma parte do corpo, paralisia e perda súbita da fala
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4 de 10 O derrame cerebral não tem cura, entretanto, pode ser prevenido em grande parte dos casos. Quando isso acontece, é possível investir em tratamentos para melhora do quadro e em reabilitação para diminuir o risco de sequelas
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5 de 10 Na maioria das vezes, acontece em pessoas acima dos 50 anos, entretanto, também é possível acometer jovens. A doença pode acontecer devido a cinco principais causas
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6 de 10 Tabagismo e má alimentação: é importante adotar uma dieta mais saudável, rica em vegetais, frutas e carne magra, além de praticar atividade física pelo menos 3 vezes na semana e não fumar
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7 de 10 Pressão alta, colesterol e diabetes: deve-se controlar adequadamente essas doenças, além de adotar hábitos de vida saudáveis para diminuir seus efeitos negativos sobre o corpo, uma vez que podem desencadear o AVC
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8 de 10 Defeitos no coração ou vasos sanguíneos: essas alterações podem ser detectadas em consultas de rotina e, caso sejam identificadas, devem ser acompanhadas. Em algumas pessoas, pode ser necessário o uso de medicamentos, como anticoagulantes
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9 de 10 Drogas ilícitas: o recomendado é buscar ajuda de um centro especializado em drogas para que se possa fazer o processo de desintoxicação e, assim, melhorar a qualidade de vida do paciente, diminuindo as chances de AVC
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10 de 10 Aumento da coagulação do sangue: doenças como o lúpus, anemia falciforme ou trombofilias; doenças que inflamam os vasos sanguíneos, como vasculites; ou espasmos cerebrais, que impedem o fluxo de sangue, devem ser investigados
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Ensaios clínicos para testar eficácia em humanos
O próximo passo do estudo será a realização de ensaios clínicos em humanos, quando a eficácia e segurança do tratamento deve ser testada. “Nossos testes já comprovaram a eficácia em animais e agora vão partir para humanos. Para isso, precisamos de financiamento e apoio institucional, a fim de transformar essa descoberta em uma nova estratégia terapêutica segura e eficaz”, afirma o pesquisador.
No Brasil, além dos pesquisadores da UnB, também participaram cientistas da Universidade Federal do Piauí (UFPI), do Instituto Federal do Piauí (IFPI), da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
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