O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), sobre o tarifaço contra produtos brasileiros completou 2 meses na 3ª feira (9.set.2025). No período, quase 700 itens ficaram de fora da tarifa extra por decisão unilateral de Washington, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz que os EUA não querem discutir o tema.
A medida entrou em vigor em 6 de agosto. Os produtos isentos do tarifaço continuam sujeitos à cobrança original de 10%, divulgada em 2 de abril.
Em 1º de agosto, Trump foi questionado na Casa Branca se estaria disposto a dialogar com Lula. Respondeu que o brasileiro poderia ligar “quando quisesse”. O petista declarou em seu perfil no X que sempre esteve aberto ao diálogo. Desde esse momento, não houve avanço.
O Planalto tem pouco contato com a alta cúpula de Washington. A última conversa entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, foi em 30 de julho.
Em 11 de agosto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que a reunião prevista com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, havia sido cancelada. Segundo e-mails trocados pelas equipes, o cancelamento foi em 6 de agosto.
Haddad responsabilizou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o empresário e jornalista Paulo Figueiredo. No mesmo dia em que deveria se reunir com Bessent, foram eles que se encontraram com o norte-americano.
Lula diz que o tom “paz e amor” só voltará quando Trump demonstrar interesse em conversar. Enquanto isso, aproveita o tema para reforçar um discurso patriótico de defesa da soberania e contra “traidores da pátria”.
O petista também articula medidas no campo interno. Nesta semana, Bolsonaro tende a ser condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Lula planeja enviar ao Congresso um projeto de regulamentação das redes sociais até o fim de setembro.
Diplomatas brasileiros que atuam nas relações com os EUA avaliam que Lula deveria telefonar para Trump. Já manifestaram essa posição ao presidente, mas ele resiste. Dizem que um contato direto poderia destravar as conversas técnicas com Washington, hoje bloqueadas. Até opositores já defenderam a ideia.
Lula declara que não vai “chorar o leite derramado” enquanto os EUA não quiserem negociar e que buscará novos mercados para os produtos brasileiros. Em 17 de julho, classificou a medida como “chantagem inaceitável”.
O subsecretário da Diplomacia Pública dos Estados Unidos, Darren Beattie, afirmou na 2ª feira (8.set.2025) que o governo dos EUA continuará tomando medidas contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, alvo de sanções por meio da Lei Magnitsky.
A publicação do assessor do secretário de Estado Marco Rubio se deu 1 dia depois dos atos em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no 7 de Setembro.
“Ontem marcou o 203º Dia da Independência do Brasil. Foi um lembrete do nosso compromisso de apoiar o povo brasileiro que busca preservar os valores da liberdade e da justiça. Em nome do Ministro Alexandre de Moraes e dos indivíduos cujos abusos de autoridade minaram essas liberdades fundamentais, continuaremos a tomar as medidas cabíveis”, escreveu Beattie em seu perfil no X (ex-Twitter).
Moares se tornou o 1º brasileiro incluído na SDN List (Lista de Cidadãos Especialmente Designados e Pessoas Bloqueadas) dos Estados Unidos.
A partir da sanção, uma série de proibições econômicas e sociais se dão ao magistrado brasileiro. A Lei Magnitsky tem sanções que são obrigatórias e outras que podem vir por pressão do governo norte-americano.
O 1º ponto obrigatório é que Moraes está banido dos EUA e não poderá voltar a pedir visto enquanto estiver sob a inclusão da lei. No lado econômico, o impacto imediato será o bloqueio de bens e ativos financeiros em território norte-americano. Segundo o STF, no entanto, Moraes não tem bens financeiros no país.
Em 13 de agosto, Lula lançou a medida provisória com um plano de contingência voltado para as empresas brasileiras afetadas pelo tarifaço dos Estados Unidos. O texto é chamado de “Brasil Soberano”.
Libera R$ 30 bilhões em linhas de crédito, mas, no dia do anúncio, ninguém sabia o juro que seria cobrado de quem entrar no programa –o que não impediu o Planalto de realizar o evento para fazer “photo op”, ocupar espaço na mídia e nas redes sociais.
Só 15 dias depois esses valores ficaram conhecidos. As taxas vão de 1% a 5% ao ano. Os percentuais dependem do tipo de operação e do porte da empresa, conforme resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional).
As linhas de crédito, com valores máximos que chegam a R$ 200 milhões por beneficiário, terão prazos de reembolso de até 10 anos, com carência de até 24 meses, e os pedidos podem ser protocolados até 31 de dezembro de 2025.
Além desses recursos, os empresários afetados pelo tarifaço também terão R$ 10 bilhões em linhas de crédito próprias do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Os empréstimos devem começar a ser liberados em setembro.