*Por Joshua Benton
Pode-se perdoar os gestores de estações de rádio pública se o tráfego on-line não for a prioridade no momento. Muitos estão ocupados demais lutando por sua sobrevivência.
O decreto assinado por Donald Trump (Partido Republicano) em maio para cortar o financiamento da mídia pública foi de legalidade duvidosa. Ele já havia proposto eliminar a Corporation for Public Broadcasting em orçamentos anteriores, mas o Congresso sempre a salvava na hora da votação.
Este ano, porém, foi diferente. Trump exigiu que o Congresso retirasse todo o financiamento, e republicanos aliados atenderam ao pedido. US$ 1 bilhão desapareceu por uma margem de 3 votos. Em 8 de agosto, a Corporation for Public Broadcasting anunciou que encerrará suas atividades no próximo mês, depois de quase 60 anos.
Nesse contexto, talvez pareça estranho publicar nosso 1º ranking de sites locais de mídia pública. Todos nessas estações têm algo mais urgente para fazer do que observar o Chartbeat, empresa de tecnologia. Ainda assim, aqui está: os 25 principais sites de rádio/TV pública locais, com base no número estimado de visitas recebidas em junho. (Recentemente, publicamos listas semelhantes para jornais locais e veículos de notícias sem fins lucrativos.)
Não vou atribuir lógica coerente ao corte federal. Mas uma crítica frequente ao longo dos anos é que rádios e TVs públicas deveriam competir no mercado de mídia comercial, como qualquer outro veículo. Se houver demanda pelo que produzem, dizem, conseguirão se sustentar sozinhas.
As organizações desta lista estão entre as mais preparadas para essa disputa. Criaram negócios de sindicalização, estúdios de produção, programação nacional, parcerias universitárias, colaborações multimídia, redes estaduais e muitas outras iniciativas para fortalecer a instituição.
Para elas, o corte federal será doloroso, mas não fatal. Segundo estimativas, o financiamento federal representa 3% do orçamento anual da WBUR (Boston), 5% da KUOW (Seattle), 6% da WBEZ (Chicago) e 8% da KQED (São Francisco). As maiores estações, muitos presentes na lista, estão mais preparadas para resistir –parte dessa preparação inclui ter uma forte presença on-line capaz de competir, à sua maneira, com jornais e TVs locais.
Já as estações que não aparecem no ranking correm maior risco, especialmente as que não têm a sorte de estar em grandes áreas metropolitanas, com alta população de formados e capital cívico. (Como a líder do ranking, a Minnesota Public Radio.) De acordo com o site Adopt a Station, o financiamento federal corresponde a 23% do orçamento da KEDM (Monroe, Louisiana), 29% da KMOS (Warrensburg, Missouri), 40% da WFIT (Melbourne, Flórida), 57% da KGLP (Gallup, Novo México), 80% da KGVA (estação indígena em Montana) e 91% da KNSA (Unalakleet, Alasca). (Esses percentuais têm como base dados de 2023 e não devem ser tomados como absolutos.)
Como já ressaltei em outros rankings, não se trata de uma competição totalmente justa. Nem todos os mercados são iguais. Uma estação no Sul da Califórnia terá mais público potencial do que uma no Sul de Dakota do Norte. Todas as listadas estão ligadas a rádios públicas, mas algumas também se conectam a TVs públicas –algumas mais nacionais que locais. E, embora todas sejam filiadas à NPR (National Public Radio), algumas têm boa parte (ou toda) sua audiência vinda de programação musical, e não jornalística.
Ainda assim, há valor em comparar os números lado a lado. Veja o caso da Vermont Public –sediada em Colchester, cidade com 17.524 habitantes– alcançando a 23ª posição. (Fãs de rankings podem lembrar que o VT Digger, veículo de notícias sem fins lucrativos do Estado, ficou na 18ª posição na lista da semana passada.) Com isso, seguem os resultados de junho, acompanhados de alguns destaques.
*Joshua Benton é fundador do Nieman Lab.
Texto traduzido por Victor Boscato. Leia o original em inglês.
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