Um eventual acordo comercial para que os Estados Unidos exportem mais soja para a China é preocupante para a sojicultura brasileira, segundo o pesquisador e professor do Insper Agro Global, Leandro Gilio. Isso porque o pedido de produtores locais feito ao presidente Donald Trump (Partido Republicano) para que o governo norte-americano feche um acordo de exportação pode fazer com que o Brasil perca espaço no mercado chinês.
“A gente vê que os Estados Unidos têm jogado para a negociação com relação à China e com outros países asiáticos que são mercados relevantes para o Brasil, como a soja. Seria preocupante se existisse algum tipo de acordo em que, por exemplo, a China ou outros países concordassem em fazer mais compras nos Estados Unidos, redirecionando o mercado”, afirmou Gilio em entrevista ao Poder360.
O professor do Insper Agro Global afirmou que as tarifas recíprocas impostas pelo país norte-americano tornam um eventual negócio menos “confiável” para os chineses. “Não vem sendo muito confiável fazer negócios com os Estados Unidos impondo taxações e problemas em termos comerciais. Para a China não é interessante. Por outro lado, não é interessante a China manter uma grande dependência da soja brasileira”, declarou.
Dados da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho) mostram que a China comprou 73% de toda a soja que o Brasil exportou em 2024, o que equivale a 74,4 milhões de toneladas. Segundo Leandro Gilio, embora os produtos brasileiros liderem o ranking de exportação, ainda têm diversidade e alcance de mercado limitados.
Assista à íntegra da entrevista (37min13s):
Eis abaixo outros destaques:
A ASA (American Soybean Association), entidade que representa os produtores de soja dos EUA, enviou uma carta a Trump em que pedem que o republicano interceda junto ao governo de Xi Jinping (Partido Comunista da China, esquerda) para viabilizar um acordo comercial que inclua compromissos de compra do grão norte-americano.
O setor enfrenta pressão financeira diante da queda nos preços e do aumento dos custos de produção, enquanto a China –principal compradora da soja dos EUA– tem evitado fechar contratos antecipados para a próxima safra. Os agricultores norte-americanos afirmam que, sem uma solução rápida para o impasse comercial, as perdas podem se tornar bilionárias e aprofundar a crise no campo.
“Os produtores de soja estão sob estresse financeiro extremo. Os preços continuam caindo e, ao mesmo tempo, nossos agricultores estão pagando muito mais por insumos e equipamentos”, afirmam em nota.