Dos 14 mandados de prisão preventiva nas operações da PF (Polícia Federal) contra lavagem de dinheiro no setor de combustíveis, só 6 foram cumpridos. Há 8 pessoas foragidas. As operações conjuntas Carbono Oculto, Quasar e Tank têm como alvo postos de combustíveis, fintechs, fundos de investimentos e integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
“Alvos importantes não foram encontrados, mas as equipes estão todas diligenciando para que a gente consiga, até o final do dia, ou até o final desta semana, dar cumprimento a todas as ordens judiciais que foram expedidas”, declarou Dennis Cali, diretor de Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da Polícia Federal.
“Nós temos alvos relevantes que foram presos, mas outros que ainda continuam foragidos”, completou.
Os mandados de prisão são da Justiça Federal do Paraná. Segundo Dennis Cali, são 43 mandados de busca e apreensão solicitados pelo Estado e 12 de busca e apreensão da Justiça Federal de São Paulo.
Uma força-tarefa composta por cerca de 1.400 agentes cumpre mandados de busca, apreensão e prisão contra cerca de 350 alvos nesta 5ª feira (28.ago.2025). O objetivo da operação Carbono Oculto é desarticular um esquema do PCC (Primeiro Comando da Capital) no setor de combustíveis.
Auditores-fiscais da Receita Federal identificaram irregularidades em mais de 1.000 postos de combustíveis distribuídos em 10 Estados. Os estabelecimentos recebiam o dinheiro em espécie ou via maquininhas de cartão. Movimentaram R$ 52 bilhões de 2020 a 2024.
O esquema foi investigado pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo), MPF (Ministério Público Federal), PF (Polícia Federal), Polícias Civil e Militar, Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e PGE-SP (Procuradoria Geral do Estado de São Paulo).
Os 350 alvos são pessoas físicas e jurídicas que estão localizados em 8 Estados:
A Receita Federal disse que houve um “sofisticado esquema engendrado pela organização criminosa”. Eis a íntegra da nota (PDF – 1 MB). “O uso de centenas de empresas operacionais na fraude permitia dissimular os recursos de origem criminosa. A sonegação fiscal e a adulteração de produtos aumentavam os lucros e prejudicavam os consumidores e a sociedade”, disse a nota.
A Polícia Federal investigou movimentações ilícitas de R$ 23 bilhões de lavagem de dinheiro em rede criminosa. A PGFN (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional) bloqueou R$ 1 bilhão em bens dos envolvidos, incluindo imóveis e veículos.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que é uma das maiores operações da história do Brasil. Afirmou que o governo Lula criou o Núcleo de Combate ao Crime Organizado em 17 de janeiro de 2025. A 1ª reunião foi em 5 de fevereiro.
Entre os alvos da operação, estão empresas do setor financeiro, como a Reag Investimentos, que é listada na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), e a empresa de pagamentos BK Bank.
A Receita Federal disse que uma fintech de pagamento –empresa de tecnologia que oferece serviços financeiros digitais– atuava como “banco paralelo” da organização criminosa, tendo movimentado mais de R$ 46 bilhões de 2020 a 2024.
“As mesmas pessoas controlavam outras instituições de pagamento menores, usadas para criar uma dupla camada de ocultação”, disse a Receita. A fintech também recebia diretamente valores em espécie. De 2022 a 2023, foram efetuados mais de 10.900 depósitos com cédulas de dinheiro, o que movimentou R$ 61 milhões.
Segundo o Fisco, os criminosos utilizavam brechas na regulação que impedem o rastreamento do fluxo dos recursos e a identificação pelos órgãos de controle. Uma falha de regulamentação é a “conta-bolsão”, que é uma conta aberta em nome da própria fintech em um banco comercial por onde transitam de forma não segregada recursos de todos os seus clientes.
As empresas faziam compensação financeira entre as distribuidoras, os postos de combustíveis e os fundos de investimentos administrados pela própria organização criminosa.
“A fintech tem uma conta numa instituição financeira, num banco comercial, como nós conhecemos, mais tradicional. Essa conta não identifica cada cliente. E, assim, torna o percurso do dinheiro mais complexo de ser provado”, disse.