“Quando a gente vê essa distribuição, ela aponta os municípios que são prioritários em termos de políticas de reconhecimento linguístico e de oficialização das línguas indígenas faladas”, acrescenta.“A oficialização das línguas faladas pelos povos indígenas contribui decisivamente para o acesso à cidadania e para o exercício de direitos, uma vez que facilita a tradução dos documentos formais e viabiliza a presença de intérpretes nos órgãos públicos”, diz.
Encontro Povos Indígenas e Justiça de Transição, realizado em Brasília em 2023 Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Segundo os dados do Censo, Manaus é o município que concentra a maior quantidade de línguas indígenas declaradas, 99; seguido por São Paulo, com 78 línguas indígenas declaradas; e por Brasília, com 61 línguas indígenas declaradas. Fora das capitais, os destaques são São Gabriel da Cachoeira (AM), com 68 línguas indígenas; Altamira (PA); com 33; e Iranduba (AM), com 31. Em relação às línguas, língua Tikuna foi a que registrou o maior quantitativo de pessoas indígenas falantes, com 51.978 pessoas, sendo 87,69% residentes dentro de TIs, seguida por Guarani Kaiowá com 38.658 falantes, a maioria residindo dentro de TIs (81,83%); e Guajajara com 29.212 pessoas, a maioria em TIs (90,43%). Nheengatu é a língua indígena mais falada em áreas urbanas, com 13.070 falantes, 41,94% deles, em cidades.Quedas percentuais
Embora tenha aumentado em números absolutos, em relação à população total de indígenas, os falantes apresentaram uma queda em 12 anos. Em 2022, eles são 28,51% da população indígena, que é de cerca de 1,7 milhão de pessoas. Em 2010, os falantes de línguas indígenas representavam 37,35% do total dessa população, que era de cerca de 897 mil. Fora das terras indígenas, o quantitativo de falantes mais que dobrou, passando de 44.590 para 96.685 falantes, um aumento da ordem de 52.095 pessoas. Mas, percentualmente, caiu de 12,67% para 9,78% do total da população indígena fora de TIs. Nas TIs, no entanto, o cenário é inverso. O percentual aumentou. Os falantes de língua indígena passaram de 57,35%, em 2010, para 63,22%, em 2022. Damasco ressalta que há um movimento de valorização e de resgate das línguas pelos próprios indígenas e que isso se reflete nos dados mensurados. “A gente sabe que na última década foram implementados muitos esforços em termos de garantir que os indígenas pudessem utilizar e reproduzir o uso das línguas, tanto por meio de políticas linguísticas, de educação na língua indígena, como também um movimento muito forte de resgate de uso das línguas indígenas, de valorização do uso da língua pelos próprios indígenas”, diz.Avanço do português
Os dados divulgados mostram que houve um aumento dos falantes de português. Em 2022, 1.404.340 pessoas indígenas utilizavam o português no domicílio, o correspondente a 86,32% da população indígena do país. Nas TIs, o percentual de falantes do português era de 67,14% (394 237). O IBGE analisou, em mapas, o avanço do idioma nas terras indígenas. Em 98 TIs, mais indígenas estão falando português. Nesses locais, houve uma variação de mais de 25 pontos percentuais. No entanto, em 42, houve uma queda de mais de 25 pontos percentuais dos falantes de português. Já em relação às línguas indígenas, 55 TIs tiveram variações positivas acima de 25 pontos percentuais, indicando que percentualmente a população está falando mais línguas indígenas. Em 27 TIs, essa variação foi negativa. De acordo com Damasco, a educação e a alfabetização podem contribuir para o fortalecimento linguístico, mas ela não deve ser feita apenas em português, com o risco das línguas indígenas deixarem de ser faladas nos domicílios. “A alfabetização, se for feita de forma a simplesmente incentivar a substituição da língua indígena pelo português, pode ser absolutamente nociva. Agora, quando ela é uma educação bilíngue ou uma educação na língua indígena, ela contribui muito para o fortalecimento linguístico”, defende. Relacionadas
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