Mesmo com juros a 15%, Gleisi ameniza o tom para aliados
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, é conhecida por fazer duras criticas a alta da taxa de juros no Brasil
Apesar da manutenção da taxa básica de juros, a , em 15% ao ano, um dos níveis mais altos em quase duas décadas, por parte do (BC), a ministra das Relações Institucionais, , tem adotado um tom menos confrontador com aliados, como é o caso do presidente do BC, .
O Comitê de Política Monetária () decidiu manter a Selic em 15% pela quarta reunião consecutiva, justificando que o atual patamar ainda é necessário para assegurar a convergência da inflação para a meta e conter a incerteza econômica global.
A decisão ocorreu em meio a um cenário de inflação moderada e atividade econômica em ritmo lento, o que alimenta expectativas sobre o futuro do ciclo de juros elevados no primeiro trimestre do próximo ano.
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Tradicionalmente uma voz crítica à política monetária mais rígida, Gleisi tem suavizado publicamente suas declarações sobre o tema para aliados do governo.
Em meses anteriores, Gleisi chegou a criticar duramente a política de juros elevada e a atuação do Banco Central, afirmando que a taxa “estratosférica” em 15% penaliza a economia e o setor produtivo.
As criticas mais acentuadas aconteceram na gestão do ex-presidente do BC , indicado do ex-presidente da República (PL).
Na última reunião do Copom sobre a direção de Campos Neto, em dezembro do ano passado, os juros chegaram a 12,25% ao ano com mais duas altas contratadas nas próximas reuniões.
Na época, Gleisi afirmou que o então presidente do BC foi responsável por uma “criminosa sabotagem à economia do país nos dois primeiros anos do governo Lula”.
Ela disse ainda que Campos Neto não cuidou da especulação com o câmbio e sufocou a economia e o crédito no país. “Já vai tarde Campos Neto. Espero que seu terrorismo fiscal também seja suplantado daqui pra frente”, disse em uma publicação nas redes sociais.
É irresponsável, insana e desastrosa para o país a decisão do BC de elevar da taxa básica de juros para 12,25%. Não faz sentido nem seria eficaz para evitar alta da inflação, que não é de demanda. Nem para melhorar a situação fiscal, muito pelo contrário. Esse 1 ponto a mais vai…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi)
Tom ameno
No entanto, mesmo quando a atual composição do BC decidiu, em unanimidade, pela manutenção dos juros em 15%, Gleisi não se posicionou até o momento de publicação desta matéria, dias após a decisão do Copom.
Após a primeira decisão do comitê sob a direção de Galípolo, em janeiro de 2025, que teve alta de 1 ponto percentual, elevando a Selic para 13,25% ao ano, Gleisi avaliou que o aumento já havia sido contratado pela gestão anterior e que não restauraram muitas alternativas a nova presidência.
Na reunião seguinte, em março, houve mais uma alta, para 14,25% ao ano. Gleisi não se posicionou sobre o aumento. Uma terceira alta veio em maio, deixando a Selic em 14,75% ao ano, mas a ministra também não falou sobre o assunto. Em junho, quando os juros chegaram a 15% ao ano, também houve silêncio da aliada de Lula.
A ministra só voltou a se posicionar em novembro, após manutenção da taxa pela terceira reunião consecutiva.
“A decisão do Copom de manter pela terceira vez a taxa Selic em 15% é prejudicial aos investimentos produtivos, ao acesso ao crédito, à geração de empregos e ao equilíbrio das contas públicas. É prejudicial ao Brasil. Nenhuma economia do mundo pode conviver com juros reais de 10%. Nada justifica uma decisão tão descasada da realidade, dos indicadores econômicos, das necessidades do país”, disse.
Entenda o que é o Copom
O Comitê de Política Monetária é o órgão do Banco Central responsável por definir a taxa básica de juros da economia, a Selic;
O grupo usa a Selic para controlar a inflação, quando ela sobe demais, os juros aumentam; quando está baixa, há espaço para reduzir;
O Copom é formado pelo presidente do Banco Central e pelos diretores da instituição, especializados em áreas como política econômica e regulação;
O colegiado se reúne a cada 45 dias para analisar dados da economia, como inflação, câmbio, atividade e cenário internacional, antes de votar a taxa.
Relembre as publicações de Gleisi durante a gestão de Campos Neto
Em junho, quando a Selic estava em 10,5% ao ano, Gleisi afirmou que “não há justificativa técnica, econômica e muito menos moral para manter uma taxa básica de juros em 10,5%”.
Não há justificativa técnica, econômica e muito menos moral para manter a taxa básica de juros em 10,5%, quando nem as mais exageradas especulações colocam em risco a banda da meta de inflação. E não será fazendo o jogo do mercado e dos especuladores que a direção do BC vai…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi)
Em julho, com a manutenção da taxa, a ministra afirmou que “insistir na segunda maior taxa de juros do planeta é um ataque ao povo brasileiro”. De acordo com ela, a taxa era considerada como criminosa.
Em outra postagem, acusou Campos Neto de sabotagem ao governo.
O bolsonarista Campos Neto caminha para encerrar seu desastroso período no BC impondo ao Brasil a maior taxa de juros do planeta. Não há fundamento econômico, técnico ou coisa que o valha para explicar essa insanidade. É indisfarçável sua intenção política de sabotar o governo do…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi)
Após a Selic chegar a 11,25% ao ano, a então presidente do Partido dos Trabalhadores avaliou que o Copom estava “sabotando a economia do país”.
A nota do Copom para “explicar” a nova alta dos juros é puro terrorismo de mercado. Chega a projetar uma taxa Selic de 14,5% se não houver “mudanças estruturais” no orçamento. Uma indecência usar esse tipo de chantagem, ameaçando até com disparada do câmbio, pra tentar impedir o…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi)
Indicações de Lula
A próxima composição de diretores do Banco Central deve ser inteiramente indicada pelo presidente (PT).
Isso porque os diretores Renato Dias de Brito Gomes, da Organização do Sistema Financeiro, e Diogo Abry Guillen, da Política Econômica, indicados por Bolsonaro, deixam os cargos no dia 31 de dezembro, já que os mandatos do BC tem duração de dois anos. Com isso, a diretoria do BC será integralmente indicada por Lula.
Confira os atuais integrantes do BC indicados pelo presidente:
Gabriel Galípolo – presidente do Banco Central;
Ailton Aquino – diretor de Fiscalização;
Gilneu Vivan – diretor de Regulação;
Izabela Moreira Correa – diretora de Cidadania e Supervisão de Conduta;
Nilton David – diretor de Política Monetária;
Paulo Picchetti – diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos;
Rodrigo Alves Teixeira – diretor de Administração.
A expectativa do mercado financeiro é de que o BC comece a cortar juros no inicio de 2026, quando o comitê já estará completo, já que o ano deve se iniciar com dois diretores a menos no Copom.
Acontece que além da indicação de Lula, que ainda não aconteceu, os nomes precisam passar por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, o que não deve acontecer nas primeiras semanas do ano, tendo em vista que o advogado-geral da União, Jorge Messias, ainda aguarda o calendário para ser sabatinado.
Messias foi indicado para vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal ().
Por: Metrópoles





