O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou um discurso crítico ao Banco Central ao longo de 2023 e 2024. O chefe do órgão naqueles anos era Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL).
O cenário mudou. Presidente do BC em 2025, o economista Gabriel Galípolo, que foi secretário-executivo do ministro Fernando Haddad (Fazenda), foi escolhido por Lula para o cargo. A nova gestão fez o petista abandonar o tom duro contra a autoridade monetária.
As críticas do petista eram especialmente por causa dos juros elevados. A taxa básica (Selic) estava em 13,75% ao ano quando ele começou o 3º mandato.
Ocorre que o indicador continua subindo em 2025. Está em 15% ao ano, maior patamar em 19 anos. Apesar disso, Lula continua sem criticar o Banco Central como fazia nos anos anteriores.
Lula costumava acusar Campos Neto de ser “contra” a economia. Pressionava-o por reduções nos juros. Para não citar nomes, chamava-o de “esse cidadão”.
O BC é responsável por definir o juro base. O objetivo das alíquotas elevadas é controlar a inflação por meio da desaceleração econômica (entenda mais aqui).
Os diretores e presidente da autoridade monetária definem o novo patamar dos juros 8 vezes ao ano. Relembre abaixo alguns comentários do presidente da República em datas próximas às reuniões do órgão em 2023 e 2024:
Fevereiro de 2023:
Março de 2023:
Maio de 2023:
Junho de 2023:
Agosto de 2023:
Setembro de 2023:
Dezembro de 2023:
Março de 2024:
Junho de 2024:
Além das críticas em discursos e entrevistas, Lula comentava os juros em seu perfil oficial do X (ex-Twitter). Em 2023 e 2024, o tom costumava ser crítico. Leia um compilado de postagens do presidente:
Ao fazer buscas nas redes sociais pelos perfis do petista por termos como “juros”, “taxas de juros”, “Banco Central” e “Selic”, percebe-se que não há postagens críticas à política monetária do país em 2025.
O presidente não só baixou o tom depois que indicou Galípolo para o Banco Central, mas também já elogiou o economista algumas vezes. Leia abaixo:
Havia um receio do mercado financeiro de que Galípolo fosse mais tolerante com a inflação alta e atendesse aos pedidos de Lula para baixar os juros. Ele buscou dissipar o temor desde que foi indicado ao cargo. Deu declarações de que a taxa ficaria elevada pelo tempo necessário.
O petista e o economista publicaram um vídeo descontraído em 20 de dezembro. Nele, Lula diz que não vai interferir no trabalho do Banco Central. A declaração amenizou a cotação do dólar naquele dia.
“Queria desejar boa sorte, que Deus te abençoe. E quero que você saiba que jamais haverá da parte da Presidência qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no Banco Central”, disse o petista faltando poucos dias para Galípolo assumir o novo cargo.
Assista (2min24s):