O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou, neste sábado (20.dez.2025), que a UE (União Europeia) ainda não tenha se decidido sobre o acordo de livre comércio com o Mercosul. Havia uma expectativa de que o documento, em negociação há 26 anos, pudesse ser assinado durante um encontro de líderes do Cone Sul realizado neste fim de semana. Os planos, porém, foram novamente frustrados pelos europeus na semana passada.
“Tínhamos em nossas mãos a oportunidade de transmitir ao mundo uma mensagem importante em defesa do multilateralismo e de fortalecer nossa posição estratégica em um cenário global cada vez mais competitivo. Mas, infelizmente, a Europa ainda não se decidiu”, disse Lula na abertura da 67ª Cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu (PR).
Segundo Lula, após 26 anos de negociações, havia uma expectativa de que o tratado fosse finalmente assinado.
“Desde 2023, trabalhamos para garantir que o acordo contribuísse para o desenvolvimento econômico do Mercosul, sem afetar políticas industriais e de incentivo à inovação e sem prejudicar setores sensíveis”, afirmou. “Aceitamos a adoção de cotas a produtos agropecuários e o estabelecimento de um mecanismo de salvaguardas, resguardando o nosso direito de reciprocidade. Chegamos a um entendimento vantajoso para os dois lados.”
Na 4ª feira (17.dez), o Parlamento Europeu, braço legislativo do bloco, anunciou, por meio de nota, que havia concluído as negociações informais para proteger agricultores da UE do aumento excessivo de produtos do Mercosul. Isso gerou uma expectativa de que o acordo pudesse ser assinado em Foz do Iguaçu, durante a cúpula realizada neste sábado (20.dez).
Mas bastou um dia para que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, jogasse um balde de água fria na situação. Na 5ª feira (18.dez), a chefe do Executivo europeu comunicou aos líderes dos 27 países da UE o adiamento da assinatura do acordo para janeiro de 2026.
A decisão foi tomada após a Itália mudar sua posição e se unir à França na oposição ao tratado. Com os 2 países se recusando a assinar, o acordo se torna inviável, já que as nações que discordam não podem representar mais de 35% da população da UE.
“Sem vontade política e coragem dos dirigentes, não será possível concluir uma negociação que já se arrasta por 26 anos”, disse Lula neste sábado (20.dez).
Assista à íntegra do discurso de Lula (28min36):
As negociações entre os 2 blocos econômicos se estendem desde 1999 e enfrentaram forte oposição de setores agrícolas europeus nas últimas semanas. Na 5ª feira (18.dez), milhares deles bloquearam ruas em Bruxelas com centenas de tratores, protestando contra a política agrícola da UE e o possível acordo com o Mercosul.
Países da União Europeia favoráveis ao acordo com o Mercosul, como a Alemanha, pressionam por garantias de que uma nova data de assinatura seja marcada. Eles temem que atrasos adicionais fortaleçam a oposição no Parlamento Europeu ou dificultem os próximos passos quando o Paraguai, mais cético em relação ao tratado, assumir a presidência do Mercosul no lugar do Brasil no final do ano.
Enquanto o acordo com a União Europeia não chega a um final feliz para o Mercosul, o bloco do Cone Sul aposta em outras parcerias, a exemplo do tratado firmado, em setembro, com a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio), um conjunto de países que somam um PIB de quase um trilhão e meio de dólares.
O Mercosul também discute a ampliação do acordo com a Índia. Retomou as tentativas com o Canadá e avançou nas negociações com os Emirados Árabes. Adotou marcos para negociar uma parceria estratégica com o Japão e um tratado de preferência tarifária com o Vietnã.
“Na região, esperamos progredir rapidamente na negociação de um acordo com o Panamá”, disse Lula. “Precisamos ainda atualizar os acordos com outros países sul-americanos, como Colômbia e Equador.”
Segundo o presidente brasileiro, “o comércio intrarregional na América do Sul está muito aquém do seu potencial”. Ele corresponde a apenas 15% do fluxo comercial, enquanto na Ásia e na Europa, isso representa 60%.
Na opinião de Lula, a inclusão dos setores sucroalcooleiro e automotivo nas regras do Mercosul pode contribuir para mudar este quadro. Ele também acredita que a América do Sul pode ocupar a vanguarda na transição energética, porque possui importantes reservas de minerais raros –matéria-prima essencial para a fabricação de smartphones, computadores, carros elétricos e materiais de defesa.
Leia mais:





