Jovens são impactados
O educador social Markão Aborígine, de 40 anos, do Inesc, que trabalha com os jovens na pesquisa, disse que o Mapa das Desigualdades tem o propósito de reunir jovens em torno desse tema, já que a infância, a adolescência e a juventude seriam os mais impactados pela desigualdade. “Praticamente 100% do Mapa foi construído por esses jovens desde fevereiro”, destacou.Markão cita que no Plano Piloto de Brasília, por exemplo, 98% das pessoas têm acesso a praças e bosques. Enquanto que no Itapoã, apenas 34% das pessoas têm proximidade a esses espaços. O educador diz que os jovens perceberam que as regiões mais negras do DF são vazias de políticas públicas. “Quando a gente olha para as regiões periféricas, a maioria da população é preta. A questão racial impacta todos os tópicos tratados na pesquisa”. Entre os temas, acessos à saúde, à educação, ao saneamento, à infraestrutura e à mobilidade humana, por exemplo. O próprio educador social relata que a família, originária do município de Baraúna, na Paraíba, buscou a capital federal em busca de melhores condições de vida. “Quando chegamos à região administrativa de Samambaia não tínhamos energia elétrica nem água. Minha mãe caminhava alguns quilômetros para conseguir água no chafariz mais próximo”, recorda.“Esses jovens vivem, por exemplo, a falta de acesso a serviços públicos e de arborização nos territórios. Isso eles traduziram em música. São mais do que dados”.
Transporte lotado
A falta de uma frota eficiente de transporte público, para um dos pesquisadores, o designer Victor Queiroz, de 27 anos, é uma das principais evidência de sofrimento. Morador do Paranoá, ele, que se identifica como negro, relata que costuma andar cerca de 30 minutos até o ponto de ônibus e esperar pelo menos outros 40 minutos pelo transporte. “É o mesmo ônibus que sai do Itapoã e vai para o Paranoá. Está sempre lotado”, lamenta. Victor fez a diagramação e imagens do mapa que será divulgado no mês que vem. Para ele, a falta de acesso eficiente a esses serviços, com uma realidade de ônibus sempre lotados, desestimula os jovens e representa negação à dignidade.“Brasília hoje é a terceira maior cidade do Brasil em termos de população. E até hoje a gente não tem um sistema de transporte público eficiente”, afirmou.
Regiões periféricas são prioridades, alega governo
Consultado pela reportagem da Agência Brasil, o governo do Distrito Federal reconhece haver um histórico de desigualdades. No entanto, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social, a atual gestão tem ampliado os investimentos na área social. O governo apresenta que há um plano distrital com estratégias relacionadas a buscar diminuir as desigualdades raciais com vistas à promoção da cidadania. “Todas as ações são acompanhadas pelo Conselho de Assistência Social do DF, assegurando controle social e participação cidadã na formulação e execução da política”, assegurou. A secretaria afirma que prioriza os serviços para áreas periféricas, diferentemente do que os jovens avaliam. “Desde 2020, os recursos destinados à rede de proteção social quase triplicaram, passando de R$ 347 milhões para R$ 935 milhões em 2023, e seguem em evolução”, acrescentou o órgão. Relacionadas
Brasília recebe Marcha das Mulheres Negras em 25 de novembro
Em Brasília, movimentos organizam agenda em defesa da tarifa zero





