• Sábado, 13 de setembro de 2025

IOF no câmbio triplica e expõe fragilidade fiscal do Brasil

Diretora da Oz Câmbio avalia os impactos da alta do IOF e a instabilidade fiscal e indica estratégias para reduzir riscos.

A instabilidade política e fiscal tem levado empresas nacionais a buscarem proteção fora do país. A diretora e sócia da Oz Câmbio, Raissa Florence, 33 anos, afirmou em entrevista ao Poder360 que a falta de previsibilidade incentiva a abertura de offshores para alocar recursos e fugir da volatilidade interna. O movimento reflete a perda de confiança no ambiente de negócios, o que afasta também o investidor estrangeiro. 

Um dos fatores que agrava a incerteza econômica é o aumento da alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Por causa da dificuldade em fechar as contas públicas, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu elevar o tributo de efeito imediato. O câmbio, por ser um setor altamente sensível e de liquidez diária, tornou-se a 1ª válvula de arrecadação com a mudança promovida pelo Ministério da Fazenda, chefiado por Fernando Haddad.

A alíquota do tributo que incide sobre operações de câmbio triplicou. Em 2017, era de 0,38%. Em 2018, subiu para 1,1% e hoje está em 3,5%. O efeito imediato é o encarecimento das transações internacionais, afetando tanto importadores e exportadores quanto negócios que lidam com pagamentos recorrentes em moeda estrangeira, como softwares e serviços digitais.

“Essa medida [que eleva o IOF] teve um impacto muito grande no mercado de câmbio. O IOF é um imposto que incide sobre seguros, crédito, câmbio e investimentos no exterior. O aumento abrangeu praticamente todos os tipos de operação cambial, onerando empresas e pessoas físicas. Pagamentos internacionais recorrentes, como softwares e invoices [documento comercial internacional semelhante a uma fatura, que detalha produtos ou serviços vendidos, os valores, condições de pagamento e informações do comprador e vendedor], também foram afetados. O governo estimava arrecadar mais de R$ 10 bilhões com o ajuste, 80% desse valor do câmbio. Isso aperta margens empresariais e pode ser repassado aos preços finais”, afirmou Raissa Florence.

Assista à íntegra da entrevista (16min58s):

A Oz Câmbio. A empresa completa 25 anos em 2025, já movimentou mais de R$ 100 bilhões desde sua fundação e está entre as 10 maiores corretoras do Brasil.

Eis abaixo os destaques da entrevista:

Poder360: Como avalia o impacto da mudança da alíquota do IOF no mercado de câmbio?
Raissa Florence: Essa medida teve um impacto muito grande no mercado de câmbio. O IOF é um imposto que incide sobre seguros, crédito, câmbio e investimentos no exterior. O aumento abrangeu praticamente todos os tipos de operação cambial, onerando empresas e pessoas físicas. Pagamentos internacionais recorrentes, como softwares e invoices, também foram afetados. O governo estimava arrecadar mais de R$ 10 bilhões com o ajuste, 80% desse valor do câmbio. Isso aperta margens empresariais e pode ser repassado aos preços finais.

A instabilidade política e fiscal brasileira tem pesado nas operações de câmbio? De que forma isso se reflete em empresas e investidores?
Com certeza. Os investidores ficam inseguros diante das idas e vindas da política, como no caso do IOF. Essa instabilidade reduz a previsibilidade, afasta empresas estrangeiras e leva muitas companhias brasileiras a abrir filiais fora do país para tentar minimizar o risco Brasil.

Quais caminhos a senhora enxerga para as empresas que precisam de previsibilidade nas operações internacionais?
O principal conselho é não tentar operar o dólar se esse não é o core business da empresa. O ideal é adotar uma estratégia de câmbio: usar mecanismos de hedge [proteção cambial], realizar fechamentos recorrentes para diluir riscos e buscar parceiros especializados. Estar munido de informações é essencial em tempos de volatilidade.

Além do hedge, que outras alternativas existem para mitigar riscos?
Algumas empresas estão abrindo filiais fora do Brasil para operar diretamente em dólar, sem a exposição ao real. Outras recorrem ao carry trade: captar dívida internacional a juros baixos e investir em títulos brasileiros com juros elevados. São alternativas que exigem estrutura, mas podem aumentar a previsibilidade e proteger operações.

Essas estratégias geram custos. Qual o peso da instabilidade para empresas e consumidores?
O custo é intangível, pois envolve os impostos, a imagem do Brasil e o encarecimento de operações. Abrir filial fora pode custar a partir de US$ 20.000 por ano. Já o hedge cambial tem taxas de 5% a 6%, mas mitiga oscilações que podem ser ainda maiores. Dívidas externas, quando bem estruturadas, também oferecem vantagens.

Toda essa incerteza já mexeu de forma significativa com o mercado?
Sim. Antes do tarifaço”de agosto [quando os Estados Unidos aumentaram a tarifa de importação de produtos brasileiros para 50%], empresas correram para se antecipar. Depois, as operações voltaram, mas com volatilidade. Hoje, boa parte do impacto já está precificada, mas seguimos em um ambiente instável.

Quais tendências a senhora estima para o futuro do câmbio no Brasil?
A digitalização é o caminho. A Oz foi pioneira no modelo “FX as a service” [câmbio como serviço], que permite pagamentos internacionais massivos de forma simples, via integração de sistemas. O futuro do câmbio está em plataformas digitais com taxas claras, sem spreads ocultos, oferecendo transparência e previsibilidade para os clientes.

Por: Poder360

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