A Igreja Anglicana nomeou nesta 6ª feira (3.out.2025) Sarah Mullally, 63 anos, como arcebispa da Cantuária. É a 1ª vez em 1.400 anos de história que uma mulher assume o cargo mais alto da Igreja da Inglaterra, criado em 597.
A nomeação representa um marco para a instituição, que ordenou suas primeiras sacerdotisas em 1994 e bispas em 2015. Mullally é a 106ª pessoa a ocupar o cargo desde Santo Agostinho. O arcebispado da Cantuária é considerado “primeiro entre iguais” na estrutura anglicana. Embora não tenha autoridade direta sobre as demais igrejas nacionais, é a principal referência espiritual e simbólica da comunhão. As informações são da AP News.
Antes de ingressar no clero, a arcebispa foi enfermeira oncológica. Foi a mais jovem diretora de enfermagem da Inglaterra. Tornou-se referência dentro da Igreja Anglicana por defender maior presença feminina na hierarquia e apoiar políticas de inclusão.
Mullally, atual bispa de Londres, sucede Justin Welby, 69 anos, que deixou o posto em novembro de 2024 depois de críticas por ter demorado a comunicar às autoridades casos de abuso sexual cometidos por um voluntário de acampamentos cristãos.
Apesar do avanço, a decisão causou resistência entre alas conservadoras da Comunhão Anglicana, rede que reúne mais de 85 milhões de fiéis em 165 países.
O grupo Gafcon, formado por líderes de Nigéria, Ruanda e Uganda, classificou a escolha como “lamentável” e afirmou que Mullally “promove ensinamentos revisionistas” sobre casamento e moral sexual.
A nova líder assume em um momento de divisões internas sobre o papel das mulheres e de pessoas LGBTQ+ na Igreja, além da necessidade de reconstruir a confiança após escândalos de abuso sexual.
“Não acertarei sempre, mas confio nas palavras do salmista: ‘Ainda que tropeces, não cairás de cabeça, pois o Senhor te segura pela mão’”, afirmou ao ser anunciada.
Em 2023, a Igreja Anglicana da Inglaterra discutiu a adoção de linguagem de gênero neutro para se referir a Deus em orações e rituais religiosos. O debate se deu no Sínodo Geral, órgão legislativo da instituição, e foi revelado pelo jornal britânico The Telegraph.
Na ocasião, a reverenda Joanna Stobart questionou o Sínodo sobre medidas para “desenvolver uma linguagem mais inclusiva” nas liturgias da Igreja. O bispo Michael Ipgrave, vice-presidente da Comissão Litúrgica, respondeu que um grupo de trabalho seria criado para analisar o tema.
“Os cristãos reconhecem desde os tempos antigos que Deus não é homem nem mulher, mas essa variedade de formas de se dirigir a Ele nem sempre aparece em nossa adoração”, afirmou Ipgrave.
Apesar da discussão, a instituição destacou que não havia planos imediatos de revisar as escrituras ou abolir as liturgias atualmente em vigor.
O tema da linguagem neutra somou-se a outros debates internos sobre casamento homoafetivo e igualdade de gênero, refletindo as transformações culturais enfrentadas pela Igreja Anglicana que, ao contrário da Católica, permite que suas províncias nacionais tomem decisões de forma autônoma.