Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, disse que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), “pegou pesado” com a sobretaxa imposta ao Brasil. No entanto, o economista afirmou, em entrevista ao Globo publicada nesta 3ª feira (12.ago.2025), que há problemas internos que impedem o crescimento do país.
Fraga reconhece que o tarifaço vai afetar o PIB (Produto Interno Bruto), mas citou também a situação fiscal frágil, os juros altos, problemas de segurança e corrupção como principais barreiras. Ele projeta impactos do tarifaço mais concentrados em alguns setores do que na economia como um todo.
Sobre as negociações com os EUA, Fraga lembra que o Brasil se posicionou claramente a favor do concorrente de Trump, Joe Biden (Partido Democrata), e que, desde então, a relação não existe. “Eu acho que eles pegaram pesado na resposta, mas não consigo enxergar ainda onde exatamente os EUA querem chegar”, disse.
O economista acredita que ainda é possível negociar melhores condições com o governo Trump e indica temas como terras raras e barreiras protecionistas no comércio exterior.
“Terras raras é um tema superquente, global. O Brasil tem regras para exploração mineral, existem muitas empresas estrangeiras trabalhando nisso. Acho que tem espaço para algum tipo de discussão”, afirmou.
Ele destacou que o Pix não é negociável, classificando-o como um sistema eficiente, barato e que deve ser aprimorado.
Fraga criticou o uso de exigências ligadas ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como base para a medida tarifária. Uma das razões para a aplicação da tarifa, segundo Trump, foi o julgamento contra Bolsonaro no STF por tentativa de golpe de Estado. O norte-americano já pediu que a ação parasse “imediatamente”.
Bolsonaro, que está em prisão domiciliar, já disse que tem o poder de acabar com o tarifaço. “É inaceitável ter ancorado esse tirambaço em cima de nós em uma posição política de defesa do ex-presidente, que está no meio de um momento tenso também, de julgamento. Mas isso é uma questão nossa”, disse.
Fraga vê um possível efeito positivo no episódio: a abertura de novas negociações comerciais. Ele lembrou que o Brasil esperou durante anos um grande movimento da OMC (Organização Mundial do Comércio), enquanto o mundo inteiro negociava. “Seria um efeito colateral positivo destravar essas negociações”, afirmou.