Uma pesquisa da Ceam (Centro de Estudos Aplicados de Marketing) da ESPM mostra que mais da metade (51%) dos brasileiros acredita que o tarifaço afetará o Brasil e mais de 2/3 (68%) acham que causará prejuízos econômicos ao país. Essa percepção, contudo, diverge entre os que se dizem de esquerda e de direita.
A maioria (52%) dos eleitores de esquerda, mais alinhados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acha que será prejudicada pelas tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano). Na direita, ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), essa impressão cai para 22%.
A pesquisa entrevistou 1.000 pessoas em todo o Brasil, sendo 427 alinhados à direita e 294 à esquerda. O nível de confiança é de 95%. Eis a íntegra do estudo (PDF – 514 kB).
Apesar da polarização, o levantamento mostrou uma convergência entre direita e esquerda na necessidade de priorizar produtos nacionais: é a solução para 57% dos brasileiros. A visão negativa sobre os EUA também cresceu em ambos os espectros, com 63% dos entrevistados afirmando que pioraram sua avaliação sobre o país de Trump.
“O consenso em torno do consumo nacional pode ser explicado pela Teoria da Identidade Social. Quando uma ameaça externa surge –neste caso, o tarifaço imposto pelos EUA– as diferenças internas dão lugar à identidade coletiva de ‘ser brasileiro’. Isso pode explicar por que direita e esquerda, apesar de tantas discordâncias, se unem na valorização do produto nacional e na crítica aos Estados Unidos”, destaca Eduardo Mesquita, coordenador de pesquisa do Ceam.
Outro consenso é no impacto ao agronegócio, mas a direita é mais alarmista, com 7 em cada 10 classificando o cenário para o setor como crítico. A alta dos preços dos combustíveis também preocupa, assim como dos alimentos (mais citado pela esquerda) e de serviços essenciais (mais citado pela direita).
Para 54% dos brasileiros, o governo precisa responder às tarifas. Dos entrevistados de esquerda, 1/5 prefere negociar com a Casa Branca, mas também apoia o fortalecimento da indústria nacional e a retaliação das taxas. Na direita, a preferência pelo diálogo é maior, de 1/4.
A pesquisa da ESPM também mediu o grau de conhecimento dos brasileiros acerca das medidas tarifárias do governo dos EUA. O resultado mostra que 32% dos eleitores de esquerda se dizem bem-informados sobre o tema. A taxa é de 27% na direita.
Os 2 grupos preferem se atualizar pelas redes sociais, mas a televisão ainda é um meio relevante. A TV Globo lidera com folga na preferência dos entrevistados à esquerda (60%), mas também é a mais citada pela direita (30%). Neste campo, a Jovem Pan é o destaque, com 25%.