A empresa de consultoria EY (Ernst & Young) apresentou à diretoria do Corinthians relatórios que confirmam o endividamento bilionário do clube e identificam contratos com cláusulas consideradas prejudiciais aos seus interesses, segundo informações divulgadas pelo site Globo Esporte nesta 5ª feira (23.out.2025).
A entrega dos documentos à diretoria foi realizada na 2ª feira (20.out.2025), depois da atual gestão quitar o pagamento pelo serviço, que não havia sido realizado pela administração anterior.
Os relatórios, elaborados durante a gestão do ex-presidente Augusto Melo, foram apresentados ao presidente Osmar Stabile e a outros dirigentes. A análise financeira mostra que a dívida do clube paulista era de R$ 2,2 bilhões em junho de 2024 e subiu para cerca de R$ 2,7 bilhões atualmente.
Apesar do cenário financeiro adverso, o relatório aponta possibilidades de otimização que poderiam arrecadar R$ 84 milhões por ano, distribuídos em 8 frentes de atuação. Segundo a EY, a adoção das medidas sugeridas para reduzir despesas e ampliar receitas permitiria ao Corinthians melhorar sua situação econômica, diminuindo a relação entre dívida e geração de caixa de 12 para 7.
Mesmo com essas potenciais melhorias, a consultoria recomenda que o clube mantenha a adesão ao RCE (Regime Centralizado de Execuções) ou considere alternativas como planos de recuperação extrajudicial ou judicial. O Corinthians já tem um RCE em andamento na Justiça, que totaliza mais de R$ 367 milhões em dívidas –sendo R$ 190 milhões referentes a processos de execução judicial.
De julho a agosto de 2024, a consultoria já havia apontado que o Corinthians perderia a capacidade de honrar compromissos a partir de setembro daquele ano, com risco de sofrer um transfer ban. Outras 5 condenações na Fifa, incluindo uma confirmada pela CAS (Corte Arbitral do Esporte), podem resultar em punições semelhantes.
A análise também identificou 7 contratos com cláusulas consideradas lesivas aos interesses do Corinthians. Segundo os documentos, houve contratações e renovações realizadas nos últimos dias antes do afastamento de Augusto Melo, posteriormente destituído da presidência por impeachment.
Um dos casos citados é o contrato de fornecimento de bebidas e alimentos na Neo Química Arena, renovado até 2030 –embora o acordo original terminasse em 2025. O documento foi classificado pela EY como “especialmente desfavorável” ao clube, pois a possível liberação da venda de bebidas alcoólicas em estádios paulistas pode arrecadar receita adicional sem previsão clara de repasse ao Corinthians.
Outro contrato problemático envolve a parceria com a empresa Indigo, responsável pelo estacionamento da arena. O acordo estabelece um faturamento mensal mínimo para que haja repasse ao clube. Quando esse valor não é atingido, o montante é acumulado para o mês seguinte, elevando progressivamente o patamar necessário e dificultando o recebimento.
Firmado em 2018, o contrato foi impactado pela pandemia de covid-19, que reduziu o público e o faturamento da empresa. Atualmente, o patamar mínimo é considerado praticamente inalcançável, o que impede o clube de receber valores pelo serviço.
A diretoria do Corinthians já escolheu uma nova empresa para administrar o estacionamento, mas ainda estuda formas de rescindir o contrato com a Indigo, vigente até 2028.
A EY também realizou uma verificação de antecedentes (background check) e não encontrou CPFs de pessoas ligadas ao clube entre os beneficiários finais das empresas avaliadas, afastando suspeitas de conflitos de interesse nesses contratos.
No dia da apresentação dos relatórios, o Corinthians divulgou a seguinte nota:
“O Sport Club Corinthians Paulista informa que recebeu na tarde desta segunda-feira (20) executivos da EY para apresentação do relatório de resultado da consultoria contratada pela gestão anterior no início de 2024.
“O tal relatório corrobora a situação financeira do clube sem apresentar fatos novos que a atual diretoria já não esteja tomando providências.
“O Corinthians salienta que os contratos analisados são protegidos por cláusula de sigilo e confidencialidade, bem como o próprio contrato de consultoria da EY”.





