• Sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

China compensa queda das exportações após tarifaço dos EUA

Vendas para os Estados Unidos caíram 25% desde agosto, mostra estudo realizado pela FGV.

O crescimento das exportações brasileiras destinadas à China foi suficiente para neutralizar a retração provocada pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos, em vigor desde agosto, que elevou em até 50% as sobretaxas aplicadas a produtos brasileiros.

De agosto a novembro, o valor exportado para a China avançou 28,6% na comparação com o mesmo intervalo de 2024. No sentido oposto, as vendas para os Estados Unidos recuaram 25,1% no período.

Dinâmica semelhante aparece nos dados de volume exportado. As remessas com destino a portos e aeroportos chineses registraram expansão de 30%, enquanto as exportações direcionadas ao mercado norte-americano tiveram queda de 23,5%.

A diferença entre o comportamento dos valores e dos volumes está relacionada aos preços dos produtos embarcados.

As informações constam no Icomex (Indicador de Comércio Exterior) , divulgado na 5ª feira (18.dez.2025) pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getúlio Vargas). O levantamento analisa dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). Eis a íntegra (PDF – 2 MB).

A China permanece como o principal parceiro comercial do Brasil, à frente dos Estados Unidos. Segundo o Icomex, a participação chinesa –que absorve cerca de 30% das exportações brasileiras– teve papel relevante para compensar a queda nas vendas ao mercado norte-americano.

Segundo o relatório, o presidente norte-americano, Donald Trump (Partido Republicano) “superestimou a capacidade dos Estados Unidos em provocar danos gerais às exportações brasileiras”.

Os segmentos que apresentaram as maiores retrações nas exportações para os Estados Unidos de agosto a novembro foram:

A FGV observa que o volume exportado para os Estados Unidos apresentou crescimento contínuo de abril a julho, sempre na comparação com os mesmos meses de 2024. Com a entrada em vigor do tarifaço, contudo, o movimento se inverteu, com 4 meses consecutivos de retração.

Eis a variação do volume exportado para os Estados Unidos em 2025, na comparação com o mesmo mês de 2024:

Já as exportações brasileiras para a China ganharam força depois do início do tarifaço:

A pesquisadora associada do Ibre/FGV Lia Valls afirma que um dos fatores determinantes para o avanço das exportações ao mercado chinês foi o embarque de soja, concentrado no 2º semestre.

“Na hora que está caindo a exportação para os Estados Unidos, foi o momento que começou a aumentar mais a exportação para a China e teve um impacto na exportação global do país”, disse à Agência Brasil.

No acumulado até novembro, as exportações totais do Brasil cresceram 4,3% em relação aos mesmos 11 meses de 2024.

O Icomex também traz dados sobre as exportações para a Argentina, 3º principal parceiro comercial do Brasil. De agosto a novembro, as vendas ao país avançaram 5% em valor e 7,8% em volume, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Lia Valls ressalta que esse desempenho não tem peso suficiente para neutralizar os efeitos do tarifaço.

“A participação da Argentina na pauta brasileira é muito pequena. A Argentina é muito focada na exportação de automóveis, e a gente praticamente não exporta automóveis para os Estados Unidos”, declarou.

O tarifaço imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump entrou em vigor em agosto de 2025. Ao elevar as taxas sobre produtos importados, o governo dos Estados Unidos afirma buscar proteção da economia doméstica, com estímulo à produção local em detrimento das compras externas.

No caso do Brasil, que foi atingido por uma das maiores sobretaxas, Trump chegou a afirmar que a medida também representava uma retaliação ao tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, segundo ele, estaria sendo perseguido antes de ser condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), em setembro de 2025, por tentativa de golpe de Estado.

Desde então, os governos brasileiro e norte-americano passaram a negociar alternativas para preservar a parceria comercial, inclusive com conversas diretas entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No dia 20 de novembro, Trump retirou uma sobretaxa adicional de 40% aplicada a 269 produtos, dos quais 249 ligados ao setor agropecuário, como carnes e café.

“Os efeitos dessa remoção só ficarão visíveis a partir de dezembro e janeiro”, afirma o Icomex.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, estima que 22% das exportações brasileiras para os Estados Unidos seguem sujeitas às sobretaxas.

Com informações da Agência Brasil.

Por: Poder360

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