O Banco Central não pretende divulgar nenhum comunicado oficial a respeito dos conteúdos das conversas nos últimos meses entre o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Galípolo tem dito a quem o indaga sobre o fato que nunca sofreu pressão de qualquer natureza por parte de Moraes para que não fosse vetada a venda do Banco Master para o BRB (instituição financeira estatal de Brasília) ou para que não houvesse um processo de liquidação. Sempre lembra seus interlocutores que o BC acabou vetando a venda para o BRB em 3 de setembro de 2025 e, depois, liquidou o Master em 18 de novembro.
Brasília tem sido inundada por esses rumores nos últimos pelo menos 2 meses. Ainda em outubro de 2025, o Poder360 ouviu de 2 banqueiros na região da av. Faria Lima (onde se concentram os operadores financeiros e bancários) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relatava saber que Moraes havia telefonado para Galípolo 5 vezes num único dia. Esses contatos, além de um encontro pessoal, teriam coincidido com a propagação da notícia sobre o iminente veto do Banco Central à operação de venda do Master para o BRB.
Os relatos ouvidos pelo Poder360 na Faria Lima indicam que teria sido o próprio presidente do Banco Central quem avisou ao presidente da República sobre as conversas. Na Faria Lima e dentro do STF, o boato ganhou corpo. Lula teria relatado esse episódio, em ocasiões diferentes, a vários interlocutores: banqueiros, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e ministros do STF. O petista expressaria que Galípolo teria se sentido incomodado e que o chefe da autoridade monetária até teria mostrado uma mensagem de texto que recebera em seu celular do ministro do Supremo. O Poder360 apurou, entretanto, que Galípolo tem negado veementemente a todos que o abordam sobre a veracidade dessa narrativa a respeito de ter sofrido pressão por parte de Moraes.
O contexto da boataria sobre a pressão de Moraes, nunca confirmada, torna-se mais complexo porque a advogada Viviane Barci, mulher de Moraes, foi contratada pelo Banco Master. Seus honorários seriam de R$ 3,6 milhões por mês, por 36 meses, totalizando R$ 129 milhões ao final da prestação de serviços. Essas informações foram divulgadas pela jornalista Malu Gaspar. O contrato entre Viviane Barci e o Master nunca foi divulgado na íntegra. Tampouco é conhecido quanto do acordo foi honrado, quais serviços exatamente foram prestados nem quantos pagamentos foram feitos. Viviane e o Master nunca contestaram os dados parciais já publicados.
De outubro para cá, quando surgiu a onda de boatos sobre as conversas entre Galípolo e Moraes, o Poder360 ouviu a mesma história com pequenas variações de diversas fontes, mas sempre com o mesmo sentido. Outros veículos jornalísticos também tiveram acesso a esses relatos. O ministro Moraes nunca se manifestou. Gabriel Galípolo, sempre que abordado por interlocutores diversos, diz que nada procede.
Galípolo não nega que manteve conversas com Moraes. Mas diz que são contatos amistosos. O magistrado estava preocupado com a imposição dos Estados Unidos a ele de medidas com base na Lei Magnitsky –ação tomada em 30 de julho de 2025. A principal consequência da Magnitsky era que Moraes ficaria sem poder fazer operações financeiras nos EUA, mas tampouco em bancos brasileiros que mantivessem alguma operação em solo norte-americano.
Amantes do futebol, Galípolo e Moares têm relação amistosa e sempre comentam em conversas sobre a atuação de seus times. O presidente do Banco Central torce pelo Palmeiras. Moraes, pelo Corinthians.
Esse caso das conversas entre Galípolo e Moraes releva, mais uma vez, um traço idiossincrático dos Poderes da República no Brasil. É comum ministros do Supremo Tribunal Federal falarem com o presidente do Banco Central.
Em outros países, esse tipo de contato é incomum ou inexistente. Nos Estados Unidos, por exemplo, não há notícias de que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, converse com magistrados do Supremo norte-americano nem seja procurado para falar sobre qualquer assunto que afete o Judiciário.





