A atriz e ex-deputada revisitou um dos períodos mais dolorosos da vida ao relembrar militância contra a ditadura militar e o reencontro com o coronel , que a torturou durante o regime. Enquanto estrelava Beto Rockfeller, sucesso da TV Tupi em 1968, Bete atuava secretamente na resistência.
Em entrevista ao , ela contou: “Eu não tinha ideia das coisas. Primeiro, que eu não sabia o que era televisão. Eu comecei no teatro, aí fui chamada para a televisão e a novela estourou. Claro que não ia dar certo. Como não deu. Eles estavam caçando e prendendo todo mundo. A barra era pesadíssima”.
Com o codinome Rosa, em homenagem à revolucionária Rosa Luxemburgo, Bete manteve a militância em sigilo absoluto. “Não só pela responsabilidade e consciência, mas pela segurança dos outros. Naquela época, a situação era tão violenta em termos de repressão que, se alguém soubesse de alguma notícia e comentasse para outra pessoa, passava a ser um risco”, explicou.
A atriz foi detida pela primeira vez após ser chamada para conversar com o Capitão Maurício, então marido de Irene Ravache. “Ela foi a minha madrinha, quem me levou para a TV Tupi […] me disse que ele queria conversar comigo, porque eu estava sob suspeita de participar (da resistência), e que se eu negasse seria tudo normal. Eu topei, tudo na ingenuidade que a gente tinha na época.”

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1 de 3 Bete Mendes Reprodução/TV Globo
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2 de 3 Bete Mendes Reprodução/TV Globo
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3 de 3 Reprodução/Redes sociais
Preservada apenas por falta de provas, ela ficou quatro dias em solitária: “Foi tão traumático que eu perdi quatro quilos em quatro dias. Eles me liberaram como suspeita”. Anos depois, seria novamente presa e torturada por Ustra. “Ele foi diretor, orientador e torturador em diversas regiões do país. Ele era considerado um dos campeões dos torturadores da ditadura. A história é perversa como tudo que esse homem fez”, contou.
Eleita deputada federal pelo PT em 1983, Bete voltou a cruzar com o torturador em uma viagem oficial ao Uruguai com o então presidente José Sarney. “Esse homem, que já estava demissionário de adido militar, vai com pompa, com uniforme de gala, e fica na recepção do aeroporto para nós. Na hora que eu o vi, a tortura inteira voltou”, relembrou a atriz.
O reencontro a abalou profundamente. “Eu fiquei desesperada. Passei quatro dias em Montevidéu quase sem dormir, tomando banho frio, fiquei apavorada. A única coisa que eu tinha consciência é que eu não podia denunciar lá, porque eu ia melar um programa de democratização vagarosa. Mas eu não podia me omitir. Mandei uma carta para o Sarney, fazendo a denúncia daquele adido que foi responsável pelas torturas e que estava premiado.”