Após mediar o , o presidente dos Estados Unidos, , tenta repetir o feito na guerra da Ucrânia. O republicano aposta em sua imagem de “presidente da paz” e busca se consolidar como o grande articulador diplomático do século. Entretanto, ao contrário do que ocorreu no Oriente Médio, o desafio europeu se mostra complexo e delicado, esbarrando em um Vladimir Putin inflexível, um Volodymyr Zelensky sob pressão e uma crise na relação EUA-Rússia.
Na última semana, o governo norte-americano sinalizou a possibilidade de enviar — decisão que, segundo o Kremlin, representaria “uma espiral séria de escalada” no conflito.
O porta-voz Dmitry Peskov alertou que o armamento poderia “agravar o risco de confronto direto entre as potências” e lembrou que os Tomahawks “podem ser equipados com ogivas nucleares”.
A tensão cresce menos de dois meses após a cúpula do Alasca, onde Trump e Putin prometeram “abrir caminho” para a paz.
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“Cenário europeu é muito mais complexo”
Para o especialista em direito internacional Pablo Sukiennik, ouvido pelo Metrópoles, a ambição de Trump em pacificar o Leste Europeu esbarra em um conflito de escala e natureza distintas da guerra em Gaza.
“Não há como comparar a guerra entre Israel e o Hamas com a guerra da Rússia com a Ucrânia”, afirma. “Na guerra Israel-Hamas, países terceiros não se envolveram diretamente.
Segundo Sukiennik, Trump começou as negociações acreditando que a Ucrânia era o principal obstáculo.
“Ele pressionou Kiev para que cedesse o que entendia ser o desejo de Moscou e, assim, alcançasse um cessar-fogo. Mas a Rússia não se deu por satisfeita. Foi então que Trump percebeu que o problema maior estava em Putin”, explica.
Mesmo assim, o especialista destacou que o líder russo não é um interlocutor fácil. Segundo ele, a Rússia está acostumada a lidar com embargos, bloqueios e sanções desde os tempos soviéticos, e há, na sociedade russa, uma percepção histórica de que o Ocidente tenta limitar o desenvolvimento do país — tornando qualquer negociação muito mais complicada.
Sukiennik avaliou ainda que o cenário atual é de alta tensão, sem perspectivas de paz imediata.
“A situação está muito tensionada para imaginar um cessar-fogo rápido. Trump pode até tentar negociar, mas dificilmente terá resultados no curto prazo”, pondera.
Diálogos em pausa e desconfianças em dia
O Kremlin afirmou que as tratativas entre Moscou e Washington não avançam desde agosto, quando Putin e Trump se reuniram em Anchorage. Segundo Peskov, “nada está progredindo”, e Kiev ainda alimenta “falsas esperanças” de vencer no campo de batalha com o apoio ocidental.
Pouco após o encontro, líderes europeus e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, viajaram a Washington para pressionar Trump a manter a aliança com o bloco e endurecer a postura contra Moscou.
O resultado foi um impasse: a Rússia exige que a Ucrânia reconheça a perda de territórios no Donbass e abandone o plano de ingressar na Otan, enquanto Kiev insiste na integridade territorial e em garantias de segurança.
Impasse nuclear reacende desconfiança
O pacto, assinado em 2010, limita o número de ogivas nucleares estratégicas a 1.550 por país e estabelece inspeções mútuas, funcionando há mais de uma década como um dos principais freios à escalada armamentista entre Washington e Moscou.
Putin, chegou a propor, no fim de setembro, uma prorrogação de um ano, até 2026, mantendo os limites atuais de ogivas e lançadores. A sugestão foi recebida com cautela por Trump, que afirmou que a ideia “parece boa”, mas não apresentou nenhuma iniciativa concreta para retomar as negociações.
Moscou alega que futuros acordos de desarmamento deveriam incluir outras potências, como China, França e Reino Unido, sob o argumento de que a “nova ordem multipolar” exige equilíbrio entre todos os arsenais globais. Já Washington vê a proposta como uma tentativa de diluir responsabilidades e evitar inspeções diretas.
Frustração de Trump
O impasse na guerra europeia contrasta com o triunfo diplomático recente de Trump no Oriente Médio. O cessar-fogo entre Israel e Hamas — que envolveu a libertação de reféns e prisioneiros palestinos —
Trump esperava ser reconhecido com o Prêmio Nobel da Paz, mas viu a honraria ir para a opositora venezuelana María Corina Machado, líder do movimento contra Nicolás Maduro. A derrota diplomática foi interpretada como um golpe simbólico em sua tentativa de se firmar como figura global de consenso.
No meio desse impasse, o líder norte-americano tenta se equilibrar entre a retórica da paz e o pragmatismo de uma superpotência em guerra fria com Moscou.

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1 de 6 Putin e Trump no Alasca em agosto de 2025 Andrew Harnik/Getty Images
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2 de 6 Encontro entre Vladmir Putin e Donald Trump Contributor/Getty Images
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3 de 6 Encontro entre Trump e Putin teve várias pautas Andrew Harnik/Getty Images
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4 de 6 Trump e Putin posam para fotos Kremlin
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5 de 6 Encontro de Trump e Zelensky Photo by Chip Somodevilla/Getty Images
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6 de 6 Anna Moneymaker/Getty Images