Um estudo da Fiocruz Amazônia, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, mostra que a poluição por plásticos atinge ecossistemas terrestres e aquáticos da região. A pesquisa foi publicada na revista Ambio e é a 1ª revisão sistemática da literatura sobre o tema no bioma. Segundo o estudo, o rio Amazonas já é responsável por até 10% do plástico que chega aos oceanos.
O epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz, declarou que o trabalho foi desenhado diante da necessidade de enfrentar o problema, sobretudo às vésperas da COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), que será em Belém em 2025. Ele lembrou que 14 de agosto de 2025 foi o prazo definido pela ONU (Organização das Nações Unidas) para que cerca de 180 países concluíssem a redação do 1º tratado global contra a poluição plástica.
“O momento parece oportuno para discutir os intrigantes resultados desta revisão de escopo, a 1ª a aplicar um protocolo sistemático para avaliar a contaminação por plástico em ecossistemas amazônicos”, disse.
A bióloga Jéssica Melo, coautora, declarou que a poluição plástica é global, mas ainda pouco estudada na Amazônia. Ela afirmou que a contaminação de fontes de alimentos e de água representa risco direto à saúde de populações tradicionais.
“A poluição por plástico é uma crise global de Saúde Única (One Health), mas estudos têm se concentrado em ambientes marinhos. A Amazônia –maior bacia hidrográfica do mundo e que tem o segundo rio mais poluído por plástico– tem recebido atenção científica limitada“, afirmou.
Foram analisados 52 estudos revisados por pares que documentaram resíduos em rios, lagos, sedimentos, peixes, outros animais e plantas. Os autores identificaram poluição por macros, mesos, micro e nanoplásticos. Os resíduos vêm de áreas urbanas, embarcações e comunidades locais, atravessando fronteiras nacionais.
No interior do Amazonas, segundo pesquisadores do Instituto Mamirauá, o lixo doméstico era antes composto por resíduos orgânicos. Hoje, garrafas PET e embalagens plásticas dominam os rios.
O estudo aponta lacunas de investigação em fauna não piscícola (espécies não relacionadas à pesca), áreas remotas e países amazônicos fora do Brasil. Defende programas de reciclagem, restrição a descartáveis e maior investimento em educação ambiental para reduzir os impactos.
Os pesquisadores afirmam que medidas locais podem fortalecer o pacto internacional contra a poluição plástica. Segundo eles, só com integração entre compromissos globais e políticas regionais será possível frear a degradação ambiental e reduzir os riscos à saúde de ribeirinhos e indígenas.