Uma investigação do site Aristegui Noticias mostra que a equipe da Televisa, a maior emissora de TV do México, realizava “campanhas de difamação” contra concorrentes –entre eles, o empresário Carlos Slim. O caso está sendo chamado “TelevisaLeaks”.
Segundo a publicação, a medida buscava favorecer interesses políticos. A Televisa, segundo o site, atuou nos bastidores para enaltecer ou tentar destruir a reputação de nomes de relevância. A emissora teria explorado a imagem e os discursos de figuras como o ex-presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, a atual mandatária Claudia Sheinbaum e o partido Morena.
O Aristegui Noticias teve acesso a mais de 5 terabytes de comunicações internas de 2018 a 2024. São milhares de vídeos, fotos, conversas, arquivos, instruções e roteiros que resultaram em campanhas de difamação organizadas a partir da sede da Televisa.
Além da emissora de televisão, a Televisa tem estações de rádio e atua em setores como esportes, entretenimento, filmes, jogos, sorteios e apostas.
Segundo o Aristegui Noticias, as campanhas de difamação eram coordenadas por uma equipe chamada “Palomar”, composta por funcionários da Televisa e da empresa Metrics to Index. Além deles, havia 2 integrantes da Suprema Corte de Justiça da Nação.
Essa equipe produzia, entre outras coisas, relatórios e análises que eram repassados a Javier Tejado Dondé, responsável pela “Palomar”. Dondé enviava esse material para altos executivos da Televisa, como:
O Aristegui Noticias citou também Dora Alicia Martínez Valero, que era diretora geral de Assuntos Eleitorais do Grupo Televisa e atualmente é candidata a ministra da Suprema Corte.
Conforme o Aristegui Noticias, Emilio Azcárraga Jean, herdeiro da família que fundou o império da Televisa, deixou à presidência do grupo em outubro de 2024, depois de uma investigação nos EUA por possível corrupção na compra dos direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2018 a 2030. Desde então, a companhia é dirigida por Alfonso de Angoitia e Bernardo Gómez.
A campanha de difamação utilizava contas falsas em redes sociais, distorção de imagens, áudios e vídeos para alcançar seus objetivos. Uma dessas iniciativas foi realizada para impulsionar Arturo Zaldívar à presidência da Suprema Corte de Justiça da Nação, o cargo mais alto do Poder Judiciário Federal do México. Ele presidiu a Corte de janeiro de 2019 a dezembro de 2022.
Ao mesmo tempo em que impulsionava o nome de Zaldívar, a equipe produzia peças de desinformação contra pessoas consideradas seus adversários.
A disputa com Carlos Slim se deu pelo controle das telecomunicações. Por meio de bots, perfis falsos nas redes sociais e montagens digitais desenhadas, a “Palomar” lançou ataques sistemáticos e disseminação de desinformação para influenciar a conversa pública e prejudicar a imagem do empresário.
Em um dos episódios, a equipe da Televisa teria aproveitado a crise causada pelo colapso de um trecho de uma linha de metrô na Cidade do México para apontar o Grupo Carso, de Slim, como o único responsável pelo ocorrido, omitindo a participação de outras empresas envolvidas na construção do trecho.
Outro episódio se deu em 2017, entre os consórcios de Slim e da Televisa. Na época, a América Móvil, em aliança com a NBC Universal e a Telemundo, apresentou uma oferta milionária pelos direitos de transmissão dos jogos da seleção mexicana de futebol –as partidas costumavam ser exibidas por Televisa e TV Azteca.
A “Palomar”, então, iniciou uma operação contra Carlos Slim, o acusando de querer privatizar o futebol mexicano. Isso foi feito por meio de vídeos e memes publicados por bots e perfis falsos nas redes sociais.