A guerra comercial travada entre os EUA e o resto do mundo desde abril fez o Brasil ganhar importância para a China. A avaliação é do reitor e professor do Instituto de Estudos Financeiros da Universidade de Renmin, Wang Wen. Segundo o docente da universidade localizada em Pequim, o anúncio da imposição da barreira de 50% ao Brasil pode intensificar ainda mais o comércio entre os países.
A avaliação é sustentada por dados da AGA (Administração Geral das Alfândegas da China). Em maio e junho –meses que tiveram a implicação cheia das tarifas norte-americanas de 30% contra Pequim– o comércio entre Brasil e a China aumentou na comparação com o mesmo período do ano passado.
Em maio, houve crescimento de 4,5% ante o mesmo mês no ano passado. Já em junho, o aumento foi de 2,4% ante junho de 2024.
As tarifas foram um impulso na relação que apresentava recuo nos números no início do ano. Na comparação entre o período de janeiro a abril –os meses antes do “Dia da Libertação” de Donald Trump– o comércio entre Brasil e China registrava um recuo de 18,4%, segundo os dados da AGA.
“O comércio da China com o Brasil está crescendo. Desde que os EUA lançaram sua guerra tarifária, a China aumentou suas importações do Brasil. Uma grande parte das importações agrícolas chinesas dos EUA foi substituída por importações brasileiras. Nessa perspectiva, o Brasil está se tornando cada vez mais importante para a China, e vice-versa”, disse Wang ao Poder360.
Para Wang, a aplicação das tarifas norte-americanas ao Brasil pode intensificar as relações entre os 2 países. O Brasil foi taxado em 50% pela Casa Branca na 4ª feira (30.jul).
Foram excluídos 694 produtos –como suco de laranja e aviões. Esses itens ficam sujeitos somente aos 10% –base do tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano em abril e confirmado na 5ª feira (31.jul) como a alíquota para os produtos considerados exceções.
A barreira coloca o Brasil com a maior alíquota entre os países taxados por Trump. Fica acima da taxação chinesa que atualmente está em 30%.
Os chineses chegaram a ser taxados em 145%, mas uma série de negociações resultou em uma trégua entre Pequim e Washington.
A China foi o país que mais resistiu à política comercial de Trump e tem levantado a bandeira do multilateralismo. Segundo Wang, o governo chinês não se imagina se beneficiando das tarifas contra o Brasil e segue tentando unir aliados para derrubar o protecionismo norte-americano.
“Os chineses nunca imaginaram que se beneficiariam das tarifas americanas sobre o Brasil. Este não é um tópico de interesse para pesquisadores chineses”, disse Wang.
A guerra comercial escancarou a disputa global por minérios e principalmente terras raras. A própria China aproveitou sua posição de maior produtora dos minérios essenciais para o setor tecnológico para negociar a trégua com a Casa Branca. Esse pode ser um caminho para o Brasil.
A conjuntura brasileira nesse setor é bem diferente da China. O Brasil produz 10.000 vezes menos terras raras do que a China, mas o USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos) estima que o Brasil é o 2º país com a maior reserva de terras raras, com 21 milhões de toneladas. Fica atrás da China, com 44 milhões de toneladas.
O Brasil já intensificou as vendas de terras raras para a China no 1º semestre de 2025 e também tem nos EUA um de seus principais clientes.
Perguntado sobre uma possível negociação entre Brasil e EUA que garanta privilégios para os norte-americanos na venda de terras raras, Wang disse que isso não preocupa os chineses.
“As compras caras de minerais brasileiros pelos EUA elevarão os preços globais, aumentando assim a receita de direitos de mineração da China no exterior. No entanto, o principal mercado para os minerais brasileiros continua sendo a China. Alavancando seu capital, tecnologia e tamanho de mercado, a China pode manter sua influência aprofundando seus laços industriais com o Brasil”, declarou.