• Quarta-feira, 4 de junho de 2025

Série A registra faturamento de R$ 10,2 bi e aumento de 23% nas dívidas

Corinthians e Atlético-MG lideram ranking de endividamento com R$ 2,3 bilhões cada, segundo relatório.

O futebol brasileiro vive um paradoxo. De um lado, a indústria nunca faturou tanto. Do outro, alguns clubes seguem gastando mais do que arrecadam e acumulando dívidas que colocam em risco a sustentabilidade do setor. É o que indica a 16ª edição do Relatório Convocados 2025, produzido pela Convocados Gestora de Ativos de Futebol em parceria com a OutField Inc., com patrocínio da Galapagos Capital. Eis a íntegra do documento (PDF – 16 MB).

Segundo o relatório, os clubes da Série A faturaram R$10,2 bilhões em 2024, o que representa um crescimento real de 10% em relação ao ano anterior. Apesar do avanço, a alta das chamadas receitas recorrentes — aquelas que não incluem a venda de atletas — foi de apenas 4%. O dado expõe a fragilidade da operação dos clubes, que seguem altamente dependentes das transferências de jogadores para fechar as contas.

As despesas continuam crescendo acima das receitas operacionais. Em 2024, os clubes registraram um resultado negativo acumulado de R$283 milhões. Além disso, o endividamento total disparou, atingindo R$14,6 bilhões — um aumento de 23% em comparação com 2023. Desse total, as chamadas dívidas operacionais, que incluem salários e contratações, cresceram 37%, alcançando R$6,3 bilhões.

Leia o infográfico:

“O futebol brasileiro vive uma contradição. Crescemos em faturamento, vemos um mercado mais profissional e com mais investidores olhando para o setor, mas seguimos operando com risco elevado. A dependência da venda de atletas para fechar as contas é um sinal claro de que a operação recorrente dos clubes não se sustenta. É um modelo que cresce, mas cresce no limite”, analisa Cesar Grafietti, economista responsável pelo estudo.

Um dos motores desse cenário é o crescimento acelerado dos investimentos em contratações, que somaram R$3,4 bilhões em 2024 — o dobro do registrado no ano anterior. Ao mesmo tempo, as despesas financeiras continuam representando um peso significativo na gestão dos clubes. O Corinthians, por exemplo, gastou (R$ 369 milhões) com juros o equivalente à 14ª maior receita da Série A. Já o Atlético-MG pagou (R$ 219 milhões) em juros um valor correspondente à 16ª maior receita da liga.

A concentração das receitas também chama atenção. 4 clubes — Palmeiras (R$ 500 milhões), Fluminense (R$ 268 milhões), Corinthians (R$ 267 milhões) e Athletico Paranaense (R$ 208 milhões) — foram responsáveis por mais da metade de todo o valor arrecadado com transferências em 2024. No campo das dívidas, Corinthians e Atlético-MG encerraram o ano com R$ 2,3 bilhões cada, liderando o ranking negativo.

Leia o infográfico:

“Estamos vivendo um processo de transformação radical no futebol brasileiro, tendo um mercado que vem olhando mais para produto e consequentemente faturando mais. No entanto, alguns clubes também vêm cometendo deslizes e trocando o futuro pelo presente, gastando excessivamente para ganhar hoje. É preciso entender que não há crescimento sustentável se os clubes não mudarem sua relação com a gestão financeira”, afirma Pedro Oliveira, cofundador da OutField.

“O futebol brasileiro precisa de uma mudança real de cultura de gestão, governança e disciplina financeira”, completa o executivo.

Outro destaque do relatório é a consolidação das casas de apostas como uma das principais fontes de receita do setor. Em 2024, elas representaram 7% da receita total da Série A. Ao todo, as Bets injetaram cerca de R$580 milhões nos clubes. A expectativa é que esse número salte para R$1 bilhão em 2025, impulsionado pela regulamentação do setor no Brasil.

Para a Galapagos Capital, que acompanha de perto o movimento financeiro dos clubes, os dados são um alerta.

“O futebol brasileiro precisa ser gerido exatamente como aquilo que é: uma indústria bilionária. É um setor importante da economia que pode ter um crescimento expressivo e sustentável – bastam os clubes encararem a gestão financeira como prioridade. É hora de deixar o imediatismo de lado e adotar práticas de governança e responsabilidade para garantir o futuro do esporte no país”, avalia Andrea Di Sarno, sócio da Galapagos Capital.

Relatório Convocados 2025 também mostra que quase metade dos clubes da Série A operaram no prejuízo no ano passado. 

“O futebol brasileiro vive hoje uma encruzilhada. A indústria cresce, atrai investimentos, mas se não houver uma mudança real na forma como se controla custos e equilibra receitas e despesas, o crescimento pode virar um problema, não uma solução”, conclui Grafietti.

Esta reportagem foi escrita pela estagiária de jornalismo Janaína Cunha sob orientação da editora Thaís Ferraz.

Por: Poder360

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