• Quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Sem correção da tabela, isenção do IR pode ser corroída por inflação

Especialistas alertam que ausência de ajuste na tabela do IR pode empurrar classe média para faixas maiores de tributação.

O Senado aprovou na 4ª feira (5.nov.2025), por unanimidade, o PL (Projeto de Lei) 1.087 de 2025, que aumenta a isenção do IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5.000 por mês. Contudo, o texto não prevê a correção automática dos valores da tabela do imposto, o que pode fazer com que beneficiados hoje acabem pagando imposto no futuro.

Especialistas entrevistados pelo Poder360 alertam que, sem ajuste pela inflação, os R$ 5.000 perdem valor real ao longo do tempo. Isso pode levar trabalhadores que hoje têm isenção a pagar o imposto ou a cair em faixas de tributação maiores, prejudicando principalmente a classe média e afetando a “justiça fiscal”.

A falta de atualização automática dos valores significa que os limites permanecem congelados, sem acompanhar a inflação, o que aumenta a carga tributária aos poucos. A fim de reverter esse problema, o relator do projeto na Câmara do Deputados, Arthur Lira (PP-AL) incluiu em seu parecer um artigo que estabelece que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) envie em até 1 ano um projeto de lei com uma política nacional de atualização dos valores da tabela do imposto voltado a pessoas físicas.

O advogado tributarista Bruno Medeiros Durão reforça que a “defasagem” da tabela do IR já dura mais de 10 anos, prejudicando a classe média: “A falta de atualização corrói o poder de compra e penaliza o contribuinte médio”. Ele explica que, com o passar do tempo, “o poder de compra desses R$ 5.000 será corroído pela inflação, forçando anualmente mais brasileiros de baixa e média renda a entrarem na base de cálculo do imposto” .

Durão alerta que a falta de um gatilho de correção anual obrigatório transforma a atual isenção em “mordida fiscal” no futuro, já que a inflação fará com que “mais brasileiros de baixa e média renda sejam obrigados a pagar imposto”, o que iria desfazer o benefício da isenção em poucos anos.

Segundo o tributarista, o artigo inserido por Lira não é uma solução prática, uma vez que obriga o governo a enviar em até um ano um projeto, mas não garante a correção automática dos valores na tabela do IR. “Na prática, o Executivo apenas se compromete a propor; a aprovação e a implementação ainda dependem do Congresso e das condições fiscais do país”, afirma Durão.

O consultor tributário Francisco Arrighi destaca que a fixação sem atualização desse teto para altas rendas pode aumentar os impostos por efeito “arraste”, atingindo contribuintes que hoje seriam isentos.

Já a procuradora de assuntos tributários da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do DF (Distrito Federal), Tattiana de Navarro, lembra que o projeto é um “ajuste necessário para fechar as contas públicas”, mas ainda carece de correções automáticas para acompanhar a inflação.

Esta reportagem foi escrita pela estagiária de jornalismo Isabella Luciano, sob supervisão do editor-assistente Lucas Fantinatti.

Por: Poder360

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