Na avaliação de Nubia, a corrida de rua aumentou muito, “então esse é um momento onde a mulher se reencontra e onde vencemos os nossos desafios, porque a gente não tem limite. A gente que impõe os nossos limites, e a corrida mostra isso: superação e determinação a todo momento”, destacou. A brasileira Jeane dos Santos foi outra corredora a exaltar o aumento da participação de feminina na São Silvestre. “Não esperava hoje estar participando da centésima São Silvestre. E hoje eu me vejo nesse cenário lindo, que me tirou da depressão e de uma crise de ansiedade”, confessou. “Na minha cidade, que é Santo Antônio de Jesus, na Bahia, eu sou referência para todas mulheres. Muitas mulheres mandam mensagem para mim dizendo que começaram a correr através de mim”, disse a atleta.“Todas as mulheres que participaram da São Silvestre, e as que foram campeãs, me motivam e me inspiram, assim como a gente também, que agora está nesse cenário, motivamos outras mulheres a estarem participando [da prova]”, acrescentou.
“Hoje a corrida é uma libertação para nós, mulheres. Quando eu começo a correr ou vou treinar, esqueço do mundo, esqueço de tudo e me sinto livre. É o que nós, mulheres, temos que sentir: sermos livres”, completou Jeane.
Tabu
Outra adversária das brasileiras é a atleta da Tanzânia, Sisilia Ginoka Panga. Ela revelou ser sua primeira vez no Brasil, está curtindo muito o clima e a energia de São Paulo, e pronta par correr. “Me preparei bem nesse período e, com certeza, vou fazer uma boa corrida”, afirmou.“Correr no Brasil é muito bacana porque as pessoas, durante o percurso, ficam saudando os atletas. Isso traz muita alegria e me sinto muito bem correndo aqui”, destacou.
Jeito africano e jeito brasileiro
No masculino, a última vez que um atleta brasileiro venceu a São Silvestre foi em 2010, com Marilson Gomes dos Santos. Desde então, o domínio quase exclusivo é de atletas africanos. Para Johnatas Cruz, o brasileiro melhor colocado nas duas últimas edições da São Silvestre, destacou a forma de competir dos africanos na comparação com os brasileiros. Segundo ele, enquanto os africanos treinam e correm de forma coletiva, os brasileiros valorizam a individualidade. Em sua visão, "se esse jeito brasileiro de correr não for alterado", dificilmente o Brasil voltará ao topo da prova.O também brasileiro Wendell Jerônimo Souza, concorda. “É muito importante ter um grupo, no início da prova, mais cadenciado de brasileiros. E no mesmo ritmo, de preferência. Às vezes é meio complicado porque nem todos vão estar leves no dia da prova. A prova é desse jeito, com altos e baixos e variações, com plano, descida e subida. Mas se tiver uma possibilidade, se tiver grupo, pode-se chegar mais adiante e fazer uma prova diferente”, destacou. O queniano “quase brasileiro” Wilson Maina, que diz adorar o país, comentou sobre essa diferença na forma de se correr a São Silvestre e que, nos últimos anos, vem favorecendo atletas africanos. “O segredo dos africanos hoje em dia é treinar juntos e ter amor [pelo seu companheiro de corrida]”, explicou.“Eu acredito que isso será um divisor de águas para também a gente começar a não só ganhar São Silvestre, mas ganhar outras competições de nível como a São Silvestre é no Brasil. Correr em grupo é muito importante. Correr em grupo com o seu compatriota, com o colega do mesmo país, com o colega da mesma equipe, ajuda e muito. A gente sabe que um só vai ganhar, mas o máximo possível que a gente puder ajudar um ou outro no decorrer do percurso, isso ajudaria muito mais do que correr individualmente e cada um traçar a sua estratégia”, afirmou.
Segundo Maina, a principal diferença entre os atletas brasileiros e os atletas de países africanos é, de fato, essa união. “O brasileiro treina muito sozinho. O queniano treina junto. E essa coisa de estar em grupo é muito mais fácil. Quando você está só, você tem que superar algumas outras dificuldades sozinho”.“O mais importante, dentro do treinamento, é existir amizade entre os atletas. Isso é o que faz com que possamos ir para a frente”, completou Joseph Panga, da Tanzânia.





