O presidente do Comitê Militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Giuseppe Cavo Dragone, declarou que o bloco considera adotar uma resposta “mais agressiva” à guerra híbrida travada com Moscou. Em entrevista para o Financial Times, o almirante italiano afirmou que a Otan pode intensificar suas reações a ameaças e assumir uma postura proativa.
A Europa tem sido alvo de ciberataques, cortes de cabos submarinos, violações do espaço aéreo e sabotagens, muitas vezes de origem incerta ou atribuídas à Rússia. “Estamos estudando tudo… No ciberespaço, somos meio reativos. Ser mais agressivos ou proativos em vez de reativos é algo que estamos considerando”, disse Dragone.
O chefe militar da Otan afirmou que a organização tenta identificar formas de agir antes que novos incidentes ocorram, e mencionou que, dependendo do contexto jurídico e político, um “ataque preventivo” poderia ser considerado uma ação defensiva. Segundo ele, há debate interno sobre como responder a ações “assimétricas” e de difícil atribuição.
Países do Leste Europeu têm pressionado a aliança para abandonar respostas apenas posteriores a ataques e adotar medidas de dissuasão mais diretas, especialmente no campo cibernético. Dragone reconheceu que ações ofensivas em ambiente digital são mais simples do que medidas físicas, como interceptações ou operações contra sabotagem.
O comandante afirmou ainda que a Otan busca reforçar sua presença no Mar Báltico, onde episódios de corte de cabos e sabotagens submarinas se repetem desde 2023. Para ele, a operação Baltic Sentry tem funcionado como instrumento de dissuasão.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia reagiu duramente as declarações do almirante da Otan. Em comunicado oficial, a porta-voz Maria Zakharova classificou as falas como um “passo extremamente irresponsável”, afirmando que mostram a disposição do bloco rival em “avançar ainda mais rumo à escalada”.
Segundo o governo russo: “Consideramos a declaração de G. Cavo Dragone sobre a possibilidade de ataques preventivos contra a Rússia uma medida extremamente irresponsável, que indica a prontidão da aliança em continuar caminhando para uma escalada do conflito.”
A chancelaria afirmou que declarações como a de Dragone “minam esforços para resolver a crise ucraniana” e representam “uma tentativa deliberada de sabotar iniciativas diplomáticas”. Moscou acusou a Otan de promover “histeria antirrussa” ao apresentar o país como ameaça iminente, sem provas de sua participação em ações híbridas.
O texto diz ainda que o bloco do Atlântico Norte abandona, na prática, seu discurso de que possui “caráter exclusivamente defensivo”. “As revelações autoincriminatórias de G. Cavo Dragone sobre ‘ataques preventivos’ colocam um ponto final nessa mitologia”, afirma o governo russo.
A troca de declarações ocorre em meio ao aumento das operações militares no Mar Báltico e à continuidade da guerra na Ucrânia. Embora Dragone tenha afirmado que a Otan busca manter a dissuasão e evitar escaladas, o governo russo sustenta que qualquer menção a ataques preventivos será tratada como ameaça direta.





