Ele observou, ainda, que denunciantes ficam expostos e suscetíveis ao fazer relatos à equipe, logo após uma ocorrência. Para ele, uma das prioridades consiste em fortalecer as medidas de proteção às testemunhas. Caseri reconheceu que o posto é um desafio e se vê como alguém que "sempre trabalhou com conflito, em momentos de tensão", sinalizando que sua experiência o preparou para os desafios da ouvidoria. Um dos planos é realizar reuniões quinzenais com os integrantes do conselho da ouvidoria, mesmo antes de o governador Tarcísio de Freitas oficializar a composição. O conselho é apenas consultivo, não tendo caráter de tomar decisão. O colegiado pode convidar representantes de entidades de diversas categorias. Segundo o ouvidor, devem ser chamados representantes do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) para o desenvolvimento de ações de apoio a crianças diante da violência policial. Caseri é uma das figuras por trás da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e advoga a favor dos conselhos tutelares. "Há, muitas vezes, uma visão muito antagônica à das polícias", comentou."É preciso levar [o serviço da ouvidoria] à periferia", disse Caseri.
Policiais
Caseri destacou que há preocupação com as condições de trabalho dos agentes policiais. Ele criticou os critérios para a lotação dos policiais, como exemplo, o local de trabalho que fica, muitas vezes, distante da residência o que interfere no tempo de convívio com a família. Salientou também que as jornadas de trabalho são longas. "Em São Paulo, a hora extra é institucionalizada", afirmou, acrescentando os expedientes são de 12 horas. "Tem coisas que a gente precisa discutir e que não são ideológicas", ponderou. Em relação à escalada de ocorrências envolvendo abusos de policiais, o advogado e ouvidor avalia que é consequência de "sinais dados". "Pronunciamentos de autoridades que têm um resultado na ponta." Outra crítica é quanto à conduta violenta nas ruas. A saída, conforme ele, pode estar na capacitação reiterada, "como se faz na educação". "Ficam uma década na rua e não são reavaliados."Prédio da sede
Em sua gestão, Caseri pretende dar atenção ao arquivo de documentos, que acumula 30 anos de papelada, e o tratamento de dados recentes. "É um acervo, mas sem característica de acervo", classificou o novo ouvidor. Os dados, se forem tabulados devidamente e consolidados, poderão contribuir com a avaliação da atuação das polícias. Conforme ressaltou aos jornalistas, o sistema é da década de 1980 e agora foi substituído por um mais moderno. O órgão também considera que não basta produzir e armazenar dados, mas repensar como são divididos, já que podem estabelecer associações e cruzamentos e traçar panoramas importantes. "O sistema de agora trouxe uma facilidade para a gente repensar nosso trabalho, inclusive para a gente melhorar nossa velocidade de recebimento e processamento dessas informações", defende a pesquisadora Fernanda Pereira, responsável pelo banco de dados, e que está na equipe desde 2023. Com a ferramenta recente, será viável, por exemplo, ter domínio de dados como o bairro e o perfil étnico-racial dos denunciantes, além dos endereços onde há mais ocorrências. Quanto à sede da Ouvidoria, o prédio necessita de reparos e melhorias. Atualmente, a equipe de 15 pessoas trabalha sem internet wi-fi. Caseri explicou que o projeto executivo de reforma, no valor de R$ 3 milhões, "está pronto e pago". Faltam ainda R$ 2 milhões para fechar o orçamento. A previsão é que a reforma dure de 18 a 24 meses.Secretaria de Segurança
Procurada pela Agência Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do estado disse que foram investidos R$ 750 milhões em novos armamentos, entre outras melhorias e a contratação de quase 9,2 mil agentes. A pasta afirmou que os agentes passam por constantes processos de qualificação, desde que são admitidos pelas corporações. "A Secretaria de Segurança Pública tem respondido a todos os questionamentos dos órgãos de controle e divulga mensalmente os dados no portal da pasta. Informações detalhadas sobre boletins de ocorrência, no entanto, são analisadas de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD", informa. Em relação às ocorrências durante a Operação Escudo, a secretaria afirmou que "são rigorosamente investigadas, em segredo de Justiça, pela DEIC de Santos e pela Polícia Militar, com acompanhamento das respectivas corregedorias, Ministério Público e Poder Judiciário." A Operação Escudo foi deflagrada na Baixada Santista em 2023, após a morte do policial militar Patrick Bastos Reis, das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota). Ao todo, a operação culminou na morte de 28 pessoas. Relacionadas
Ouvidoria da Polícia e OAB de SP criticam criação de órgão paralelo

Conselho define lista tríplice para ouvidoria de polícias de São Paulo