• Sexta-feira, 4 de julho de 2025

Lula tenta retomar relevância do Mercosul após presidência de Milei

Javier Milei deixa a presidência do Mercosul com o fim das negociações com a EFTA, e espera conclusão do acordo com a União Europeia

Buenos Aires – O presidente da , , deixou a presidência rotativa do , bloco econômico que reúne os países da América do Sul, e passou o comando para nessa quinta-feira (3/7). À frente do bloco a partir de agora, o brasileiro tem o desafio de conseguir mudar o quadro de certa “letargia” do argentino na presidência. A expectativa é que Lula consiga ampliar mais o espaço do bloco no mundo. O argentino, que demonstrou mais de uma vez desagrado público em fazer parte do grupo por considerar sua política muito restritiva, deixou a presidência fazendo críticas ao próprio bloco e com avisos ao novo presidente. Durante a cerimônia, ele mencionou, mais uma vez, uma possível saída do grupo, caso o Brasil não seguisse as diretrizes e políticas desenvolvidas durante a presidência argentina. “Propusemos uma estrutura mais livre, em vez da Cortina de Ferro à qual estamos submetidos hoje. Precisamos parar de pensar no Mercosul como um escudo contra o mundo e vê-lo como uma lança”, disse Milei. “Se os parceiros do bloco insistirem no mesmo caminho que não funcionou, teremos que insistir em flexibilizar as condições de parceria que nos unem”, disse Milei. “Embarcaremos no caminho da liberdade, e o faremos juntos ou sozinhos, porque — como já disse — a Argentina não pode esperar”, insistiu o presidente argentino. Mercosul na Argentina A Argentina deixou a presidência temporária do Mercosul nesta semana. Javier Milei bateu o martelo e realizou a transferência de poder para o presidente Lula, que comandará o bloco econômico até dezembro de 2025. Durante o discurso, Milei criticou o Mercosul por privilegiar apenas alguns setores e criar uma estrutura “elefantiásica”. Ele ainda sugeriu que a Argentina pode deixar o bloco caso o Brasil e os outros membros não flexibilizem as regras. Já Lula defendeu que o Mercosul é “um lugar seguro” para o Brasil e enfatizou a importância do bloco. A declaração do petista foi apoiada pelos presidentes Yamandú Orsi (Uruguai) e Luis Arce (Bolívia) apoiaram a visão de Lula e defenderam o Mercosul como está. Já Santiago Peña (Paraguai) demonstrou proximidade com as visões pregadas por Milei. Leia também Em dezembro do ano passado, durante a Cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai, Milei chamou o bloco econômico de “prisão” e disse que o Mercosul atrasaria o desenvolvimento da Argentina. Na época, o presidente argentino assumia a presidência do bloco econômico. Agora, com a presidência brasileira, o bloco deve se voltar cada vez mais à integração regional e à retomada de acordos. Ele defendeu que a política do bloco prejudica o avanço de negociações com outros países, o que causaria uma diminuição da relevância das economias locais. Milei comemorou o acordo entre o Mercosul e a , que reúne quatro países do continente. Ele também destacou as expectativas para conclusão da deliberação com a União Europeia e os Emirados Árabes Unidos. O presidente argentino tem adotado um posicionamento cada vez mais favorável ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Agora, com a presidência brasileira, o bloco deve se voltar em outro caminho. Com Lula, a expectativa é de que o bloco seja recolocado no centro das interações sul-americanas e destrave acordos comerciais. Durante o discurso no Mercosul, Lula defendeu o bloco e destacou que a relação entre os países da América do Sul é importante em momentos de incertezas. “Quando o mundo se mostra instável e ameaçador, é natural buscar refúgio onde nos sentimos seguros. Para o Brasil, o Mercosul é esse lugar. Ao longo de mais de três décadas, erguemos uma casa com bases sólidas, capaz de resistir à força das intempéries. Conseguimos criar uma rede de acordos que se estendeu aos Estados associados”, pontuou o presidente brasileiro. Presidência brasileira O chefe do Palácio do Planalto apontou quais serão os objetivos da presidência brasileira à frente do Mercosul, um deles é a ratificação do acordo comercial com a União Europeia, que se arrasta por mais de 20. Agora, os negociadores esperam a aprovação do tratado pelos parlamentos europeus e sul-americanos. A previsão é de que o tratado seja ratificado até dezembro, quando o Brasil encerra seu mandato à frente do bloco. Lula também espera fortalecer o “Mercosul Verde”, com uma agenda ambiental mais intensa, principalmente para facilitar a aprovação de acordos que depreendam de questões climáticas, como aconteceu com as negociações com a União Europeia. “Por meio do programa Mercosul Verde, vamos fortalecer nossa agricultura sustentável. Nossa cooperação promoverá padrões comuns de sustentabilidade, mecanismos de rastreabilidade e inovações tecnológicas. Precisamos de ímpeto renovado para recuperar nossa capacidade industrial com responsabilidade ambiental. Vamos propor a formulação de uma taxonomia sustentável no Mercosul, para atrair investimentos em prol de uma transição justa”, enfatizou o petista durante a Cúpula. Apesar das divergências com Milei, Lula defendeu que irá manter o diálogo para dar continuidade ao trabalho realizado pelo Mercosul. “Nós temos todas as condições, temos um povo generoso, temos conhecimento científico e tecnológico. Sabemos como fazer política, portanto depende de cada um de nós. Eu prometo a vocês que vou fazer a minha parte”, finalizou o petista. Lula busca ampliar o seu protagonismo internacional, em especial na defesa do multilateralismo. Essa postura é antagônica com a ascensão de visões mais protecionistas em outros países da América, como as defendidas por Donald Trump nos Estados Unidos.
Por: Metrópoles

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