O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden (Democrata) “pensava que a Rússia precisava ser destruída”. Em entrevista publicada no Le Monde nesta 5ª feira (5.jun.2025), falou sobre a responsabilidade dos países ocidentais na persistência da guerra entre Rússia e Ucrânia.
“A Europa, que por muito tempo incorporou um meio-termo no mundo, agora se alinhou a Washington e está gastando bilhões em armamento. Isso me preocupa. Se só falarmos sobre guerra, nunca haverá paz”, disse.
Lula também falou sobre Donald Trump (Republicano), atual presidente dos Estados Unidos. “Ele foi eleito para governar os EUA, não o mundo”, declarou. Quando questionado sobre a possibilidade de o Brasil receber uma taxa de 100% em suas exportações caso se afaste do dólar, o petista disse que as “ameaças de Trump não assustam ninguém”.
Segundo ele, o Brasil irá atuar em prol de seus próprios interesses e lutar por um comércio internacional mais justo. “Está fora de questão pedir a permissão de Washington para escolher a moeda que consideramos mais adequada para as nossas transações”.
O Brasil enfrenta hoje tarifas de 10% sobre suas importações, conforme anunciado por Trump em abril de 2025. No setor de aço, a alíquota aumentou para 50% na 4ª feira (4.jun). O Brasil deve ser um dos países mais afetados pela elevação.
“Dei instruções muito claras aos meus ministros: primeiro vamos dialogar o máximo possível, com calma. Quero que usemos todas as palavras do dicionário de negociação. Mas, se isso não funcionar, estamos prontos para aplicar uma lei de reciprocidade nas tarifas comerciais”, afirmou Lula.
O presidente declarou, ainda, que a intenção da próxima Cúpula do BRICS não é mandar uma resposta para Trump. “O Sul Global tem um único objetivo: crescimento e desenvolvimento. Os BRICS não têm inimigos, nem querem ter. O Brasil quer manter boas relações tanto com a China quanto com os Estados Unidos. Não queremos um retorno à Guerra Fria”, explicou o presidente. Representantes dos países integrantes do bloco se reunirão no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho.
O presidente começou nesta 5ª a sua visita oficial à França. A viagem inclui reuniões com o presidente Emmanuel Macron, participação na 3ª Unoc (Conferência das Nações Unidas sobre Oceanos) e visitas a estaleiros navais em Toulon.
Lula também tem encontros marcados com líderes empresariais, e participação confirmada em eventos da temporada cultural França-Brasil. O presidente concedeu a entrevista ao jornal Le Monde antes de embarcar para a Europa.
Sobre Macron, Lula afirmou ser grato pela recepção promovida pelo colega em 2021 no Eliseu, quando o petista ainda não era presidente da República. “Quando ele veio ao Brasil, certifiquei-me de dar as devidas boas-vindas. Nos ligamos com frequência, e nossas mulheres se dão muito bem. Temos uma relação especial”.
