• Terça-feira, 17 de junho de 2025

Israel deseja destruir arsenal iraniano, mas precisa de ajuda dos EUA

Depósitos subterrâneos do Irã desafiam capacidade militar de Israel, que busca apoio americano para atingir alvos estratégicos

O ataque de uma amplitude sem precedentes lançado na sexta-feira (13/6) por Apesar do impacto, especialistas afirmam que os depósitos subterrâneos mais profundos — considerados cruciais para o arsenal nuclear — permanecem intactos. Segundo analistas, Israel precisaria da ajuda dos EUA para alcançar essas estruturas altamente protegidas. A operação, batizada de Leão em Ascensão, vai durar “o tempo que for necessário”, advertiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dizendo dispor de informações comprovando que o Irã está se aproximando do “ponto sem retorno” rumo à bomba atômica. “Israel pode atrapalhar o programa nuclear iraniano, mas é pouco provável que consiga destruí-lo”, comenta à AFP o pesquisador Ali Vaez, do International Crisis Group, um centro de estudos norte-americano. Segundo ele, “para destruir as instalações fortificadas de Natanz e Fordo”, enterradas a grandes profundidades no Irã. Seria necessário, para isso, “o apoio militar dos Estados Unidos”, confirma Kelsey Davenport, especialista da Arms Control Association. O conhecimento adquirido por Teerã tampouco pode ser desprezado, mesmo que nove cientistas nucleares tenham sido mortos nos ataques, acrescenta ela. Thierry Coville, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS na sigla em francês), especialista em Irã, explica à RFI que “o programa nuclear iraniano é um saber que foi adquirido. Existem centenas de pesquisadores no Irã. Então, Israel pode continuar tentando destruir os locais de enriquecimento de urânio do país, mas esse conhecimento vai permanecer. Acho que há um certo número de pessoas no Irã que vão ter, inevitavelmente, muita, muita vontade de se dirigir rumo à bomba atômica depois de tudo isso.” No momento, o centro piloto de enriquecimento de urânio de Natanz, no centro do país, foi “destruído” em sua parte superficial, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), citando informações das autoridades iranianas. Essa destruição, confirmada por imagens de satélite, é “significativa”, avalia em um relatório o Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional (ISIS), uma entidade com sede nos Estados Unidos especializada em proliferação nuclear. Armazenamentos nucleares “nunca devem ser atacados” Os ataques que visam a alimentação elétrica “podem danificar fortemente” as milhares de centrífugas existentes, máquinas usadas para enriquecer urânio, “caso as baterias de emergência se esgotem”. “No mínimo”, Natanz “não poderá operar por algum tempo”, acrescenta o instituto. O outro local de enriquecimento de urânio, o de Fordo, situado ao sul da capital iraniana, também foi visada. Segundo Teerã, os danos causados foram menores. A usina de conversão de Ispaan (centro) também faz parte dos alvos. É, a princípio, nesse complexo que estão localizadas as importantes reservas de urânio altamente enriquecido. “: Natanz e Fordo. Mas, aparentemente, hoje, o que sabemos é que esses locais são subterrâneos”, analisa para a RFI Emmanuelle Gallichet, professora de física nuclear no CNAM, em Paris. “Os bombardeios não atingiram de forma estratégica as instalações subterrâneas. Por enquanto, não sabemos se isso é dramático para o Irã. Com certeza, isso traz atrasos. Mas será que o atraso é consequente ou contornável? Por enquanto, não tenho essa informação. Graças à AIEA, que tem câmeras no local e especialistas que foram até lá, sabemos que há uma grande dúvida sobre a ambição civil do Irã quanto à energia nuclear. Eles estão enriquecendo urânio além do necessário para simples reatores civis. Estão enriquecendo acima de 60%. Vimos traços, talvez, de até 80%, segundo a AIEA. Então, hoje estamos quase certos de que eles têm a ambição de fabricar a bomba atômica.” O que aconteceu com esses estoques? Impossível saber neste momento. “Se o Irã conseguir transferir uma parte para instalações secretas, Israel terá perdido a partida”, destaca Ali Vaez, do International Crisis Group. A agência nuclear da ONU não constatou aumento nos níveis de radiação nos diversos locais atingidos. “Há muito pouco risco de que os ataques contra instalações de enriquecimento de urânio causem vazamentos radioativos perigosos”, aponta Kelsey Davenport. Por outro lado, um ataque contra a central nuclear de Bushehr (sul) poderia ter “consequências graves para a saúde e o meio ambiente”. “Os locais nucleares nunca devem ser atacados, independentemente do contexto ou as circunstâncias, pois isso pode prejudicar a população e o meio ambiente”, insistiu na sexta-feira (13) o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi. Os ataques israelenses aproximaram politicamente o Irãda arma nuclear Após a retirada unilateral em 2018 dos Estados Unidos do acordo internacional sobre o nuclear, concluído três anos antes, , acelerando principalmente o enriquecimento de urânio muito além do limite de 3,67%. O país dispunha, em meados de maio, de 408,6 kg de urânio enriquecido a 60%. Tal estoque, se fosse enriquecido a 90% — o nível necessário para a construção de uma arma atômica —, permitiria fabricar mais de nove bombas. O Irã é o único país do mundo não detentor de armas nucleares que produz tal material, segundo a AIEA, que também lamenta a falta de cooperação de Teerã. No entanto, em seu último relatório, a Agência afirma que “não dispõe de nenhuma indicação credível de um programa nuclear estruturado” visando dotar o Irã com a arma atômica, como ocorreu no passado. Leia também Teerã nega ter ambições para armas nucleares “Até agora, os custos relacionados à militarização superaram os benefícios. Mas esse cálculo pode mudar nas próximas semanas”, alerta Kelsey Davenport. “Os ataques israelenses , mas no plano político, o aproximaram da bomba nuclear”, prossegue a especialista em controle de armas. Sobretudo porque agora existe “um risco real de desvio de urânio enriquecido”, uma operação que “poderia passar despercebida por semanas”, já que os ataques atuais impedem os inspetores da AIEA de acessarem os locais. “Netanyahu quer sabotar as negociações” Uma nova rodada de negociações deveria ocorrer entre Teerã e Washington sobre o programa nuclear iraniano no último domingo (15/6), em Mascate, no sultanato de Omã. “Havia conversas acontecendo há alguns meses, desde que Trump chegou ao poder nos EUA”, explica à RFI Emmanuelle Gallichet. “Havia um compromisso de negociações com cinco reuniões já realizadas entre os Estados Unidos, sob a mediação do sultanato de Omã, tentando conter o programa nuclear militar do Irã. Então, Israel atacou antes dessas últimas conversas. Atacaram no 61º dia. Trump havia dado 60 dias ao Irã para responder à sua proposta. Há, portanto, uma espécie de aceleração nas pressões sobre o Irã para que abandone seu programa nuclear militar, sabendo que tem direito, pois assinou o TNP (Tratado de Não Proliferação), e tem todo o direito de manter um programa nuclear civil.” “Os essa questão nuclear de forma pacífica. Foram cinco rodadas de negociação e esperava-se uma na sexta. Acho que um dos objetivos bastante claros de Netanyahu com esse ataque foi sabotar essas negociações”, conclui Thierry Coville. Leia outras reportagens como esta em , parceiro do Metrópoles.
Por: Metrópoles

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