"Se o cessar-fogo colapsar, não haverá mais isenção para o Estado do Líbano. Nós vamos fazer cumprir o acordo com o máximo impacto e tolerância zero. Se até agora nós diferenciamos o Líbano do Hezbollah, isso não será mais o caso", afirmou o ministro Israel Katz (Defesa).
Ele falou durante uma visita à fronteira norte do seu país com o Líbano, nesta terça (3). Ele disse que o governo em Beirute precisa "autorizar o Exército libanês a fazer sua parte, manter o Hezbollah longe do Litani e desmantelar sua infraestrutura".
Litani é o rio que marca a fronteira norte da zona de exclusão combinada entre Israel, Hezbollah e o Líbano sob os auspícios dos EUA há uma semana. Pelo acordo, em até dois meses os extremistas terão de sair da região compreendida entre o corpo d'água e a fronteira israelense, cerca de 30 km ao sul.
O Exército libanês já disse que ocupará a região com 6.000 soldados, enquanto Israel retira suas forças, que invadiram no começo de outubro. Tal arranjo já foi tentado duas vezes no passado, sem sucesso, e a tentativa atual já dá sinais de precariedade.
Parte disso decorre da leitura israelense do cessar-fogo, o qual suas Forças Armadas dizem que vão implementar à bala, uma contradição em termos. Na visão de Tel Aviv, o Hezbollah tem tentado manter sua infraestrutura no sul libanês.
Assim, Israel seguiu com suas operações militares na região, com bombardeios pontuais de posições do grupo rival. Na segunda, isso evoluiu para o primeiro ataque retaliatório do Hezbollah contra território israelense desde a trégua, que foi respondido com ataques aéreos que haviam sido suspensos contra o Líbano.
A ameaça de Katz a Beirute pode ser apenas retórica, mas é uma mudança de tom em público. Até aqui, Tel Aviv sempre separou o governo libanês do Hezbollah, que também é um partido político no país vizinho.
Em especial depois da guerra encerrada com um empate com Israel em 2006, o grupo cresceu muito sua musculatura militar, ultrapassando em capacidades o Exército libanês. Sua influência política, derivada do apoio direto de Teerã, também aumentou na mesma proporção.
Nos bastidores, segundo relatos, a negociação com os EUA para o cessar-fogo incluiu demandas israelenses que minavam a soberania libanesa, como liberdade de atuação em seu espaço aéreo. Mas ameaça militar direta é novidade.
Apesar da escalada, o cessar-fogo interessa a ambos os lados. As forças de Israel, como admitiu o premiê Binyamin Netanyahu, estão exaustas após mais de um ano de guerra em várias frentes, disparada pelo ataque terrorista do Hamas palestino em 7 de outubro de 2023.
Já o Hezbollah, que era o mais formidável instrumento da política iraniana de fomentar grupos regionais, como o aliado Hamas, contra Israel e os EUA, está alquebrado. Quase todas as suas lideranças foram mortas, inclusive o chefe Hassan Nasrallah, e Tel Aviv estima ter anulado cerca de 80% de seu temido arsenal de mísseis e foguetes.
Assim, um tempo para respirar parece essencial aos extremistas islâmicos também. Cabe lembrar que os dois lados mantiveram um nível de atrito comedido até o fim de setembro, sem escalar para a guerra que se viu desde então, e têm contas a prestar para suas audiências domésticas.
Em campo, houve ao menos um ataque israelense com drones relatado perto de Nabatieh, sul libanês, que segundo a mídia local deixou dois feridos.