O mercado de ações de países latinos registra alta em 2025. Enquanto o Ibovespa, no Brasil, e o S&P BMV, no México, acumulam alta superior a 14% no ano, os principais índices dos EUA e da China estão estagnados por causa da guerra comercial.
As Bolsas de Valores do Brasil e do México são as maiores da América Latina. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou aos 138.716 pontos na 4ª feira (18.jun.2025), a 0,99% do recorde nominal histórico de 140.109 pontos, registrado em 20 de maio de 2025.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), tomou posse em 20 de janeiro. Em fevereiro, anunciou que aumentaria tarifas sobre aço e alumínio, mas o principal anúncio veio em 2 de abril. O Liberty Day (Dia da Libertação) foi apresentado como a declaração de independência econômica dos EUA. Leia aqui quais foram as tarifas anunciadas no dia.
A China e os EUA negociaram um acordo para manter a trégua na guerra comercial. A troca de tarifas entre os 2 países afetou os principais índices acionários dos EUA. Em 2025, o Dow Jones caiu 0,88%; o S&P 500 subiu 1,69%; a Nasdaq, 1,22%. Na China, o índice de Xangai avançou 1,11%.
Brasil e México saem fortalecidos desse cenário. Gustavo Moreira, planejador financeiro CFP, disse que os mercados latino-americanos se beneficiam da realocação global de capital.
“Investidores internacionais estão migrando parte de seus recursos para países emergentes, em especial os latino-americanos, por dois motivos principais: o 1º é o valuation atrativo. Segundo o relatório do ‘Semafor‘, enquanto o investidor paga mais de US$ 19 por cada dólar de lucro em economias desenvolvidas, como os EUA, paga cerca de US$ 9 na América Latina”, disse Moreira.
O especialista afirmou que o desconto chama atenção num cenário de juros elevados. “Cada centavo investido precisa entregar mais retorno”, disse.
Moreira disse ainda que há tendência de diversificação de carteiras conforme o risco geopolítico: “Durante incertezas envolvendo a política monetária dos EUA e disputas comerciais, investidores buscam oportunidades fora do país, apostando em economias com espaço para valorização”.
As tensões comerciais, segundo ele, estão provocando realocação de cadeias produtivas e de fluxos de investimento. “Na medida em que os EUA adotam tarifas e barreiras contra concorrentes estratégicos, empresas e investidores buscam regiões alternativas. A América Latina aparece como beneficiária desse movimento de desglobalização parcial”, disse o especialista.
O fluxo para a região, segundo Moreira, tende a continuar caso os juros norte-americanos deem sinais mais claros de queda. “Isso pode potencializar o apetite por risco. Por outro lado, é preciso atenção aos desafios internos: questões fiscais, decisões de política monetária e o calendário eleitoral em alguns países podem gerar ruídos”, afirmou.
Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, disse que a incerteza em torno das políticas econômicas de Trump levou o mercado a “reprecificar” os ativos norte-americanos, incorporando um prêmio de risco mais elevado aos investimentos dolarizados.
“Esse movimento impactou diretamente as principais Bolsas dos EUA e provocou o enfraquecimento do dólar frente às moedas de países emergentes e desenvolvidos. Nesse contexto, observou-se uma intensificação da busca por diversificação geográfica”, afirmou Shahini.
Embora os EUA continuem sendo o maior e mais líquido mercado de capitais do mundo, o especialista disse que o ambiente político e institucional norte-americano tem mostrado sinais de instabilidade.
“O mercado antecipou benefícios de uma possível reconfiguração das cadeias globais de fornecedores de commodities, com algum ganho potencial para o Brasil”, declarou Shahini.
Outros países da região também registraram alta nos mercados acionários, embora movimentem menos capital estrangeiro que Brasil e México. O S&P CLX, do Chile, subiu 20,8%. O Colcap, da Colômbia, avançou 19,7%. O S&P Lima, do Peru, teve alta de 12,6%. Os dados são referentes ao fechamento de 4ª feira (18.jun).