• Quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Gaza: aliados e adversários rejeitam falas de Trump

Arábia Saudita manifesta apoio "inabalável" a palestinos em Gaza e Hamas afirma que as declarações são "receita para o caos". Leia no Poder360

Aliados e adversários reagiram à proposta do presidente norte-americano, Donald Trump, que sugere que os Estados Unidos “assumam” a Faixa de Gaza e que os palestinos saiam do território. As declarações foram dadas durante e depois de conversa do republicano com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Houve reações no Oriente Médio, com o chanceler do Egito instando os 2 milhões de palestinos a permanecerem em seu território durante reunião com ministro da ANP (Autoridade Nacional da Palestina). Tradicional aliada do governo dos EUA na região, a Arábia Saudita também declarou apoio “inabalável” ao povo palestino.

Outros países, como Austrália e Nova Zelândia, rejeitaram as soluções de Trump, que incluem a possibilidade de enviar tropas americanas para garantir a posse da região e transformar Gaza na “Riviera do Oriente Médio”.

O porta-voz do Hamas Izzat Al-Rishq deu declarações destacando a “profunda ignorância” de Trump sobre a complexidade da região.

Gaza não é uma terra comum em que qualquer um pode decidir controlar. Em vez disso, Gaza é parte da nossa terra Palestina ocupada. Qualquer solução deve ser baseada em um fim na ocupação e na garantia dos direitos do povo palestino, não em uma mentalidade de comerciante imobiliário. Uma mentalidade do poder e da dominação“, afirmou segundo a CNN.

Outro porta-voz, Sami Abu Zuhri, disse que as falas do presidente americano são uma “receita para criar caos e tensão na região” e que o povo na Faixa de Gaza “não permitirá que esses planos sejam aprovados“.

O ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, também fez críticas e reforçou a importância da permanência dos 2 milhões de palestinos em sua terra.

As críticas foram feitas pelo chanceler em conversa com o premiê da Autoridade Nacional Palestina, Mojammad Mostafa, nesta 4ª feira (5.fev.2025). Os líderes encontraram-se horas depois das declarações de Trump.

Apesar da situação humanitária em Gaza, o encontro reforçou a importância em avançar com programas e projetos de reconstrução, retirando os escombros e fornecendo ajuda humanitária, sem que os palestinos deixem a Faixa de Gaza, principalmente dada à sua ligação com a terra e a sua recusa em deixá-la“, disse o Ministério em comunicado.

Nas falas, Trump afirmou esperar que o Egito e a Jordânia recebam os palestinos, que seriam forçados a sair do território.

Segundo informações da BBC, essa proposta não é nova. Trump já havia levantado a hipótese de retirar os palestinos da Faixa de Gaza durante conversas com jornalistas a bordo do Air Force One em janeiro deste ano.

Na época, autoridades do Egito e da Jordânia rejeitaram a proposta. Além disso, fizeram um comunicado conjunto com várias lideranças de países do Oriente Médio e de organizações alertando que a ação poderia “ameaçar a estabilidade da região, expandindo o risco do conflito e prejudicando perspectivas para a paz e para a coexistência entre os povos da região“.

Após as declarações, a Arábia Saudita, tradicional aliado do governo norte-americano no Oriente Médio, reafirmou seu apoio “inabalável” à criação de um Estado palestino, reiterando sua oposição à normalização das relações com Israel sem garantias para os palestinos.

A Arábia Saudita continuará os seus incansáveis esforços para estabelecer um Estado palestino independente com Jerusalém Oriental como sua capital, e não estabelecerá relações diplomáticas com Israel sem isso“, afirmou o comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores do país em seu perfil do X.

Sem mencionar as falas de Trump diretamente, o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, disse nesta 4ª feira (5.fev) que seu governo apoia uma solução de 2 Estados no Oriente Médio.

“A posição da Austrália nesta manhã é a mesma que a do ano passado. O governo australiano apoia, numa base bipartidária, uma solução de 2 Estados”, afirmou Albanese em fala a jornalistas no Parlamento.

Albanese, primeiro-ministro de um dos principais aliados dos EUA na região da Ásia-Pacífico, recusou-se a comentar as falas de Trump diretamente. Questionado por um dos repórteres, declarou que não é seu papel “fazer comentários diários sobre as falas do presidente dos EUA” e que seu trabalho é “apoiar a posição australiana“.

A decisão do governo australiano foi semelhante a do Ministério das Relações Exteriores da Nova Zelândia. Em comunicado, o país reafirmou seu “posicionamento de longa dada em favor de uma solução de 2 Estados”, recusando-se a comentar “cada proposta” do presidente americano.

Também o embaixador palestino para a ONU, Riyad Mansour, disse que o povo de Gaza quer retornar às suas casas e reconstruí-las, “porque este é o lugar ao qual o povo pertence e onde ama viver“, declarou.

A declaração de Trump marca uma ruptura significativa com a política externa norte-americana tradicional e levanta questões sobre as consequências de tal ação.

Outras autoridades árabes ouvidas pela CNN expressaram surpresa e preocupação com a proposta, destacando o risco que ela representa para o acordo de cessar-fogo em Gaza.

Um diplomata anônimo descreveu a ideia como “áspera” e difícil de compreender, enfatizando as implicações para a dignidade e as vidas do povo palestino.

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Por: Poder360

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