EUA e Rússia vivem impasse nuclear desde o início da guerra na Ucrânia
Com o tratado New START suspenso e a guerra na Ucrânia em curso, cresce o temor de uma nova corrida armamentista entre EUA e Rússia
, o mundo viu renascer temores que pareciam sepultados com o fim da Guerra Fria. O diálogo entre as duas maiores potências nucleares do planeta — Estados Unidos e Rússia — foi congelado, e o cenário atual é de colapso nos principais acordos de controle de armas.
No centro dessa crise, , último pacto vigente de limitação de arsenais estratégicos, cuja validade expira em 2026 e que, até agora, não tem substituto à vista.
Além da escalada entre Washington e Moscou, a guerra reacendeu um debate delicado na própria Ucrânia. O país, que renunciou voluntariamente ao terceiro maior arsenal nuclear do mundo em 1994, avalia hoje se foi um erro confiar nas garantias de segurança prometidas no Memorando de Budapeste — e descumpridas na prática.
Entenda o tratado New START
Assinado em 2010, entre EUA e Rússia, durante os governos de Barack Obama e Dmitry Medvedev.
Limita o número de ogivas nucleares estratégicas a 1.550 por país.
Restringe o número de e estabelece inspeções recíprocas para garantir a transparência.
Suspenso unilateralmente pela Rússia em 2023, com alegações de que as inspeções poderiam favorecer espionagem militar.
Expira em 2026, sem, até agora, sinais de renovação ou novo tratado substituto.
Moscou quer multilateralismo nos acordos
O fim do tratado New START não deixou somente um vazio diplomático entre Washington e Moscou, como também gerou uma nova proposta russa: internacionalizar os acordos de controle nuclear. O passou a defender que futuras negociações incluam não só os Estados Unidos e a Rússia, mas outras potências nucleares como China, França e Reino Unido.
Na última terça-feira (8/4), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que para existir chances de negociações sobre controle de armas nucleares com os EUA, outras potências devem ser consideradas. , afirmou.
Para o governo russo, esse movimento é justificado pela “nova ordem multipolar” e pelo crescimento dos arsenais de países fora do eixo tradicional da Guerra Fria. Na prática, no entanto, a proposta é vista por analistas como uma forma de adiar o foco sobre a responsabilidade direta de Moscou e dos EUA, que ainda detêm mais de 90% das ogivas nucleares do planeta.
Especialistas alertam para uma reação “preocupante” dos EUA em meio a possíveis diálogos sobre o armamento nuclear, devido a sua posição “altamente instável”. Com isso, a política norte-americana deixou de ser previsível.
“Os movimentos de Trump na arena internacional são parcialmente erráticos, imprevisíveis, aumenta as incertezas financeiras, políticas e militares e reduzem o diálogo. Atiram gasolina no mundo e criam faíscas”, afirma o professor Carlos Eduardo Martins, do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ.
Dilema ucraniano
Mesmo que recente, o debate já acendeu alertas no Ocidente. Uma teria profundas implicações para a segurança europeia e global — e, para muitos analistas, colocaria em xeque décadas de esforços por não proliferação.
“O cenário atual reflete uma reconfiguração das relações internacionais que dificulta avanços significativos no curto prazo”, afirma Menon. “Enquanto a guerra persistir, a priorização de interesses estratégicos divergentes continuará impedindo avanços significativos.”
Em entrevistas recentes, afirmou que a ausência de garantias reais pode forçar Kiev a rever sua posição. O gesto é mais simbólico do que prático — o país não possui tecnologia nem condições materiais para produzir armas nucleares imediatamente. Ainda assim, a retórica foi suficiente para alarmar diplomatas ocidentais.
“A retórica de uso de armas nucleares contra ataques convencionais que ameacem a Rússia e seus aliados está de pé desde 2000 e somente foi reforçada em versões posteriores. Não é a retórica que tem mudado, e sim o nível de ameaça no Leste Europeu e no mundo”, contextualiza Martins.
Na visão de especialistas, a retomada de negociações nucleares durante o conflito na Ucrânia é improvável. “A guerra criou um ambiente de desconfiança e hostilidade que dificulta qualquer forma de diálogo construtivo. Somente após a resolução do conflito ou uma mudança significativa nas lideranças políticas é que se poderá considerar a retomada de negociações substantivas sobre controle de armas nucleares”, afirma o advogado internacional, Julian Henrique Dias.
Um relógio sem ponteiros
Próximo da expiração do New START, o mundo caminha às cegas em um terreno minado por desconfianças, discursos bélicos e ausência de diálogo. A guerra na Ucrânia mostrou as fragilidades de um sistema internacional que, , se manteve sobre um fio tênue de confiança entre potências armadas exageradamente.
A suspensão de acordos, a retórica mais agressiva e a paralisia diplomática elevam o risco global não só de um novo ciclo armamentista, mas de erros de cálculo com consequências catastróficas. Enquanto isso, países como a Ucrânia, outrora incentivados a renunciar seus arsenais, agora repensam o valor da dissuasão nuclear em um mundo sem garantias.
Por: Metrópoles