• Terça-feira, 29 de abril de 2025

Estudo desvenda detalhes da genética do cavalo Quarto de Milha

Pesquisa traz descobertas importantes sobre como o componente genético influencia o desempenho de cavalos da raça Quarto de Milha no Brasil

Pesquisa traz descobertas importantes sobre como o componente genético influencia o desempenho de cavalos da raça Quarto de Milha no Brasil Pesquisadores brasileiros publicaram um estudo sobre melhoramento genético de equinos. A pesquisa revela descobertas relevantes sobre a influência do componente genético no desempenho de cavalos da raça Quarto de Milha em provas de três tambores no Brasil. O artigo, divulgado no renomado Journal of Animal Breeding and Genetics, foi desenvolvido pelos pesquisadores Mário Luiz Santana, Thiago Garcia Botelho Franco e Annaiza Braga Bignardi. A revista é uma referência indispensável para cientistas, docentes e profissionais da área de genética e melhoramento animal. A Associação Brasileira de Zootecnistas ( ABZ) entrevistou um dos autores do estudo, o zootecnista e professor Mário Luiz Santana Júnior. Ele é pós-doutorado em Zootecnia, com ênfase em Melhoramento Genético Animal, pela Universidade de São Paulo (FZEA-USP).
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  • A pesquisa deu ênfase para os animais dedicados a prática esportiva dos três tambores, A prova exige velocidade, agilidade e precisão. Durante a competição, cavaleiros e cavalos percorrem um circuito em formato de trevo ao redor de três tambores, buscando completar o percurso no menor tempo possível. Derrubar um tambor acarreta uma penalidade de cinco segundos, o que pode ser decisivo para a classificação. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});Zootecnista e professor Mário Luiz Santana Júnior
    Zootecnista e professor Mário Luiz Santana Júnior
    A pesquisa constatou que o desempenho dos cavalos na modalidade tem uma base herdável, ou seja, o componente genético representa uma porção importante das diferenças no tempo de prova entre os animais. A herdabilidade da característica tempo para completar o percurso dos três tambores foi entre 0,15 e 0,24. Isso significa que a seleção de animais com melhor desempenho pode levar a melhorias significativas na velocidade e eficiência dos cavalos ao longo das gerações. “ Essa descoberta é fundamental para criadores e treinadores que desejam aprimorar geneticamente seus plantéis possam obter melhores resultados em competições. Além disso, identificamos que a idade tem um impacto expressivo no desempenho dos cavalos. Animais mais jovens geralmente apresentam tempos mais altos, com o desempenho melhorando progressivamente até atingir seu auge aos 6 anos, momento a partir do qual tende a se manter estável” – revelou o pesquisador. Esse achado reforça a importância de considerar a idade ao avaliar o potencial esportivo dos cavalos Quarto de Milha e ao definir estratégias de treinamento. As correlações genéticas entre os tempos de prova em diferentes idades foram, em geral, fortes (acima de 0,8). A menor correlação genética média observada foi de 0,65, registrada entre os tempos de prova aos 36 e 144 meses de idade. Segundo o professor, isso indica que os criadores podem antecipar a seleção dos cavalos com melhor mérito genético em idade jovem, pois deve resultar em progresso genético também em idades mais avançadas. Outro fator relevante identificado foi a influência do sexo no desempenho dos cavalos. “ Nossos resultados mostraram que as fêmeas da raça Quarto de Milha, em média, apresentaram tempos melhores do que os machos. Essa diferença pode estar relacionada a, por exemplo, fatores físicos e fisiológicos. Também observamos que fatores ambientais permanentes, como treinamento e manejo nutricional, desempenham um papel essencial no desempenho dos Quarto de Milha ao longo do tempo” – apresentou Mário. Essas revelações indicam que, além do componente genético, aspectos externos influenciam o desempenho e podem ser otimizados para melhorar os resultados. Cavalos expostos a treinamentos mais eficientes e com maior experiência em competições devem apresentar rendimento superior. Outro achado importante foi que o desempenho dos cavalos Quarto de Milha em provas de três tambores vem melhorando ao longo dos anos. A análise mostrou uma tendência de tempos de prova observados cada vez menores. Entretanto, foi constatado que do ponto de vista genético, não houve progresso significativo ao longo dos anos. Portanto, a evolução no desempenho dos cavalos Quarto de Milha pode ser atribuída principalmente a fatores não genéticos como melhorias na nutrição, manejo, treinamento e saúde. Assim, há amplo espaço para a seleção e melhoramento genético. Perguntado sobre quais são os principais desafios atuais do melhoramento genético de equinos, Mário destacou a disponibilidade, coleta e estruturação de dados de qualidade para a implementação de programas de avaliação genética e seleção para desempenho esportivo. “Atualmente, muitas modalidades equestres, como a prova de três tambores, carecem de bancos de dados organizados e de longo prazo contendo informações detalhadas sobre pedigree dos animais, genótipos, desempenho e fatores ambientais. A ausência e desorganização dessas informações dificulta a aplicação de metodologias avançadas para estimar parâmetros genéticos e prever o mérito genético dos animais” – salientou o pesquisador. Além disso, diferentemente de espécies de produção, como bovinos, suínos e aves, onde existem programas consolidados de melhoramento genético, na equinocultura esportiva ainda há resistência à adoção de ferramentas científicas na seleção de reprodutores. Muitas decisões de acasalamento são baseadas apenas em critérios fenotípicos ou em linhagens tradicionais, sem considerar o mérito genético dos animais. A conscientização e a capacitação dos criadores e suas Associações de raça são essenciais para mudar esse cenário. A implementação de avaliações genéticas oficiais, aliada à disseminação do conhecimento sobre suas vantagens, pode contribuir para a adoção de estratégias mais eficientes e sustentáveis no melhoramento genético dos equinos. Por fim, são também necessários investimentos contínuos em pesquisa e inovação na área, garantindo que a seleção genética seja cada vez mais efetiva e alinhada às demandas do setor, expôs Mário. Melhoramento genético de equinos versus bovinos Enquanto o melhoramento genético de bovinos tem sido focado majoritariamente em características produtivas e econômicas (como peso, conversão alimentar e produção de leite), o melhoramento genético de equinos está mais voltado para atributos relacionados ao desempenho atlético, aparência, conformação morfológica e aptidão funcional. Características como velocidade, resistência, temperamento e biomecânica são essenciais na seleção de cavalos de esporte e trabalho. Em bovinos, a adoção de biotécnicas reprodutivas como inseminação artificial e a transferência de embriões são amplamente difundidas, permitindo a avaliação precoce de reprodutores e a rápida disseminação do melhoramento genético. Já na equinocultura, o uso dessas biotecnologias é mais restrito devido a regulamentos específicos de associações de raças e à menor taxa de adoção. Além disso, a coleta sistemática e estruturada de dados de desempenho em equinos é mais limitada do que em bovinos, dificultando análises genéticas robustas. O setor de bovinos conta com programas bem estruturados de avaliação genética, muitas vezes conduzidos por associações de criadores ou instituições de pesquisa. Já no caso dos equinos, a implementação de avaliações genéticas oficiais é inexistente no Brasil. O pesquisador também destacou o papel do zootecnista para o progresso do melhoramento genético animal, não só de bovinos ou equinos. Ele acredita que a maior dificuldade para os zootecnistas que desejam atuar no melhoramento genético de equinos é a conscientização de criadores e Associações sobre os benefícios dessa prática, permitindo que alcancem seus objetivos de forma mais eficiente.
    Por: Redação

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