• Domingo, 9 de novembro de 2025

Endividamento subiu 18,6 pontos percentuais em 10 anos

Indicador da Confederação Nacional do Comércio foi de 57,5% em janeiro de 2015 para 76,1% no mesmo mês de 2025.

A proporção de endividados subiu de 57,5% em janeiro de 2015 para 76,1% no mesmo mês de 2025 –alta de 18,6 pontos percentuais no período. Os dados são da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Ao comparar os 57,5% de janeiro de 2015 com os 79,5% de outubro de 2025, o aumento foi de 22 pontos percentuais. O percentual de outubro foi recorde pelo 3º mês consecutivo.

A Peic mede o nível de endividamento com cartão de crédito, cheque especial, empréstimo consignado, prestações da casa própria e outras modalidades. Estar endividado não significa, necessariamente, estar inadimplente; indica compromissos financeiros a pagar.

A proporção de famílias com parcelas em atraso também registrou um recorde em outubro, de 30,5%.

O economista-chefe da CNC, Fábio Bentes, disse em entrevista ao Poder360 que a tendência é que o endividamento e a inadimplência permaneçam altos até o final do ano.

“Mesmo que ocorra uma redução da taxa básica de juros, leva um tempo entre a decisão do Copom [Comitê de Política Monetária] e o comportamento das taxas de juros ao consumidor na ponta, que é o que faz diretamente o endividamento e a inadimplência crescerem”, afirmou.

Segundo o economista, a queda deve ficar para 2026 porque “se espera uma redução da taxa de juros no 1º trimestre”. Atualmente, a taxa básica de juros (a Selic) está em 15% ao ano. Quem decide esse percentual é o Copom.

Bentes disse que seria possível reduzir o endividamento ao nível observado em janeiro de 2015, de 57,5%, mas avaliou que isso é improvável no curto prazo. Segundo ele, o aumento de cerca de 20 pontos percentuais em 10 anos foi gradual.

“Uma das razões que torna difícil alcançar novamente esse nível de endividamento abaixo de 60% é que há um crescimento anual do mercado de crédito no Brasil. As pessoas cada vez mais se penduram no crédito”, disse.

O Banco Central mostrou que o estoque de crédito subiu mais de 10% no acumulado de 12 meses até setembro. 

Segundo Bentes, porém, é importante “desmistificar” esse tema porque recorrer ao crédito não é necessariamente ruim. O economista disse que, por exemplo, para comprar um carro ou um eletrodoméstico, a maior parte da população não tem condições de adquirir esses bens sem financiamento.

“O que nos preocupa não é o crescimento do endividamento, embora 79,5% seja muita coisa. O que nos preocupa é o desequilíbrio entre a expansão do endividamento e a capacidade de honrar esses compromissos. E chama muito a atenção o nosso cenário atual. Com uma Selic de 7% ou 8%, seguramente, não estaríamos vendo esse nível de endividamento e de inadimplência que estamos vendo atualmente”, declarou. 

Segundo Bentes, porém, não se deve “jogar a culpa” no Banco Central: “O Copom acabou absorvendo uma obrigação e uma responsabilidade adicional que é a de tentar reequilibrar a economia afetada pelos desequilíbrios fiscais. O cerne do problema é fiscal. O Estado gastando como gasta vai demandar do Banco Central um esforço cada vez maior”.

De acordo com o economista, o que seria necessário para corrigir esse problema seria, por exemplo, realizar uma reforma administrativa. “Fala-se superficialmente na reforma administrativa atualmente, quando na verdade deveria ter sido colocada sobre a mesa lá atrás, antes da reforma tributária”, disse.

Por causa da alta do endividamento e da inadimplência, o economista declarou que o varejo deve colher resultados “medíocres” tanto na Black Friday quanto no Natal porque “não há mais espaço no orçamento familiar”.

“São 79,5% das famílias endividadas e 30,5% têm dívidas em atraso, ou seja, falta espaço no orçamento familiar para novas rodadas de consumo”, declarou Bentes.

Além disso, segundo o economista, o impacto nas vendas da Black Friday e do Natal também varia por setor. Há segmentos que precisam do crédito, como eletroeletrônicos, eletrodomésticos e informática, que tendem a observar queda no volume de vendas. Por outro lado, segmentos menos dependentes de crédito, como alimentação e cosméticos, podem observar aumento modesto.

“Quando imaginamos essas datas comemorativas importantíssimas para o comércio, devemos ter em média um crescimento baixo, mas essa média é formada por segmentos que devem ter queda nas vendas e outros que devem ter algum aumento”, afirmou Bentes.

Por: Poder360

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