• Terça-feira, 3 de junho de 2025

Do pasto à proteção: como o gado virou aliado no combate a queimadas

Pesquisas mostram que o pastoreio de gado reduz drasticamente a quantidade de vegetação seca nas pastagens, o que pode diminuir em até 82% a probabilidade de queimadas em regiões de alto risco.

Pesquisas, nacionais e internacionais, mostram que o pastoreio de gado reduz drasticamente a quantidade de vegetação seca nas pastagens, o que pode diminuir em até 82% a probabilidade de queimadas em regiões de alto risco. Pode parecer inusitado, mas sim, os rebanhos bovinos têm papel estratégico na redução do risco de incêndios florestais. Por meio do pastoreio, os animais consomem vegetação seca e inflamável, pisoteiam o solo e interrompem a continuidade da cobertura vegetal, transformando-se em verdadeiras ferramentas de manejo ambiental. O conceito, que vem ganhando força especialmente em regiões vulneráveis como a Califórnia, já é apoiado por instituições como o Rausser College of Natural Resources da Universidade da Califórnia (UC Berkeley), os USDA Climate Hubs e a Universidade de Toronto.
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    Diversas ações dos bovinos no ambiente contribuem diretamente para reduzir a propagação do fogo:window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({mode:'thumbnails-mid', container:'taboola-mid-article-thumbnails', placement:'Mid Article Thumbnails', target_type: 'mix'});
  • Redução de combustíveis finos:
    O gado se alimenta de gramíneas secas e arbustos pequenos, que são os principais responsáveis pela rápida propagação de incêndios. Com menos material combustível no solo, o risco de ignição e intensidade das chamas diminui.
  • Controle da vegetação invasora:
    O pastoreio dificulta a disseminação de arbustos e árvores que tomam áreas de pastagem e aumentam a carga combustível, funcionando como uma espécie de “poda natural”.
  • Criação de descontinuidades vegetativas:
    Ao andar e se alimentar, os animais criam manchas de solo exposto ou vegetação mais baixa e verde, o que interrompe o “tapete” de material inflamável.
  • Estímulo ao crescimento verde:
    Após o pastoreio, novas gramíneas nascem mais verdes e úmidas, queimam lentamente e ajudam a manter o equilíbrio da área.
  • Compactação e mistura do solo:
    O pisoteio natural dos bovinos ajuda a misturar resíduos vegetais ao solo, dificultando ainda mais que esses restos inflamem.
  • Após os grandes incêndios florestais de 2017 na Califórnia, uma equipe liderada pela pesquisadora Lynn Huntsinger e com a colaboração da cientista Kate M. Siegel realizou uma análise aprofundada sobre a influência do pastoreio na ocorrência de queimadas. Foram comparadas áreas pastoreadas com áreas não pastoreadas, combinando dados de cobertura do solo, histórico de incêndios e intensidade da atividade de gado. O resultado impressiona:
  • Redução de 55% na probabilidade de incêndios na região de North Bay
  • Queda de 50% na Costa Central, entre Los Angeles e São Francisco
  • Até 82% de redução nos condados de Napa e Sonoma, segundo artigo publicado na revista Ecology and Society
  • A conclusão da equipe foi clara: sem o pastoreio, haveria “centenas a milhares de libras adicionais de combustível seco por acre”, aumentando o potencial destrutivo dos incêndios. Apesar dos resultados animadores, especialistas alertam que o uso de gado não deve ser visto como uma solução única. “Vejo isso como uma peça de um quebra-cabeça complexo quando se trata de mitigação e adaptação a incêndios florestais”, pontua Siegel. Outras ações complementares incluem:
  • Planejamento urbano eficiente
  • Adaptação às mudanças climáticas
  • Uso controlado do fogo como ferramenta de manejo
  • Educação e políticas públicas de prevenção
  • Os dados mostram que, com manejo adequado, o gado pode ser transformado de produtor de metano em protetor ambiental. Além de fornecer carne e leite, as vacas também podem oferecer um serviço ecossistêmico de valor inestimável: proteger nossas florestas contra o fogo. Como disse a equipe da UC Berkeley, a chave está em integrar ciência, tradição e gestão inteligente. No fim das contas, pastar é resistir. E no Brasil, o “Boi Bombeiro” está salvando o Pantanal O termo “boi bombeiro” surgiu a partir de estudos no Pantanal conduzidos pelo agrônomo Arnildo Pott, que observou como o gado, ao pastar vegetação seca, ajudava a reduzir o material inflamável no solo, dificultando a propagação de incêndios. A ideia é que o pastoreio funcione como uma ferramenta preventiva, diminuindo a intensidade e velocidade do fogo. No entanto, a proposta gera controvérsias: ambientalistas alertam que o excesso de gado pode degradar o solo e comprometer a biodiversidade, além de ser uma solução limitada frente aos incêndios de grande escala. A prática do “boi bombeiro” exige um manejo adequado do gado, com o objetivo de garantir que a pastagem seja utilizada de forma sustentável e que não haja um desequilíbrio na vegetação. Ainda assim, o debate destaca a possível contribuição da pecuária para o manejo sustentável de pastagens, aliando produção e conservação ambiental. Como exemplo, o Mato Grosso incluiu a prática do “boi bombeiro” em uma lei sobre áreas de proteção ambiental, o que demonstra a importância que a tese tem para o governo estadual na gestão de áreas rurais. 
    Por: Redação

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