• Sábado, 21 de dezembro de 2024

Diplomatas americanos se encontram com grupo rebelde da Síria que EUA consideram terrorista

"Eles se encontraram com representantes da HTS para discutir os princípios de transição endossados pelos EUA", disse um porta-voz do Departamento de Estado. "Eles também discutiram eventos regionais e a necessidade da luta contra o Estado Islâmico", acrescentou, em referência ao outrora aliado da HTS.

Diplomatas dos Estados Unidos se encontraram, nesta sexta-feira (20), com representantes da HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe) na Síria. Classificada como terrorista por Washington, a organização foi responsável por liderar a ofensiva que derrubou o regime de Bashar al-Assad, há quase duas semanas.

"Eles se encontraram com representantes da HTS para discutir os princípios de transição endossados pelos EUA", disse um porta-voz do Departamento de Estado. "Eles também discutiram eventos regionais e a necessidade da luta contra o Estado Islâmico", acrescentou, em referência ao outrora aliado da HTS.

Os princípios citados pelo porta-voz são uma referência ao conjunto de valores que os EUA, a Liga Árabe e a Turquia concordaram em apoiar ao longo da transição após uma reunião em Aqaba, na Jordânia, dias após a queda de Assad. Dentre os princípios há um processo inclusivo de governança e o respeito pelos direitos das minorias.

Ainda não se sabem detalhes da reunião, mas, do lado do grupo, um funcionário do novo governo afirmou à agência de notícias AFP que a reunião com Ahmed al-Sharaa, chefe da HTS que antes se identificava como Abu Mohammed al-Jolani, foi positiva.

Trata-se da primeira delegação dos EUA a entrar em Damasco desde o colapso da ditadura. A visita representa uma mudança em relação à abordagem americana na nação durante os últimos anos, reduzida a intervenções militares. A gestão do presidente Joe Biden, no entanto, tem demonstrado cautela em relação ao nível de envolvimento com os novos líderes.

Um comunicado do Departamento de Estado afirmou que os diplomatas conversariam com "membros da sociedade civil, ativistas, membros de diferentes comunidades e outras vozes sírias" para saber a visão desses grupos sobre o futuro do país e entender "como os EUA podem ajudar a apoiá-los".

Os funcionários são Barbara Leaf, secretária assistente de Estado para Assuntos do Oriente Médio; Roger D. Carstens, enviado presidencial especial para assuntos de reféns; e Daniel Rubinstein, o novo conselheiro especial sobre a Síria.

"Nós estabelecemos juntos alguns princípios para o que esperamos no futuro na Síria, se o que surgir na Síria quiser ter o reconhecimento, o apoio de que vai precisar da comunidade internacional", disse Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, em uma palestra pública no Council on Foreign Relations, em Nova York, na quarta-feira (18). "Acho que foi um exercício muito útil estabelecer essas expectativas."

O líder da HTS disse em entrevistas que seu grupo planeja ter um processo inclusivo e não busca prejudicar não muçulmanos na Síria. O grupo é conservador e segue os princípios do Islã político, mas rompeu com a al-Qaeda e o grupo Estado Islâmico anos atrás.

Um dos principais motivos para os EUA designarem a organização como terrorista foi o uso de táticas como a explosão de carros-bomba pelo grupo precursor da HTS, a Frente Nusra. Robert Ford, embaixador dos EUA na Síria na época, pressionou pela classificação.

Neste mês, porém, Ford disse em uma entrevista ao jornal americano The New York Times que a gestão Biden deveria considerar retirar a HTS da lista. Enquanto governava a província de Idlib nos últimos anos, afirmou, o grupo mostrou tolerância com os cristãos e permitiu que reconstruíssem igrejas.

A delegação também trabalhou para obter novas informações sobre o jornalista americano Austin Tice, que foi feito prisioneiro durante uma viagem de reportagem à Síria em 2012, e outros cidadãos americanos desaparecidos sob Assad.

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